O projeto de precarização da educação no Brasil, muito anterior ao governo Bolsonaro/Mourão, mas defendido sem máscaras neste atual governo tem encontrado na pandemia do novo coronavírus uma ótima oportunidade. O processo de sucateamento e o desejo de provatização, tanto na educação básica como no ensino superior não são novidades, mas a iniciativa de substituir as aulas presenciais por modelo à distância também é um desejo anterior à pandemia, como mais um mecanismo de precarização e de grande interesse das empresas privadas. Alunas/os e professoras/es das escolas públicas, institutos e universidades federais e estaduais já sofrem com esses histórico de sucateamento, a exemplo da greve que a UESPI enfrentou em 2019 em todo o estado, com pautas repetidas de greves anteriores, demonstrando o descaso do governador Wellington Dias (PT), assim como os sucessivos cortes que a UFPI (atual UFDPar) em Parnaíbra sofreu nos últimos anos, mesmo com as promessas do diretor (e atual reitor interino) Alex Marinho em proteger auxílios e empregos de servidores.
Atualmente com a pandemia, dois desafios são empurrados para professoras/es e estudantes da classe trabalhadora: o desejo do retorno das aulsa presenciais ainda em 2020, enquanto não há previsão ainda de controle da pandemia de COVID-19 no Brasil, com números alarmantes no Piauí e principalmente em Parnaíba, e a pressão por adotar aulas remotas como alternativa. Nós da FOB-PI compreendemos que ambas as opções são um ataque grave à classe estudantil e aos profissionais da educação. A primeira, por colocar em risco a vida de estudantes da classe trabalhadora, os trabalhadores terceirizados e os profissionais da educação, expondo-os ao retorno precoce, agravado por não haver um plano de reestruturação eficiente do espaço das escolas, universidades e institutos. Já a adoção das aulas remotas, é grave por diversos fatores.
Primeiramente, por ser um projeto que reforça a desigualdade. Em Parnaíba, como os questionários levantados pelas universidades já demonstram, há uma grande quantidade de estudantes que não têm acesso a condições mínimas necessárias como celular e computador individuais, acesso a internet de qualidade, privacidade e espaço confortável. Nesse período onde o desemprego vem aumentando, trabalhadores informais e autônomos estão sem renda, além dos problemas com o pagamento do auxílio emergencial oferecido pelo governo, que ainda assim é um valor insuficiente. Muitas famílias estão enfrentando o luto por conta da COVID-19, além do desgaste psicológico por conta do isolamento e das altas taxas de infectados em Parnaíba mérito também do prefeito Mão Santa (DEM) que constantemente diminui a gravidade da pandemia, incentivando a quebra do isolamento. Os profissionais da educação estão ainda mais precarizados com as dificuldades de adequação ao modelo de atividades remotas, e a sobrecarga de trabalho em um período como este.
A substituição pelo ensino à distância é também ineficiente quanto ao seu conteúdo, pois não oferece as mesmas possibilidades das aulas presenciais. Cursos de licenciatura, por exemplo, são amplamente prejudicados uma vez que não há como substituir experiência presencial e prática por aulas virtuais. Assim como projetos de extensão, demais estágios, etc. Tudo isso intensificado com o fato da maioria dos estudantes não terem acesso a internet rápida ou notebook, por exemplo.
O modelo das aulas remotas também sobrecarga ainda mais as mulheres, sejam elas alunas ou professoras, uma vez que, com as famílias em isolamento, o trabalho doméstico desde a limpeza da casa ao cuidado da família (como filhos, irmãos, marido e idosos), é atribuído como obrigação feminina. Nas aulas remotas na educação infantil, também é atribuído como papel da mãe acompanhar as crianças e ensiná-las. De que forma é possível ter disposição para todo esse trabalho doméstico( que não é reconhecido como trabalho) e conseguir cumprir obrigações escolares e acadêmicas? As mulheres que são mães e universitárias ou trabalhadoras da educação ainda mais prejudicadas.
Nós do CAL/FOB nos afirmamos veemente contra ao retorno precoce das aulas e à adoção do modelo remoto durante a pandemia de COVID-19 em Parnaíba, e fazemos um chamado à toda a base estudantil e profissionais da educação. Acreditamos que é preciso defender a existência de um ensino gratuito e de qualidade, com condições de permanência dos estudantes da classe trabalhadora. É preciso garantir que todas e todos tenham acesso à educação de forma igualitária, e que profissionais da educação tenham condições de trabalho dignas. Acreditamos na ação direta como forma de luta e vemos a paralização como uma saída até que seja seguro retornar presencialmente, e a elaboração de um plano e reestrutuação dos espaços das universidades e escolas com AMPLA participação da comunidade escolar e acadêmica.
RUMO À GREVE GERAL DA EDUCAÇÃO!