O futuro do bloco combativo em São Paulo

O futuro do bloco combativo em São Paulo

CONTRIBUIÇÕES DA FOB-SP À PLENÁRIA DO DIA 7

Participando da Frente Classista e Combativa desde seu início, nós, da FOB-SP, escrevemos este texto para expor algumas de nossas posições, que defendemos nas reuniões de organização da Frente em São Paulo.

Acima de tudo, queremos divulgá-las para os companheiros e companheiras que participarão da 1a Plenária de Organização do Bloco Combativo. A plenária acontecerá no dia 7 de agosto, às 14h, na sede do SINDSEP (Rua da Quitanda, número 162, primeiro andar). Esperamos a participação de todos e todas que desejam construir uma luta real em defesa dos direitos do povo pobre e trabalhador!

O BLOCO COMBATIVO NÃO DEVE DURAR PARA SEMPRE

Vivemos em um momento, infelizmente, extremamente recuado para a nossa classe e seus movimentos. Do lado do Estado, vemos repressão e criminalização crescentes. Por parte dos partidos e movimentos majoritários, conciliação e peleguismo cada vez mais escancarados. São anos e anos de recuo político e organizacional com perdas gigantescas.

Uma das maiores derrotas atuais é justamente o fato de não termos movimentos revolucionários de massas capazes de aglutinar e juntar as categorias populares mais exploradas e mais dispostas a lutar. A FOB é o germe dessa iniciativa e se propõe a ser essa organização revolucionária, com a humildade em reconhecer a grande tarefa que está por realizar, assim como nossas limitações atuais.

Partindo deste ponto inicial, o que percebemos é que diversas organizações combativas se acostumaram com uma posição e postura isolada e secundária, que dependem apenas das próprias forças e não têm pretensão de massa, nacional nem internacional. É por isso que várias organizações, dentre elas as anarquistas que romperam com a Frente, buscam incessantemente construir blocos autônomos e frentes “a longo prazo”.

Não podemos, de forma alguma, continuar com essa posição isolacionista que, apesar de compreensível, é errônea e já nos custou caro demais. É preciso entender que o Bloco Combativo (ou Autônomo) é uma tática recuada, necessária na conjuntura atual mas potencialmente contraproducente a longo prazo. Se reunimos, neste momento, centenas de pessoas cuja semelhança mais importante é a combatividade, é porque entendemos que o resto do movimento não é combativo. E nosso objetivo deve ser sempre o de elevar o nível de combatividade do movimento dos trabalhadores como um todo.

É preciso garantir, sempre que possível, protestos, organizações e movimentos que sejam inteiros combativos, acabando naturalmente com qualquer necessidade de um bloco com esse nome e proposta. Caso contrário, se continuarmos para sempre em blocos, corremos o risco de dizer, ao resto do movimento e a toda a população, que apenas o bloco combativo exerce e deve exercer a combatividade. Tal ação, dentre outras coisas, joga toda a repressão nas nossas costas e tira do resto do movimento a responsabilidade de lutar. Em outras palavras, acabamos isolando a combatividade ao invés de propagá-la.

Sabemos que todos os camaradas, forjados e criados nas nossas lutas, em 2013, nas escolas secundaristas e nas greves, e conscientes das revoltas internacionais, no Chile, na Colômbia, na França, sabem a potência de um movimento combativo em comparação a um bloco. Se hoje nos parece distante tal realidade, não devemos jamais desistir de retomá-la, mas sim lutar incansavelmente para construí-la. Afinal, “se eu andar me siga, se eu parar me empurre, se eu voltar me mate”!

SAIR DA POSIÇÃO ISOLADA E PROPAGAR A COMBATIVIDADE

É justamente tendo em mente essa conjuntura do bloco, do movimento e da classe que apresentamos as propostas atuais da FOB-SP para a Frente Classista e Combativa e sua expressão de rua, o Bloco Combativo.

Em primeiro lugar, a Frente e seus participantes devem ser honestos e maduros em reconhecer seus próprios erros. Não podemos exigir, como alguns fazem, que a juventude esteja conosco se não abrimos, até agora, possibilidade real para isso. A plenária é um primeiro passo para que aqueles e aquelas que participam dos atos de rua (respondendo aos nossos chamados, importante lembrar) possam estar também na organização, construção e divulgação, com todos os direitos e deveres que isso traz.

Desde o começo deste ciclo de protestos, o bloco cresceu vigorosamente, tanto em tamanho quanto em diversidade e importância. Bom por um lado, dando visibilidade às nossas bandeiras e organizações, isso também significa uma exposição crescente. No dia 24 de julho, vimos o resultado de meses de preparação de uma tática conjunta da Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP) e de partidos reformistas. A violência policial aumentou consideravelmente, com o auxílio ativo dos famosos “bate paus”, tendo como foco nosso bloco e seus participantes.

O aumento do bloco e da repressão contra ele não é coincidência, é claro. Mas precisamos entender qual o objetivo dos nossos inimigos e adversários com isso. A Frente, como diz seu nome, se sustenta em duas pernas, uma classista (com reivindicações e meios de luta próprios da classe trabalhadora) e outra combativa (contra a conciliação e o pacifismo). Indo contra a linha pelega-institucional do impeachment, da festa e do palanque eleitoral, crescemos e chamamos atenção. Sendo assim, resta ao Estado, à burguesia e aos seus fantoches, nos isolar e reprimir, com o objetivo de garantir, custe o que custar, que não vamos nos tornar uma força real de mobilização.

Nosso papel, como já dissemos, deve ser o de garantir o caminho contrário: não aceitar nenhum isolamento e propagar cada vez mais a linha classista e combativa. Para isso, é preciso se distanciar o mais rápido possível dos dois polos táticos atualmente existentes no nosso bloco. De um lado vemos a postura de grupos que, sem preparação e plano real, fazem ações mal articuladas, perigosas e sem ganho político e que resultam, obviamente de forma não intencional, na dispersão do bloco e no fim do protesto. De outro, vemos camaradas importantes, com boa parte de críticas acertadas, se aproximando cada vez mais de discursos institucionais, pelegos e criminalizantes, afirmando coisas como “autonomistas se escondem em nosso bloco” e “nos utilizam como escudo”.

Sobre este ponto, é importante dizer: ninguém se esconde em nosso bloco porque chamamos essas pessoas a compô-lo. É claro, há aqueles, como já dissemos, que fazem ações de forma irresponsável, mas com eles, camaradas de classe e de luta, dialogamos, trocamos ideia e construímos algo diferente e mais eficiente. Qualquer postura agressiva e acusatória, além de estar completamente errada, é inútil, não traz solução e só aumenta nossa divisão.

Por isso, nós da FOB propomos, para superar os dois lados, um debate mais propositivo. É preciso entender a conjuntura, aonde o movimento atual pretende ir e quais nossas forças. Na mira dos pelegos e da polícia, sendo um bloco e não um movimento, nosso papel atual deve ser o de recusar tanto a posição isolada quanto a de reboque dos movimentos reformistas. É preciso criar uma agenda própria, articular nossa autodefesa e impulsionar a combatividade geral da população pobre e trabalhadora.

Aos primeiros camaradas, é preciso dizer: não há sentido em partir para ações pouco articuladas, feitas às pressas, sem apoio e sem uma organização mínima ao mesmo tempo em que não temos nem como nos defendermos e mantermos o bloco unido. Aos segundos, afirmamos: não é abandonando a juventude combativa e suas táticas que avançaremos. Pelo contrário, cairemos no campo dos que falam e não fazem, e este já está cheio demais.

A solução, portanto, é a de avançar, de forma cada vez mais firme e consciente. “Prometemos vencer, e venceremos”. Assim será. Não recuaremos nenhum passo. Muito pelo contrário, agora finalmente organizaremos nosso caminho, garantindo nossa vitória. É hora de organizar a autodefesa do bloco, que deve se estender, assim que possível, à autodefesa de toda a manifestação, movimento e classe, ao mesmo tempo em que devemos propagar a saída classista-combativa em reivindicações, métodos de luta e forma de organização.

Para radicalizar o movimento como um todo, é imperativo sairmos do controle da pelegada-polícia (que, como vimos, são os que “organizam” juntos os protestos). Em linha política, já se percebe o fracasso da defesa do impeachment, que não é uma forma de luta dos trabalhadores e que não virá enquanto a direita e o centro não se resolverem com a própria burguesia. Por isso as ruas se esvaziam e perdem o sentido que deveriam ter.

Além disso, até o momento não cobramos nada nem ninguém. Os protestos em São Paulo acontecem com grande intervalo e seu trajeto começa em um museu e termina em uma praça, sem passar por sedes de governo, de empresa ou de instituições responsáveis pelo genocídio, pela miséria e pela fome que abate nosso povo. É nosso dever construir um movimento classista, que cobre quem deve ser cobrado e que consiga se defender. As manifestações devem seguir até as portas dos palácios e secretarias, denunciando a todo momento os canalhas parasitas que nos assassinam!

Tudo isso, entretanto, não será suficiente se não for acompanhado de uma ruptura maior com as organizações pelegas e suas decisões antipopulares. Não podemos ficar reféns das reuniões de articulações nacionais que decidem cada vez mais afastar o povo pobre e trabalhador dos protestos e da luta. Não podemos sair às ruas apenas uma vez por mês e achar que um bloco de rua e uma fala em carro de som fará alguma diferença na realidade. É urgente tirar um calendário de luta que vá além das datas definidas pelas direções medrosas e covardes que nos mantêm de mãos atadas!

CONCLUSÃO: QUEM SAMBA FICA, QUEM NÃO SAMBA VAI EMBORA

Propagar a luta classista e combativa sem parar e não cair no isolamento que o Estado e seus tentáculos querem nos impor, eis a nossa tarefa atual. Para isso, é preciso criar um calendário próprio das organizações combativas, preparar nossa autodefesa e levar as manifestações e a raiva popular para os edifícios que simbolizam a opressão contra o nosso povo. Estas são algumas das propostas da FOB-SP para a primeira plenária de organização do Bloco Combativo.

Os próximos meses dirão o que aprendemos e o que ainda falta a fazer. Para além dos protestos, que neste momento mais consomem nossas forças do que trazem resultados, a luta diária continua, nos comitês de bairro, nas ocupações e territórios de luta. É preciso lembrar o poeta: os que lutam um dia são bons, os que lutam toda a vida são imprescindíveis! A organização e articulação são diárias e inegociáveis. Sem elas não avançaremos nem um passo.

Viva a Frente Classista e Combativa de São Paulo! Viva o Bloco Combativo! Avançar, agora, é recusar qualquer isolamento e se empenhar pra transformar os grandes atos, as mobilizações de bairro e toda a organização popular em uma grande rebelião em defesa dos direitos do povo pobre e trabalhador. É construir a greve geral, levantar as reivindicações dos trabalhadores, atacar nossos inimigos e organizar nossa defesa! Venceremos!

Sair do isolamento se tornar uma alternativa!

Construir a greve geral e organizar a rebelião!

Lute com a FOB! Construa o sindicalismo revolucionário!

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