Carta de adesão da Oposição Nós Por Nós à Rede estudantil Classista e Combativa- RECC
Florianópolis, janeiro de 2017
Introdução
Esta carta tem o objetivo de solicitar publicamente a filiação do Nós Por Nós (NPN – UFSC) à Rede Estudantil Classista e Combativa (RECC), integrante do Fórum de Oposições pela Base (FOB). Desde a fundação de nosso coletivo, no final de 2015, viemos colaborando com a difusão das análises da RECC/FOB enquanto comitê de propaganda, além de aplicar sua linha política em nosso local de atuação. O avanço político-organizacional da militância do coletivo proporcionou condições e reafirmou a necessidade de nos engajarmos em um projeto de movimento estudantil classista e autônomo de abrangência nacional. E para nós, desde o início, esse projeto se materializa na construção da RECC/FOB.
Quem Somos?
O Nós Por Nós (NPN) é uma agrupação estudantil formada por estudantes de diferentes cursos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Surgido em outubro de 2015, inicialmente utilizávamos o nome provisório de Construção Classista e Combativa, adotando a nomenclatura atual a partir de março de 2016.
O surgimento do NPN vem da necessidade de uma alternativa dentro do movimento estudantil da UFSC que incorpore em sua prática uma concepção classista e combativa, rompendo os muros da universidade para somar forças ao lado do povo na guerra de classes. Esta necessidade iniciou-se principalmente nos processos de mobilização e luta por assistência/permanência estudantil e contra a implantação da EBSERH (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares) que se deram na UFSC no ano de 2015.
Inicialmente, a atuação se desenvolveu focada na luta pela permanência estudantil e em questões ligadas aos estudantes negros. Hoje, mesmo mantendo nossa atuação profundamente ligada a essas duas frentes de lutas, a própria dinâmica da ofensiva capitalista contra a educação e a classe trabalhadora nos obrigou a ampliar nossa atuação, devido ao aprofundamento dos ataques, e também porque as lutas de resistência estão interligadas.
Trilhamos nosso caminho sem rabo-preso com partidos eleitorais, burocracias sindicais e/ou estudantis e hoje possuímos uma militância espalhada por diversos centros de ensino da UFSC, com alcance a nível de graduação e pós graduação, além de uma atuação em diversas lutas, sem nunca perder o foco nas demandas dos estudantes filhos e filhas da classe trabalhadora.
O que queremos?
Entendemos que hoje, mais do que nunca, se faz necessário a construção de uma alternativa classista, combativa e autônoma para o movimento estudantil brasileiro, que através do classismo una trabalhadores e estudantes (mão de obra em formação) contra a ofensiva capitalista, que através da combatividade rompa com os atos festivos da esquerda reformista e que, disseminando a autonomia, supere a tutela das burocracias partidárias/sindicais/estudantis.
Vivemos um momento em que a retomada dos métodos radicalizados de luta e criação de experiências autônomas coexistem com tentativas de retomada da tutela dos movimentos por parte da socialdemocracia, além de intensos ataques aos direitos por parte do Estado. A radicalização e os métodos autônomos de organização e luta têm esbarrado na crise organizacional – a nível sindical, estudantil e popular – em que a classe trabalhadora se encontra. Portanto, se faz urgente levar a cabo a tarefa de desorganizar as burocracias e contribuir para a organização das bases.
Para compreender o motivo de tal crise de organização, basta olharmos para os mais de 30 anos de tutela socialdemocrata sobre os instrumentos de luta da classe trabalhadora, lógica que começa a ser alterada de forma expressiva com o advento das jornadas de junho de 2013, como ressaltamos em nosso boletim nº 3:
“As jornadas de junho de 2013 e o movimento secundarista que ocupou diversas escolas pelo país significaram uma ruptura prática com décadas de monopólio social-democrata sob o destino da luta dos trabalhadores e estudantes no Brasil. Além desses movimentos que ganharam destaque midiático tivemos várias greves em que as bases se rebelaram contra suas direções sindicais (majoritariamente dirigidas por partidos eleitorais), entre elas obtiveram maior visibilidade a dos professores do estado do Rio de Janeiro, a dos Garis cariocas e até mesmo a dos operários de Jirau que ocorreu anteriormente ao ‘boom’ de 2013, já anunciando o declínio do monopólio da tutela social-democrata. Pode-se afirmar que pela primeira vez no Brasil, após o movimento operário do início do século XX, temos movimentos (massificados e generalizados pelo país) não subordinados a um projeto político eleitoral, burocracias partidárias, sindicais e estudantis.”
A nosso ver, no movimento estudantil a crise de organização é profunda, fruto de uma prática viciada de suas direções, que se limita a conquista e burocratização de entidades. Essa linha é capitaneada pela UNE, cuja atuação é marcada por um longo histórico de colaboração de classes e traição das lutas estudantis, possuindo em sua história um único e breve período de combatividade e desburocratização entre 1964-1968 (sob influência de setores guerrilheiros), hoje ela cumpre o duplo papel de blindagem/promoção da política dos partidos que a hegemonizam (PT e PCdoB) e de formação de parlamentares (Lindbergh Farias, José Dirceu, Carina Vitral, etc).
Analisando hoje as organizações estudantis pelo país, das mais moderadas às que dizem fazer oposição a UNE (como a ANEL), podemos constatar que todas seguem a cartilha do parlamentarismo estudantil fundado pela UNE: são braços políticos/eleitorais de algum partido, possuem como centralidade a conquista de entidades representativas (CA’s, grêmios e DCE’s) e utilizam o movimento estudantil como trampolim para suas futuras candidaturas.
Na contramão do parlamentarismo estudantil, reafirmamos nosso compromisso de construção pela base, como já expressamos em nosso boletim nº2:
“Ao contrário das burocracias estudantis, que gastam força defendendo o governo ou pedindo eleições gerais, entendemos que a tarefa do momento é reorganizarmos o movimento estudantil pela base, a partir do levantamento dos problemas que atingem nossas salas de aula e turmas. Em seguida, unificarmos nossas reivindicações com as das outras turmas de nosso respectivo centro de ensino para, a partir dessa união, pressionarmos as direções de centro até conquistarmos desde bebedouros que funcionem até que elas corram atrás de verba para construção de novos laboratórios em nossos centros. A luta, porém, não deve parar em nossos centros. A próxima tarefa deve ser a unificação de nossas forças e reivindicações: turma com turma, curso com curso, centro com centro, universidade com universidade e estudantes universitários com trabalhadores e movimentos sociais. Assim obteremos força para pressionar direções de centro, reitorias, Ministério da Educação, monopólios empresariais e governos.
Somos convictos de que política classista não se faz de forma simplista, se resumindo em apoiar ou votar em X ou Y, mas sim de que fazer política é lutarmos nós por nós mesmos. Ou seja, construir um projeto de poder de baixo para cima, da periferia para o centro, do local para o nacional, do bebedouro para a resistência contra o Plano Nacional da Educação e o ajuste fiscal do Governo Federal. A partir deste princípio de construção pela base, devemos organizar grupos de ação em nossas turmas e centros acadêmicos para cobrar a solução imediata de problemas específicos (falta de papel, bebedouros, etc.) sempre os interligando à questão local e nacional, que hoje se traduz economicamente no ajuste fiscal e politicamente nessa polarização fantasiosa entre os projetos políticos da direita e da esquerda reformista.”
Com a finalidade de avançarmos politicamente e nos filiarmos a RECC/FOB, o Nós Por Nós deixa de ser um coletivo e se transforma em uma Oposição ao Parlamentarismo Estudantil na UFSC, tendo como um dos seus principais objetivos a reorganização do movimento estudantil combativo pela base.
Quais são nossos princípios?
Ao fazer a escolha de nadar contra a maré reformista no movimento estudantil oficial, assumimos os princípios defendidos pela RECC/FOB:
CLASSISMO: Significa que entendemos que a sociedade é dividida em classes, uma exploradora (burguesa) e outra explorada (trabalhadora) e que nós, enquanto mão-de-obra em formação (estudantes), pertencemos à classe trabalhadora. Por isso, defendemos que só a união entre trabalhadores e estudantes do campo e da cidade poderá derrubar o capital e sua sociedade de classes.
COMBATIVIDADE: Para nós, os próprios estudantes e trabalhadores devem protagonizar suas lutas, enfrentando seus problemas através de protestos, greves, piquetes, ocupações, bloqueio de vias públicas, organizando assembleias, etc., mesmo sem o aval das direções das entidades representativas ou de representação parlamentar, assumindo a ação direta como instrumento para defesa de seus interesses enquanto classe ou categoria.
INDEPENDÊNCIA: Para sair desse mar de lama é vital não ter comprometimento financeiro e/ou político com governos, empresas, partidos e/ou personalidades. Acreditamos que coletivos, oposições e movimentos devem ser autossuficientes e autogeridos pelos próprios indivíduos associados. Além disso, a autonomia contribui para a não reprodução do germe do parlamentarismo estudantil.
ANTIGOVERNISMO: Consideramos essencial manter a autonomia frente aos governos, mesmo os ditos de “esquerda”. Nosso compromisso é com a classe trabalhadora (da qual fazemos parte) e não com um governo Y ou Z. Para além disso, ser antigovernista significa romper a lógica de subordinar a atuação às políticas de governo e combater os defensores/reprodutores da política parlamentar no interior do movimento.
DEMOCRACIA DE BASE: Defendemos que as decisões devem tomadas de baixo para cima, e não o contrário. Significa que os interesses da categoria ou movimento devem ser decididos em assembleia, com direito a voz e voto a todos os envolvidos, e não nos gabinetes das direções das entidades ou em reuniões de cúpula com representantes de correntes.
INTERNACIONALISMO: Nosso projeto de reorganização da classe trabalhadora não conhece fronteiras ou pátria. Em todo o mundo, os explorados e oprimidos constituem uma só classe e, portanto, devem combater juntos nas mesmas trincheiras, estejam onde estiverem, unidos pela solidariedade de classe.
Somar forças para combater a tutela e construir a Autonomia
Os movimentos sociais no Brasil estão há décadas dominados e paralisados pela política reformista e conciliadora dos partidos eleitorais. Os 13 anos de governo do PT serviram para que boa parte do povo em luta aprendesse que eleger um operário ou uma ex-guerrilheira não muda nada e que só a luta independente e combativa garante vitórias reais para classe trabalhadora.
Para recolocar o movimento estudantil como ferramenta útil na luta de classes, é preciso combater a tutela imposta pelo parlamentarismo estudantil como primeira tarefa para a construção de um novo movimento estudantil que resgate do passado somente o legado combativo e revolucionário da classe trabalhadora.
Além disso, se faz necessário unificar na luta diversos setores da classe, ao invés de reproduzir a lógica fracionista promovida pelo sistema capitalista, pelo Estado e pela socialdemocracia. A ruptura com o corporativismo se dá na unificação a partir da organização de base de estudantes de graduação e pós graduação e trabalhadores efetivos e terceirizados. Entendemos que para lutar enquanto classe, a organização deve ser plural assim como é a classe trabalhadora e, devido a isso, não fazemos recorte ideológico (anarquista ou comunista), religioso, sexista, de gênero ou raça. Trata-se de um princípio fundante da tradição socialista de tipo sindicalista revolucionária resgatada no Brasil pelas oposições aderentes ao FOB.
Cientes de que a luta será longa e árdua, queremos somar forças com a Rede Estudantil Classista e Combativa e o Fórum de Oposições pela Base para a construção de uma alternativa classista, combativa e autônoma para classe trabalhadora.
IR AO COMBATE SEM TEMER, OUSAR LUTAR, OUSAR VENCER!
VIVA A REDE ESTUDANTIL CLASSISTA E COMBATIVA!
VIVA O FÓRUM DE OPOSIÇÕES PELA BASE!
VIVA A LUTA DO POVO!