No dia 15 de julho, o jovem Kelvin, de 16 anos, foi espancado e assassinado a tiros, depois teve seu corpo arrastado e suas roupas queimadas pela Polícia Militar, praticamente em frente à sua própria casa. O crime aconteceu na Vila Chico Mendes, no Monte Cristo, uma das comunidades de maior índice de vulnerabilidade social de Florianópolis. A versão da polícia é de que o garoto teria atirado contra os militares, os moradores contestam essa versão e afirmam que Kelvin sequer estava armado.
No dia 16, os moradores protestaram contra o assassinato, fechando as vias de acesso à vila com barricadas. Depois da manifestação, a polícia voltou a invadir a comunidade, reprimindo os moradores com bombas e balas de borracha.
Segundo o Coronel Araújo Gomes (comandante PMSC), a PM faz incursões diárias na comunidade, em operações de guerra às drogas e ao crime organizado. Naquele domingo, nenhum dos PMs usava câmeras nos uniformes. Para nós, o cuidado em omitir os dados sobre as operações policiais nas periferias significa que as práticas violentas da polícia são rotina nessa guerra contra os pobres. Os crimes cometidos pela polícia são comuns em operações em territórios periféricos, produzindo medo, violações de direitos e muitas mortes por parte das “forças de segurança”. Em Florianópolis, esses casos estão aumentando conforme se multiplicam as operações de guerra contra as facções, iniciada em 2017.
No dia 18, a secretaria estadual de segurança pública apresentou dados que apontam que a intensificação do policiamento no estado de SC desde o ano passado teve impacto positivo na diminuição de crimes violentos. Apresentou também um plano estratégico com o objetivo de tornar Santa Catarina o estado mais seguro do país até 2023. De acordo com o relatório da secretaria, 78% dos autores de homicídios e 65% das vítimas tem registro em ficha criminal. Mas em um país em que 236 mil pessoas estão privadas de sua liberdade sem terem passado por julgamento (35% da população carcerária), vemos que é fácil transformar pobres em criminosos.
Assim como Kelvin, a maior parte das vítimas da violência no Brasil tem entre 15 e 29 anos. A cada quatro pessoas assassinadas, três são negras. A maior parte, sem dúvida, se torna vítima (ou faz vítimas) devido ao contexto de marginalidade e violência cotidiana nas periferias, em que muitas vezes a única saída é matar ou morrer. O papel da polícia nessa tragédia não é pequeno. Em 2016, 453 policiais foram mortos em todo o país. No mesmo ano, policiais assassinaram 4222 pessoas.
A violência é imposta aos pobres como terror diário, para não deixar dúvida de que os ricos têm o poder sobre a vida e a morte de trabalhadores e trabalhadoras. Seu maior medo é que façamos rebeliões e paremos de sustentá-los!
Nos solidarizamos com os familiares de Kelvin e com todas as famílias negras e periféricas que resistem cotidianamente ao terror policial. O povo não aguenta mais ser morto pelo Estado. A revolta é justa! Se defender é justo! Bloqueios, piquetes e barricadas são a força coletiva do povo contra o terrorismo dos governos. Não devemos mais ter medo, eles é que devem!
Contra a violência policial e as execuções de negros pobres, organizar a greve geral!
Solidariedade e ação direta!