Por Comitê de Solidariedade aos Povos Indígenas
Comitê de Solidariedade aos Povos Indígenas vem por meio desta nota denunciar a criminosa ordem de despejo destinada a retomada Guapoy, localizada em Caarapó-MS, aos redores da Aldeia Tey’Kue e da TI Dourados Amambaipegua I.
O tekoha Guapoy foi retomado dias após o Massacre de Caarapó, quando centenas de pistoleiros armados atacaram o tekoha Toro Paso (hoje Kunumi Poty Verá) e assassinaram o agente de saúde Clodiodi Aquileu Rodrigues de Souza. Como resposta a este famigerado ataque, os Guarani e Kaiowa fortaleceram sua resistência e avançaram para novas retomadas.
No último dia 8, uma notificação de despejo chega até a retomada, tendo como ré a FUNAI. Porém, a notificação chegou às mãos da FUNAI duas semanas antes, sendo que este é o prazo para requerer o processo, ou seja, não houve tentativa de reversão do despejo nem qualquer diálogo com a comunidade. Desde então, latifundiários da região tem ameaçado a retomada, circulando a comunidade armados, em suas motos e caminhonetes.
Um dos artifícios utilizados pelo Estado é alegar que a propriedade incidente sobre o tekoha é pequena, e por isso não seria mais um caso de grilagem de terras. Porém, as terras estão registradas em nome de uma empresa possuidora de outras propriedades, tratando sim de um latifundiário. Outro artifício é a alegação que não havia indígenas no local quando da promulgação da constituição de 1988, ou seja, a tese do “Marco Temporal”. Ora, não sabemos do processo de desapropriação e roubo das terras indígenas que historicamente ocorreu em nosso país? Também não sabemos a histórica violência dos grandes burgueses e latifundiários contra os povos originários, assim como prossegue hoje com a sanha das mineradoras por espoliar terras indígenas? Portanto, repudiamos a tese do Marco Temporal, e alertamos a necessidade de resistir a ela para além dos instrumentos jurídicos.
Diante desta criminosa reintegração de posse, onde o Estado promete preparar grande aparato de forças (Força Nacional, Policia Militar, Corpo de Bombeiros, Conselho Tutelar, etc) para “enfrentar” cerca de 100 pessoas, convocamos a todos os apoiadores a defender a retomada do tekoha Guapoy, desfraldando a palavra de ordem “Abaixo ao criminoso despejo da retomada Guapoy!”. De norte a sul o Estado brasileiro, lacaio de grandes burgueses e latifundiários, desata um processo de repressão e criminalização da luta pela terra. Tudo para tentar conter as tomadas e retomadas de território empreendidas por indígenas, camponeses e quilombolas. O CSPI defende o avanço da luta pela terra e condena todo tipo de repressão aos povos tradicionais. Apesar da tentativa de suposta negociação por parte dos fazendeiros, que propunham redução de 90% do território reivindicado para evitar o despejo, os Guarani e Kaiowá reunidos em Guapoy decidiram, bravamente, pela permanência no tekoha, sem recuar nenhum passo na luta pela retomada e defesa de suas terras.
Guapoy Resiste! Terra pra quem nela vive e trabalha!
Abaixo a criminalização da luta pela terra!
Viva a Autodemarcação!