O provo africano arrancando de sua terra e trazido para as Américas para ser escravizado nas lavouras e privado do acesso a qualquer resultado do seu trabalho, ergueu com seu próprio sangue isto que é chamado de “ Terra adorada, ó pátria amada”.
Homens e mulheres do povo preto, bem como do povo indígena, foram condenados a servidão, pois para as pessoas escravizadas era delegado todo trabalho de plantação, de cultivo e extração do que era produzido, e também o trabalho na Casa Grande (lavar, passar, cozinhar, cuidar das crianças, cocheiro). Além da exaustiva e humilhante condição de sobrevivência, tão comum era as torturas, assassinatos e estupros de mulheres e homens escravizados pelos sinhô de engenho.
Os africanos, os indígenas e seus descendentes eram explicitamente reduzidos a condição de objeto, isto é, se quer eram considerados humanos, e sua função para o sinhô e a sinhá, os comerciantes e para realeza portuguesa era o lucro – seja na produção de recursos para exportação ou no próprio tráfico negreiro – e alinhado a isso, o escravismo se expressava também delineando as relações sexuais, pois tanto as mulheres e homens negros quanto o povo indígenas eram tidos como atrativos para satisfazer as vontades sexuais, especialmente fora do casamento, além de ser comum as promessas de alforria em troca de sexo.
Entretanto, a resistência desses povos frente as atrocidades é um feito que, mais do que lembrado, precisa ser retomado. Desde o início do processo de colonização no Brasil (século XVI), os negros escravizados se organizaram sem esperar a solidariedade ou permissão dos seus algozes, o que possibilitou desde as fugas das fazendas à construção de quilombos – isto é o povo preto, não apenas foi escravizado, mas ao se levantar e se organizar coletivamente, negava a condição de escravo, construindo junto aos seus e para os seus a libertação do cativeiro. O que demonstra que a escravidão não foi uma relação harmônica entre a Casa Grande e a Senzala – como é apontado ao se defender a “democracia racial”. Sobretudo, coloca o povo preto como autor de sua própria história, contrariando qualquer mito de passividade frente ao regime escravista. Mais ainda, evidencia o quão indispensável é para o processo de emancipação resgatar a autonomia, solidariedade e combatividade dos ancestrais – guerreiros e guerreiras do povo preto !
Embora tenha passado 128 anos da abolição da escravidão no Brasil, os sinhôs e sinhás de engenho continuam vivos, porém não da mesma forma que no período colonial e imperial. Isto leva a desafios tão grandes quanto dos nossos antepassados, pois além da condição de ser negro/negra em um país da periferia do capitalismo, precisamos nos reerguer enquanto povo preto – retomando e avançando na resistência e em organização para nossa emancipação.
Hoje, a sociedade em que vivemos é capitalista, sendo o negro e seus descendentes quem compõe, em sua maioria gritante, a classe trabalhadora, especialmente os setores mais precarizados tanto na cidade quanto no campo. As piores condições de trabalho são delegadas aos negros e negras mesmo quando se trabalha com carteira assinada, e caso não, a situação é ainda pior, pois é necessário fazer inúmeros bicos para complementar a renda e assim ter o que comer, sustentar a família. Os empregos terceirizados,especialmente em empresas de limpeza, tem sido imperativo quando se trata da mulher negra, fazendo parte do cotidiano dessas trabalhadoras as humilhações e excessivas cobranças por parte das patroas e patrões, o assédio sexual no ambiente de trabalho, o medo de ser demitida a qualquer momento, exaustivas jornadas de trabalho, salários atrasados, dentre outras situações.
E apesar da defesa de “ Igualdade Racial”, especialmente a partir da criação desse Ministério no governo PT,as condições subumanas em que o povo preto é submetido tem se intensificado cada vez mais, inclusive pela legitimação desse governo. Afinal, em 2008 foi implantado as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP’s) que diariamente tem matado jovens negros e demais moradores nas favelas do Rio de Janeiro, além de casos como a Chacina do Cabula em 2015 na Bahia onde 12 meninos negros foram mortos com 500 tiros pelas mãos dos guardiões do Estado, bem como todas as famílias despejadas de suas casas sobre forte aparato policial para que os empresários pudessem realizar suas construções para os megaeventos (Copa do Mundo, Olimpíadas).
Isto evidencia que há em curso como política de Estado o genocídio do povo negro. Incansavelmente, o Estado e seus lacaios encarceram, assassinam o povo preto – dilaceram famílias, além de privarem do acesso as condições básicas de sobrevivência ( moradia, alimentação, transporte, emprego, saneamento básico, saúde pública, etc).
Portanto, é urgente conhecermos nossa história enquanto povo que há mais de 500 anos vem lutando, para que assim, também se possa avançar em resistência e organização, defendendo não somente interesses locais e parciais, mas construindo e fortalecendo a ofensiva para mudanças sociais de interesses gerais, pois a classe trabalhadora, especialmente no Brasil, tem cor ! Isto aqui é uma luta de classe demarcada pela raça e povo preto é alvo dos ataques dos governos e da máquina de dilacerar corpos pretos e indígenas – o Estado.
Assim, a organização independente de partidos políticos , dos governos e do Estado é mais que uma forma de luta, é condição para sobrevivermos em meio a esse genocídio declarado. Sendo a partir da organização para ação e não apenas representação, de baixo para cima, em nossos locais de moradia, estudo e trabalho via ação direta, sem recuarmos na defesa de nossos direitos ou nos iludirmos com a representação em câmaras, senado, presidência, prefeitura. Mas sim, sem recuar, conquistando e gerindo aquilo que nós construímos e que é nosso!
NO CAMPO A NA CIDADE, DA PERIFERIA AO CENTRO, RETOMAR A COMBATIVIDADE DO POVO PRETO !
CONTRA O GENOCÍDIO DO POVO NEGRO: AUTONOMIA E COMBATIVIDADE
NENHUMA CONCILIAÇÃO COM A CASA GRANDE/ESTADO RACISTA E BURGUÊS !