Por Pró-ORC – RS
No dia 27 de março, nós, do magistério público estadual testemunhamos um momento histórico, a desfiliação do CPERS a CUT. Mas ficam algumas questões:
O CPERS ficará isolado?
O CPERS rompeu pois os trabalhadores em educação não se consideram parte conjunta com os trabalhadores?
A CUT teve uma importância na história do CPERS?
Tal vitória merece ser refletida de forma mais aprofundada.
Breve História do CPERS e da CUT
A História do CPERS é bem mais antiga que a da CUT, desde o seu surgimento, como Centro de Professores Primários, em 1945, até sua transformação em sindicato e transformando-se como aglutinador da luta dos trabalhadores em educação, em vários momentos, incluindo greves históricas. Por fim, sua filiação a CUT em 1996. Esta filiação na CUT contou com o apoio de vários trabalhadores em educação, muitos deles organizados ou simpáticos a correntes dos movimentos sociais. Entendiam que tal filiação seria essencial para colocar o CPERS em unidade com os demais movimentos sociais e dos demais trabalhadores.
Já a História da Central Única dos Trabalhadores surge na década de 1980, período da reabertura democrática do Brasil, através da mobilização da base das classes trabalhadoras, querendo sair da tutela estatal. Entretanto, já em 1988, a Articulação Sindical, corrente de Lula, frente a autonomia que as organizações de base estavam tendo, e querendo evitar o “perigo” que estas representavam, propõe (ver greve da FIAT do RJ no período), no 3º Congresso da CUT, que apenas representantes sindicais compusessem a CUT. Com isto associações de base são obrigadas a se transformarem em associação, e a oficializar o sindicalismo, voltando a estrutura do sindicalismo do imposto por Vargas, durante o período do Estado Novo (de inspiração fascista).
Com isto, começamos a ver aos poucos a CUT sendo levada a rejeitar as experiências das comissões de base, autogestionárias, dando preferência a uma estrutura burocratizada e controlada pelo aparelho estatal. Levando a sua desagregação, que culmina com a chegada ao poder do governo Lula, em 2002, e sua consequente consolidação como uma central governista, representante do governo nos movimentos sociais.
Desta maneira, observamos assim que cada vez mais a CUT foi se afastando do caminho de ser um movimento sindical autônomo e baseado na ação direta dos trabalhadores, já que a como entidade nunca se propôs ao sindicalismo revolucionário efetivamente, e se aproximando do sindicalismo oficial, burocrático e reformista, a reboque da principal corrente do PT, a Articulação Sindical, conjuntamente com outras. Com isto observamos ao longo da primeira década do século XXI, vários grupos que ainda se encontram no campo da esquerda, rompendo com esta forma de fazer sindicalismo, observamos a formação de algumas centrais sindicais, mas estas voltando aos mesmos vícios da CUT, um sindicalismo burocrático, oficial e reformista.
Por que desfiliar da CUT?
Alguns destes motivos já estão explícitos nos parágrafos anteriores, como o processo de burocratização da CUT, sua oficialização e seu caráter reformista. Mas para colocarmos de que forma estes aspectos atingem nossas vidas, vemos que frente aos governos do PT, a CUT se deixa domar e dobrar, se tornando o braço sindical do governismo, e preterindo a defesa dos governos do PT frente a reivindicação das classes trabalhadoras, exemplo claro disto, vemos na greve dos educadores, em 2011, onde o presidente da CUT ataca o CPERS sindicato por sua decisão de greve.
Ainda observamos serie de tentativas de ingerência da CUT no sindicato, exemplo disto é nas eleições da ultima diretoria, onde no site da entidade encontramos claramente destacando o esforço de vários partidos eleitorais na tomada da direção desta entidade, dizendo que a partir da eleição da chapa da atual gestão, o sindicato passou a ser cutista. Entretanto o sindicato só vem a se desfiliar da CUT, 9 meses depois desta matéria ser publica, na dita gestão cutista.
Tendo em vista tudo isto, e mais uma série de questões, faz alguns anos que se discute a desfiliação do CPERS, que a nosso ver deveria ter ocorrido em 2013, no 8º Congresso do CPERS, mas que devido a amarres políticos de diferentes tendências, foi postergado por mais tempo esta discussão. Observamos a antiga e a atual gestão arrastar esta discussão, que foi culminar infelizmente na primeira Assembleia Geral de 2015, coincidindo por ser a primeira assembleia da nova gestão (mais de 9 meses depois desta assumir) e a primeira assembleia geral frente ao novo governo do Estado (que teria outras questões para serem discutidas, como as pautas a serem entregues ao mesmo). Mas apesar de não ser o momento mais propício para esta discussão, que certamente foi desgastante para a categoria, mostra a coragem desta categoria em fazer mudanças, mesmo diante de momentos mais difíceis.
E agora, José?
Contrariando o poema de Carlos Drummond de Andrade vemos que a luz não se apagou, muito pelo contrário, se ascendeu, saímos das trevas do governismo burocrático e oficialesco para ver uma luz de autonomia e rediscutirmos a estrutura de nosso sindicato. O povo não sumiu, o povo sumiu quando se viu entravado pela burocracia sindical. E é agora que podemos rearmar nosso discurso em varias direções, respeitando a diversidade sindical. E agora devemos gritar por alterações estatutárias que reestruturem nosso sindicato, que acabe com a liberação sindical e que faça deste sindicato, um local de autogestão. Estes e outros são caminhos que se apontam para o sindicalismo do magistério do Rio Grande do Sul.