Sindicato Geral Autônomo de Santa Catarina
Nas últimas semanas, o Brasil se tornou o centro da pandemia do novo coronavírus, atrás apenas dos Estados Unidos em número de casos[1]. A política assassina do Governo Federal aliada às disputas pelo poder (e entre os poderes) jogam a classe trabalhadora para a miséria e para a morte em todo o país.
Em Santa Catarina, o Gov. Carlos Moisés (PSL) tenta salvar sua imagem em meio à pandemia, algumas vezes culpando o Governo Federal e outras deixando a responsabilidade nas mãos das prefeituras[2]. Na prática, a política adotada pelo governador é a de afrouxamento do isolamento social e de reabertura dos serviços[3].
Tudo isso no momento em que a contaminação por coronavírus aumenta drasticamente no estado. Segundo um relatório da InfoGrip[4], o panorama na região sul do Brasil é de crescimento acelerado de casos de SARG (Síndrome Respiratória Aguda Grave), síndrome associada ao coronavírus. Na metade do mês de maio, os novos casos de contaminação dobraram na região sul, com aumento de 86%. Em Santa Catarina, o aumento foi de 42%[5], que até o momento contam 8.530 casos e 134 mortes.
Diversas regiões do estado têm aumento de casos de contaminação e de mortes, mesmo regiões com poucos habitantes. As cidades com mais casos são Chapecó (1.001 casos) e Concórdia (839 casos), no oeste catarinense. O grande número de casos nessas cidades está associado às frigoríficas, como a BRF, que sozinha soma 340 trabalhadores infectados em Concórdia[6], e também a JBS, com mais 30 casos relacionados[7]. Nem cidades mais populosas, como Joinville, Florianópolis e Blumenau tem tantos casos de contaminação como no oeste catarinense.
Além de sofrer com a contaminação e mortes, os trabalhadores em Santa Catarina sofrem com as demissões em massa, suspensão dos contratos de trabalho e com cortes de salário.
No setor de transporte, mais de 5mil contratos foram suspensos em Joinville, Criciúma, Florianópolis, Gaspar, Blumenau, Brusque, além de diversas demissões[8][9]. A rede do bolsonarista Luciano Hang, a Havan, suspendeu contratos de cerca de 3.400 trabalhadores só no Estado de Santa Catarina[10]. A empresa do ramo vestuário Ogochi, de São Carlos, demitiu 30% de seus funcionários, o que significa aproximadamente 400 trabalhadores[11].
Na educação, os trabalhadores também tem sofrido com as consequências da pandemia, com carga excessiva de trabalho por conta das aulas não-presenciais, cortes de salários e desemprego. No estado, cerca de 60% dos professores tem contrato temporário (ACT), e apesar da aprovação de uma medida que impede a demissão dos ACTs durante a pandemia, muitos não estão conseguindo trabalhar devido à baixa oferta de vagas. Em alguns municípios, como Major Vieira[12], os professores devem sofrer corte de salário de até 48%. Na Faculdade Cenecista de Joinville (FCJ), professores entraram em greve no dia 6 de maio por conta atraso nos salários[13].
Um levantamento do Sebrae/SC[15] mostra que em Santa Catarina pelo menos 530 mil trabalhadores foram demitidos durante a pandemia, 408 mil tiveram contrato suspensos e 462 mil tiveram redução da jornada e de salário. A tendência é que apenas as grandes empresas consigam sobreviver ao período, por meio de demissão, suspensão de contrato ou por “ajuda” dos governos que sempre trabalham para os grandes empresários. Os pequenos comércios fecham, enquanto as grandes empresas concentram ainda mais capital, com ajuda dos governos. Como disse o próprio Ministro da Economia, Paulo Guedes: “nós vamos ganhar dinheiro usando recursos públicos para salvar grandes companhias, agora, nós vamos perder dinheiro salvando empresas pequenininhas”[16].
A falta de pagamento atinge até mesmo os profissionais da saúde, que estão na linha de frente no combate ao Covid-19. Em Florianópolis, trabalhadores de diversas categorias da saúde realizaram uma paralisação reivindicando ao Ministério da Saúde o pagamento das bolsas-salário[14].
A situação que os empresários e governos forçam para os trabalhadores é trabalhar e se contaminar ou perder o emprego. No fim das contas, eles querem que o povo trabalhador pague a conta dessa crise, enquanto as grandes empresas seguem monopolizando o mercado e demitindo funcionários para não diminuir seus lucros.
Quando nós paramos de trabalhar por decisão dos empresários, nossa situação piora. Quando nós paramos de trabalhar para exigir nossos direitos, a situação deles piora. Ou eles vencem ou nós nos unimos pra vencer. Em vários lugares do Brasil e do mundo, o povo está resistindo e se protegendo. Greves contra os cortes de salários, manifestações contra as injustiças, refeições e atendimento de saúde oferecidos pelas próprias comunidades organizadas, surgimento de cooperativas e associações. A união e a luta são o único caminho para quem quer deixar de se arriscar e sofrer enquanto seu patrão está seguro e sorridente. Se organize com seus colegas e vizinhos e contem com Sindicato Geral Autônomo de Santa Catarina (SIGA-SC)!
[1] Até a escrita deste texto, segundo dados oficiais, o Brasil contava com 501.985 casos confirmados e 28.872 mortes.
[2] https://ndmais.com.br/noticias/municipios-passam-a-ter-autonomia-para-definir-sobre-transporte-educacao-e-eventos/
[3] https://www.nsctotal.com.br/colunistas/anderson-silva/coronavirus-em-sc-com-liberacao-dos-autonomos-e-liberais-governo-poe
[4] https://portal.fiocruz.br/noticia/relatorio-confirma-tendencia-de-crescimento-de-casos-de-sindrome-respiratoria-aguda-grave
[5] https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/05/26/sul-casos-de-coronavirus-semana-crescimento.htm
[6] https://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2020/05/25/brf-diz-que-340-funcionarios-em-concordia-testaram-positivo-para-coronavirus.ghtml
[7] https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/05/28/covid-19-brf-e-jbs-viram-polo-de-contaminacao-em-regiao-mais-afetada-de-sc.htm
[8] https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2020/05/06/com-proibicao-do-transporte-coletivo-em-sc-empresas-adotam-acordos-e-medidas-para-reduzir-despesas.ghtml
[9] https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2020/04/21/trabalhadores-do-transporte-coletivo-da-grande-florianopolis-tem-contratos-suspensos-por-empresas.ghtml
[10] https://www.nsctotal.com.br/colunistas/pedro-machado/coronavirus-havan-suspende-contrato-de-11-mil-funcionarios-por-60-dias
[11] https://www.nsctotal.com.br/noticias/empresa-de-vestuario-do-oeste-demite-30-dos-funcionarios-e-antecipa-ferias-por-causa-dos
[12] https://www.jmais.com.br/professores-do-municipio-de-major-vieira-reclamam-de-corte-nos-salarios/
[13] https://ndmais.com.br/noticias/professores-entram-em-greve-e-alunos-denunciam-faculdade-em-joinville/
[14] https://folhacidade.com.br/2020/05/20/com-os-pagamentos-atrasados-pelo-governo-federal-residentes-de-florianopolis-fazem-paralisacao/
[15] https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2020/05/13/sc-teve-530-mil-demissoes-durante-a-pandemia-aponta-pesquisa-da-fiesc.ghtml