FOBCE: Basta de Desmonte e Perseguição Política à Estudantes e Professores do Curso de Economia Ecológica (UFC)

FOBCE: Basta de Desmonte e Perseguição Política à Estudantes e Professores do Curso de Economia Ecológica (UFC)

A FOBCE, Federação das Organizações de Base do Ceará, se solidariza com os estudantes e professores do curso de Economia Ecológica da UFC que estão sofrendo perseguição política pela diretoria do Centro de Ciências Agrárias (CCA). A perseguição realizada pela diretora Sonia Maria se dá a quem resiste ao desmonte do curso e defende seu caráter crítico.

O curso de Economia Ecológica da UFC é o primeiro e, muito provavelmente até hoje, único curso de graduação em Economia Ecológica do mundo. Tendo seu início em 2015.2, possui em seu Projeto Pedagógico uma perspectiva crítica ao desenvolvimento econômico capitalista e ao que se popularizou como desenvolvimento sustentável.

Desde meados de 2016 a mesma gestão do CCA permanece minando as possibilidade de estruturação do curso. Manobras como impedir a realização de concurso, impedir permuta de vagas com outros departamentos, pulverizar o curso em departamentos dispersos são marcas da diretoria. Em 2019 a situação chegou ao ponto dos estudantes ocuparem a diretoria do CCA em resposta a estas manobras que prejudicam o curso.

Ocupa Cca Ecoeco 2019
Registro da Ocupação do Centro de Ciências Agrárias em Abril de 2019
Panfleto Ocupa Cca 2019
Panfleto das mobilizações estudantis da Economia Ecológica em 2019.

Em 2023 o Centro Acadêmico do curso denunciou a continuidade deste desmonte. Isto através do impedimento do professor Fábio Sobral de ministrar aulas no curso, mesmo este sendo integrante do Núcleo Docente Estruturante do curso. Igualmente o Professor Aécio Oliveira que também é do Núcleo Docente Estruturante, teve seu pedido para continuar dando aula voluntariamente no curso após a aposentadoria negado pela diretoria.

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Frente a denuncia a diretoria do CCA se pronuncia institucionalmente negando sua responsabilidade com os problemas do curso e seu papel ativo na permanência deles. Usa do assédio institucional, político e teórico como usou na ocupação de 2019 quando ao invés de buscar atender a demanda preferiu ameaçar os estudantes dizendo que iria “tomar as providências cabíveis”.

Nos solidarizamos aos estudantes e professores que sofrem este assédio e as marcas deste autoritarismo. E afirmamos, com toda certeza, que a união pode subverter qualquer poder injusto.

Deste modo a FOBCE reivindica:

  1. Dissolução da diretoria do Centro de Ciências Agrárias e o estabelecimento de uma nova gestão tripartite entre professores, estudantes e servidores com mandatos imperativos e revogáveis.
  2. Estruturação do corpo docente do curso de Economia Ecológica através de a abertura ampla de vagas para concurso.
  3. Incorporação ao curso dos professores do Núcleo Docente Estruturante, ativos e aposentados, através da permuta destas vagas com os seus departamentos de origem, se necessário.

Organizações federadas à FOBCE:

  • Organização Popular Terra Liberta
  • Rede Estudantil Classista e Combativa do Ceará
  • Sindicato Geral Autônomo do Ceará

Reproduzimos em seguida o comunicado do Professor Fábio Sobral sobre esta situação.

No dia 7 de novembro de 2023 eu, Fábio Maia Sobral, professor da UFC, renunciei ao cargo de vice-coordenador do curso de Economia Ecológica desta universidade.

Cansado das violências institucionais e teóricas resolvi me afastar do curso que ajudei a construir. O primeiro curso de graduação em Economia Ecológica do mundo. Por ser tão inovador desperta ódio e cobiça. Ódio porque a defesa da Natureza desperta a ojeriza dos que querem devastar em nome do dinheiro. Cobiça porque um curso com tal visibilidade nacional e mundial não passa despercebido pelos senhores e senhoras que buscam controlar o poder.

O curso foi construído no Centro de Ciências Agrárias (CCA) com o apoio do diretor já falecido, Professor Luiz Antônio. Além disso, contou com o apoio incondicional do Pró-Reitor de Graduação à época e hoje Reitor, Professor Custódio.

Porém, as diretorias posteriores colocaram empecilhos ao seu funcionamento.
Os/as estudantes tiveram que lutar arduamente para conseguir que o laboratório de informática abrisse à noite, no horário das aulas.

As disciplinas não foram alocadas em um departamento único, mas dispersas em muitos departamentos, dificultando o diálogo entre professores e a construção pedagógica da proposta.

Um dos professores fundadores do curso, Professor Aécio Alves de Oliveira, foi impedido de ministrar disciplinas como voluntário, após a sua aposentadoria. Uma violência inominável e justificada com argumentos burocráticos de que o processo estaria incorreto. Nós sabemos como a burocracia se sente dona do poder e é capaz de inventar desculpas para cercear o que não gosta.
Os professores que eram do curso de Ciências Econômicas pediram transferência para o CCA e não foi permitido.

Por fim, todas as disciplinas ministradas por estes professores foram retiradas sem qualquer justificativa. Houve um motivo pedagógico? Teórico? Foi para beneficiar o ensino? Nada. Só o silêncio violento do pequeno poder tacanho, que nem motivos precisa dar. Para este poder a universidade não é compreendida como bem público, onde deve haver razões para as atitudes administrativas. Só a arrogância de que pode fazer e mandar.

Além disso, nenhum diálogo com os autores da proposta do curso. Somente reuniões de comunicação das ordens da diretoria. O fato é que nenhum esforço foi feito para permitir a presença dos pesquisadores que haviam formulado a iniciativa. Éramos um estorvo a ser afastado. E as justificativas burocráticas borbulham ainda hoje.

Fiquei desiludido com todo esse processo e a ausência de atitudes que mostrassem que a universidade é essencialmente um local de conhecimento, de pesquisa e de busca de soluções para a nossa sociedade fraturada de miséria, destruição ambiental, desertificação, aquecimento climático.

Renunciei ao cargo de vice-coordenador. Porém, os estudantes divulgaram a sua profunda insatisfação com a gestão da direção do CCA. A insatisfação destes era e é ainda mais profunda e mais grave. Há afirmações de que os estudantes são passageiros da universidade. Essa é uma grande mentira para diminuir a sua dimensão. Os estudantes carregarão em suas vidas a formação recebida. A universidade existe para eles e não para burocratas com sede de pequenos poderes.

Venho aqui me solidarizar com o Centro Acadêmico Georgescu-Roegen do curso de Economia Ecológica. Sua luta é para que seu curso – e o curso é dos estudantes – seja tratado com respeito, com a preservação de princípios pedagógicos profundos, com a não discriminação de professores por seus pressupostos teóricos. Com a construção de um departamento que abrigue o curso, onde sejam pensados os ajustes necessários, onde os concursos sejam adequados às necessidades da formação teórica e prática.
Tinha decidido me retirar, cansado das violências, de não poder ensinar aquilo que é fruto de muitos anos de pesquisa. Mas os alunos me deram uma lição inesquecível: não devemos desistir diante de setores autoritários, estejam onde estiverem.

Acabamos de nos livrar de uma gestão genocida no país. Também de uma gestão indesejada na Reitoria da UFC. Mas o autoritarismo invadiu nosso cotidiano e é preciso combatê-lo cotidianamente para que desapareça.

Abaixo o assédio institucional, político e teórico. Que a luta pela defesa da Natureza, pela recuperação de nosso planeta e pela adequação das atividades produtivas aos limites planetários possa contar com a participação do curso de graduação em Economia Ecológica da UFC, sem autoritarismo, com autonomia, com respeito para permitir o seu pleno desenvolvimento.
Nenhuma perseguição a estudantes e professores!

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