O dia 14 de junho de 2016 ficou conhecido como o Massacre de Caarapó em Mato Grosso do Sul, quando a retomada Kunumi Poty Verá foi brutalmente atacada por milícias de fazendeiros da região em retaliação ao avanço das retomadas das terras originárias dos Guarani Kaiowá, resultando no assassinato do agente de saúde Clodiodi de Souza de 27 anos e em dezenas de pessoas – como professores, estudantes, famílias – gravemente feridas, incluindo uma criança de dez anos que foi atingida na barriga, importante mencionar também, que durante o massacre os fazendeiros tentaram retirar a força o corpo de Clodiodi com uma pá carregadeira. Dos fazendeiros, nenhum se feriu e todos permanecem livres. Entre indígenas, dois foram atingidos pelas balas dos fazendeiros e ainda as carregam no corpo: um deles no abdômen, outro na capa do coração.
O tekoha recuperado se chamava Toro Paso, e foi nomeado Kunumi Poty Verá em homenagem ao nome indígena de Clodiodi. O território faz parte da Terra Indígena denominada Dourados Amambaipeguá I, localizada entre os municípios de Caarapó, Laguna Caarapã e Amambai com 54.590 hectares. Após o massacre, a resistência Guarani e Kaiowa avançou em mais 4 retomadas de terra, demonstrando a digna e justa rebeldia dos guerreiros e guerreiras Guarani e Kaiowá, que lutam pela defesa das terras originárias historicamente usurpadas pela expansão do agronegócio e da brutalidade e terrorismo do Estado. Além disso, desde 2016 retomadas da região sofreram inúmeras tentativas de despejo e violência dos aparelhos de repressão do Estado como a polícia, paramilitares, jagunços e seguranças privados, a exemplo da prisão de Ambrósio Alcebiades. Os fazendeiros envolvidos no ataque, assassinos de Clodiodi, foram liberados da prisão alguns meses depois da detenção, ao passo que o pai de Clodiodi acabou por ser encarcerado em dezembro de 2018.
Desde 2017, o Comitê de Solidariedade aos Povos Indígenas junto às comunidades recuperam a memória de luta de Kunumi Poty Verá e a memória do massacre, conclamando ao povo que grite: CLODIODI TOMBOU, MUITOS SE LEVANTARÃO! Desde então, retomadas de diversos locais se levantaram em solidariedade, assim como diversas outras cidades do Brasil nas regiões de Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná. Neste ano, através da FOB, chamamos a todos os núcleos e comitês de propaganda a realizarem ações locais relembrando o massacre e a resistência de Kunumi Poty Verá, não permitindo que a vida de Clodiodi caia em esquecimento. Este ano, ainda, existe outro importante acontecimento: a prisão de Leonardo de Souza.
O ESTADO MATA O FILHO E PRENDE O PAI
No dia 13/12/2018, Leonardo de Souza, pai de Clodiodi, foi preso pelo Estado a partir de ação truculenta da Força Nacional que adentrou a aldeia Tey’i Kue, em Caarapó e logo após invadiu a casa da família de Leonardo. Do evento, a Força Nacional espancou familiares, atacou com gás de pimenta crianças da família, agrediu o irmão de Clodiodi (que possui deficiência mental) e matou um cachorro. Leonardo sofre de diabetes e pressão alta e permanece encarcerado na Penitenciária Estadual de Dourados sem acesso a medicamentos e sem a visita de seus familiares.
O Estado mata o filho, prende o pai! Não podemos nos calar frente ao genocídio promovido pelas milícias de fazendeiros que, em última instância, hoje estão na gestão do Estado brasileiro no seu histórico conluio com a burguesia agroexportadora. Por isso, convocamos a todos e todas que lutam a se somarem neste dia de memória e luta para demonstrar que nossa arma é a solidariedade, construída no combate cotidiano contra o capital e o Estado nas trincheiras da resistência com os de baixo a organizarem o ato nacional de luta e solidariedade com a memória do guerreiro Clodiodi, Leonardo e todas as pessoas afetadas pelo Massacre de Caarapó.
PELA (AUTO)DEMARCAÇÃO DE TERRAS DOS POVOS ORIGINÁRIOS!
PELA MEMÓRIA DE TODOS E TODAS AS GUERREIRAS INDÍGENAS!
POR CLODIODI, LEONARDO E A RETOMADA KUNUMI POTY VERÁ:
AVANÇAR AS RETOMADAS, DESTRUIR O LATIFUNDIO!
TERRA, JUSTIÇA E LIBERDADE! FORA RURALISTAS DO CAMPO E DA CIDADE!