O 20 de Novembro é o para comemora a insurgência e a rebelião do povo negro. A data é referência ao dia da execução de Zumbi dos Palmares, o último líder do maior quilombo da história do Brasil e, consequentemente, maior símbolo da luta de negros e negras contra o racismo, a exploração e o genocídio.
Por isso, é fundamental resgatar essa memória de luta e resistência para animar as atuais lutas pela emancipação do povo negro.
Palmares e a insurgência negra no Brasil.
Muito diferente do que se costuma afirmar, o povo negro escravizado pelo colonizador europeu no Brasil, portugueses, holandeses e franceses, mas predominantemente portugueses, lutou intensamente contra o trabalho em cativeiro, contra as torturas, os estupros e contra o genocídio. As rebeliões negras, a capoeira, as greves negras, os suicídios, as sabotagens, os assassinatos dos senhores e autoridades, a ajuda mútua para comprar a alforria e a organização dos quilombos, podem ser destacados com as experiências de resistência negra.
Os quilombos e os quilombolas, se espalharam por todo o território colonizado pelos europeus. Nas regiões onde predominou a colonização espanhola, as comunidades organizadas pelos negros e negras insurgentes recebem o nome de “cimarrones”. Mas de todos os quilombos o mais conhecido, sem dúvidas, é o de Palmares, porque foi o maior, o mais populoso e o que durou mais tempo.
O Quilombo dos Palmares foi construído pelos africanos e africanas que se insurgiram contra a escravidão imposta pelos colonizadores europeus, na Capitania de Pernambuco, hoje estado de Alagoas. Localizado na Serra da Barriga, seu primeiro líder foi Ganga Zumba, reuniu entre 20 e 30 mil pessoas, incluindo a presença indígena, e resistiu cerca de cem anos, mais ou menos entre 1600 e 1710.
Ganga Zumba decidiu assinar um acordo de paz com os europeus que determinava a soltura dos palmarinos prisioneiros, a liberdade dos nascidos em Palmares, em contra partida, os palmarinos deveriam entregar escravos fugitivos que ali se abrigassem. Esse acordo deixou Zumbi e outros palmarinos revoltados, por isso, Ganga Zumba acabou executado e Zumbi, que já tinha provado sua destreza na arte da guerra, assumiu a liderança de Palmares.
Ao recusar o acordo de paz e organizar a defesa de Palmares contra as ofensivas dos colonizadores, Zumbi tornou-se uma das principais referências históricas e símbolo das lutas de todos os negros e negras do Brasil. Zumbi e os palmarinos perceberam que existiam dois mundos inconciliáveis, o mundo do colonizador, da escravidão e do genocídio contra negros e indígenas, e o mundo em construção pelas mãos do povo negro insurgente, o mundo dos quilombolas.
É importante destacar Dandara dos Palmares. Dandara é uma personagem lendária, não existem documentos históricos que comprovam sua existência. A lenda conta que ela seria esposa de Zumbi, eximia capoeirista e liderava as brigadas de negras palmarinas. Dandara teria sido capturada pelos colonizadores em 1694 e, recusando-se a ser submetida ao cativeiro, tirou a própria vida pulando de uma pedreira ao abismo. Apesar do aspecto lendário, Dandara simboliza todas as guerreiras negras anomias que a historiografia racista apagou.
Zumbi organizou as defesas dos Palmares até 20 de novembro de 1695. A derradeira investida das tropas dos colonizadores contra os negros rebeldes durou 22 dias. Zumbi organizou a retirada, ficou escondido na mata até ser encontrado, executado e degolado. Sua cabeça foi levada e exposta na praça pública no Pátio do Carmo, na cidade do Recife.
O objetivo dos colonizadores era que a execução de Zumbi servisse de exemplo para desencorajar novas rebeliões e a organização de “novos Palmares”, entretanto, é impossível vencer a coragem a determinação de um povo que luta pela liberdade. Os quilombos e as demais formas de luta e resistência negra só se multiplicaram, sendo Zumbi, Dandara e todos os palmarinos elevados a condição de heróis e heroínas do povo negro.
A atualidade da resistência negra
Desde Palmares, não existe um só exemplo de resistência, revolta, insurgência, greves, rebeliões, guerrilhas no Brasil que não envolva o povo negro e suas lutas pela liberdade e pela igualdade, consequentemente, contra a exploração e opressão de tipo colonial e supremacista.
Passados 324 anos da execução de Zumbi, sua luta e a luta de Ganga Zumba, de Dandara, dos palmarinos, de todos os quilombolas e negros e negras rebeldes, continuam incrivelmente atuais. Assinatura da Lei Áurea em 1888 não significou o fim do racismo no Brasil. Na verdade, o racismo atualmente é estrutural, pois é, a distinção racial determina as relações sociais, políticas e econômicas, impondo ao povo negro e indígena posições inferiores na sociedade, péssimas condições de vida e emprego.
Os trabalhadores negros e negras recebem os menores salários, possuem as jornadas de trabalho mais exaustivas, exercem as profissões de menor prestígio social, possuem a menor expectativa de vida, são 75% das vítimas de homicídios, são 65% da população carcerária e são as maiores vítimas da violência promovida pelas forças policiais e militares.
O racismo estrutural tem suas origens históricas nos processos de colonização e escravidão. Mesmo depois do fim da escravidão formal, negros e negras continuaram submetidos à miséria, pobreza, violência, preconceito e discriminação. Por isso, podemos afirmar que a causa social do racismo estrutural é o sistema capitalista, porque a estrutura social que divide a sociedade em classes possui no racismo um elemento determinante, isto é, indígenas e negros são submetidos à exploração e a opressão de classe, ocupando a base da pirâmide de estratificação social.
Na realidade brasileira não se pode separar as desigualdades raciais das desigualdades de classe, pois a estrutura social capitalista reproduz as desigualdades raciais com o objetivo de aumentar os lucros e as riquezas das classes dominantes que, por sua vez, são supremacistas e continuam agindo como se ainda existisse a dominação colonial e escravocrata.
Por isso, as lutas de Zumbi, Ganga Zumba, Dandara, dos palmarinos, de todos os quilombolas e negros e negras rebeldes têm que continuar nos dias de hoje. O combate ao racismo estrutural e ao Estado supremacista é condição determinante para a destruição do sistema capitalista e a abolição das desigualdades raciais e de classe.
Uma das faces mais cruéis do racismo capitalista é o genocídio do povo negro, morador das favelas e periferias. Em 2017, segundo o Atlas da Violência no Brasil, foram assassinados 47.200 negros no Brasil. Segundo o Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a polícia matou 6.220 pessoas em 2018, sendo que 4.665, 75% das vítimas, eram pessoas negros.
Estamos diante de uma guerra de extermínio, as classes dominantes agem como colonizadores que promovem o genocídio sobre a população da área dominada, mas esse colonialismo é interno. Diante dessa verdadeira guerra de colonização interna temos que promover a autodefesa e convocar uma greve geral contra o genocídio do povo negro.
Temos que construir pela base uma Greve Geral contra o Genocídio do Povo Negro, adotando táticas insurrecionais, a ação direta, a sabotagem, a paralisação da produção, dos serviços e da circulação de mercadorias contra as políticas de extermínio promovidas pelas classes dominantes e pelo seu Estado terrorista e racista!
Zumbi vive! Dandara vive!
Pela construção de “novos Palmares”!