Por Sindicato Geral Autônomo do Rio de Janeiro – SIGA-RJ
Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história
Não esquecemos jamais
Salve o Navegante Negro*
Que tem por monumento As pedras pisadas do cais
Mestre-sala dos mares, música de João Bosco e Aldir Blanc, 1974.
* Em função da censura imposta pela Ditadura de 1964, os autores foram obrigados a trocar “Almirante” por “Navegante Negro”.
No dia 22 de novembro de 1910, marinheiros negros se amotinaram e tomaram o controle de navios de guerras, Minas Gerais, São Paulo, Deodoro e Bahia, ancorados na Baia da Guanabara, Rio de Janeiro, antigo Distrito Federal.
A revolta, que se estendeu até o dia 27 de novembro, era contra os castigos corporais, as chibatas e também reivindicava melhores salários e a anistia de todos os rebelados. A principal liderança do movimento é atribuída a João Cândido (1880-1969), batizado de Almirante Negro.
Os castigos corporais, punição de “vinte e cinco chibatadas, no mínimo”, faziam parte do código disciplinar da Marinha Imperial-Escravocrata do Brasil, que também proibia as greves. Foram abolidas com a Proclamação da República (1889), mas voltaram a ser praticadas.
No ano de 1909, João Cândido e outros marinheiros tiveram contato com marinheiros ingleses que relataram a revolta dos marinheiros russos do encouraçado Potemkin, em 1904. Assim, movidos pela revolta e pelo exemplo das lutas de marinheiros de outros países, organizaram um comitê clandestino com o objetivo de organizar uma revolta.
Os planos de conspiração de João Cândido e de seus companheiros foram antecipados pela punição de 250 chibatadas a que foi submetido o marinheiro Marcelino Rodrigues, cujo crime teria sido levar cachaça a bordo e ferir um cabo com uma navalha.
O motim começou no encouraçado Minas Gerais. Os amotinados mataram seis oficiais, incluindo o comandante Batista das Neves. A revolta se estendeu aos encouraçados São Paulo e Deodoro e para o cruzador Bahia. Com o sucesso do levante, os marinhos enviaram suas exigências ao então Presidente Marechal Hermes da Fonseca (1855-1923).
A tentativa de repressão à revolta dos marinheiros foi em vão. Duas embarcações da Marinha foram rechaçadas pelos amotinados, que também bombardearam a instalações da Marinha na Ilha das Cobras e dispararam contra a sede do Governo Federal, o palácio do Catete. O Marechal Hermes da Fonseca não teve outra alternativa senão atender as exigências. Assim, as chibatadas foram abolidas e foi prometida a anistia.
Entretanto, no dia seguinte ao fim da revolta, dia 28 de novembro, começaram as perseguições e prisões dos revoltosos. No dia 4 de dezembro ocorreu um novo levante dos marinheiros, que se insurgiram na Ilha das Cobras. Mas foram rapidamente reprimidos, massacrados pelas forças de contrainsurgência. Cerca de 600 marinheiros se revoltaram, mas somente 100 sobreviveram ao massacre
Os sobreviventes, entre eles João Cândido, foram presos na Fortaleza São José, que ficava na Ilha. Desses, 31 foram encarcerados em duas solitárias escavada na rocha, foram torturados e com a falta de ar e com a quantidade de cal lançada na cela. Somente dois marinheiros sobreviveram a esse martírio: João Cândido e soldado naval João Avelino Lira, conhecido como Pau de Lira. Outros marinheiros foram levados à força para seringais na Amazônia, e parte foi fuzilada no caminho.
A onda repressiva foi implacável. Foram mais de 1.200 expulsões da Marinha, centenas de prisões, exílio para a Amazônia, trabalho escravo e execuções para os revoltosos.
João Cândido foi expulso da Marinha e foi preso no Hospital dos Alienados. Depois de um ano no manicômio, foi solto e começou a trabalhar como estivador e vendedor de peixes no mercado da Praça XV.
A luta dos amotinados da Revolta da Chibata e de seu principal representante, João Cândido, continua viva nas revoltas e insurreições do povo preto!
Viva a Revolta da Chibata!
João Cândido vive!