Ano VII – Edição Nº 32 – 19 de Novembro de 2014 – Desde 2007, na Luta pela Universidade Popular!
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Avançando a Luta Feminista: Reflexões, Autocríticas e Propostas!
Viemos por meio deste para que se bem entenda alguns pontos de nossa última edição de O Germinal – edição nº 31, “Nem machismo, nem calúnias”, de setembro de 2014. Nós, que há anos fazemos parte do setor combativo desta universidade, infelizmente, tivemos que escrever um texto esclarecendo as denúncias de agressões machistas e violação sexual direcionadas a nossos militantes. Em virtude de alguma parcela de recepção negativa e do pedido da Assembleia Geral das Ciências Sociais para que nos pronunciássemos novamente, tentamos aqui nos comunicar e desfazer equívocos de entendimento.
Qual postura teve a Oposição CCI/RECC?
Antes de qualquer explanação sobre as críticas ao Germinal nº 31, elencamos alguns pontos presentes nele:
- Embora a luta por novos valores e práticas seja diária, pois sua ocorrência domina a sociedade, desvio de conduta, como reprodução de autoritarismo e opressões, não pode ser normalizado: deve ser retificado!
- São acusações muito graves e não é permitido, nem a nós nem a ninguém, censurar sua investigação e a justa resolução.
- Temos um compromisso com a luta pela emancipação dos explorados e oprimidos. Este é, antes, um compromisso com a verdade. Não admitimos semelhante conduta machista em nosso meio e, sempre que insistam em ocorrer, trataremos de retificá-las. Aprendemos e aprenderemos com a prática, sempre mais viva que a teoria.
- Não somos um grupo político perfeito e fazemos a autocrítica quanto a casos considerados “não solucionados”, ou tratados com morosidade! Aprendemos cotidianamente com a prática! Apuraremos as denúncias machistas que nos couber, como temos feito com seriedade, justiça, e longe de coleguismos!
Fato que deve ser mencionado é que à época da produção daquele texto nos encontrávamos pressionados por respostas públicas. Tentamos de toda forma produzir um texto em respeito à base e para esclarecimento geral. Como um coletivo que atua na UnB e tem um histórico de luta e combatividade, não poderíamos permitir que se falasse mentiras em nosso nome como se fossem a verdade mais absoluta ou a mais nova lei geral da ciência. Ao mesmo tempo, tratamos de assumir aquilo que é verídico.
Ao longo do último ano, 4 militantes foram afastados, considerando a militância em todo Brasil, dois deles no DF. Todos casos, passaram ou passam por um processo de complexa apuração de evidencias e democrática participação interpretativa e deliberativa. Admitimos que os casos que envolviam pessoas presentes em estados distintos tiveram uma abordagem mais lenta, mas os acontecimentos localizados foram rapidamente deliberados.
Em nenhum momento foi de nossa intenção menosprezar os fatos ocorridos, tratar as denúncias de maneira insensível, esconder ou acobertar os erros cometidos por nossos militantes; bem como menosprezar a importância da organização das mulheres em torno da emancipação diante do machismo, do racismo e da homofobia. Em todo esse tempo de “silêncio” lutamos para que todos esses erros fossem devidamente corrigidos.
Sobre estupro, ideologia e espaço auto organizado
A respeito da discussão sobre “concepções de estupro” presente no último Germinal (nº 31). Ao evocar e explicar o termo “estupro clássico” como o “atentado violento do cara que sai de trás da moita”, afirmamos com clareza que este se trata do imaginário popular. Evocamos esta interpretação pois nos opomos dela. No imaginário popular, tudo que foge deste tipo de violência sexual não é considerado estupro. Assim, de nenhuma maneira foi nossa intenção “amenizar os termos”. Ao contrário, evidenciamos esta discussão para afirmar que este imaginário está equivocado, que não concordamos com ele.
Neste sentido gostaríamos de esclarecer que compartilhamos do sentido feminista de não eufemizar nenhum tipo de agressão física, psicológica ou moral. Nenhum tipo de agressão pode ser desconsiderada ou suavizada! As deliberações e punições para os militantes denunciados não se deram a partir de qualquer percepção sobre os “graus de gravidade” das agressões. Ao tratar as denúncias, o que levamos em consideração foi a autocrítica sincera nos termos da organização, bem como a observação da conduta de cada militante de maneira permanente na prática.
Nossa política na resolução dos casos tem se norteado por um sentido de justiça restaurativa. Nesta, há o atendimento das necessidades da vítima ao mesmo tempo em que o agressor é convocado a participar do processo de reparação do dano, visando um processo de reintegração à sociedade, em lugar da simples ação punitiva. A mera punição, mesmo que necessária, nem sempre restaura a moral e pode levar a recorrência das práticas condenadas.
A respeito do tópico no Germinal nº 31 abordando algumas linhas ideológicas do feminismo, esclarecemos: não foi nossa intenção vincular e nem generalizar que todas que estiveram participando do espaço auto organizados de mulheres eram adeptas daquelas concepções às quais tecemos críticas. Discutimos pós-modernismo, manifesto scum, sororidade e feminismo classista para evidenciar que existem diferentes visões do feminismo por vezes presentes nos mesmos espaços. Ajuda esclarecer o porquê ocorrem divergências.
Compreendemos que não estamos fora do lócus onde se reproduz o machismo e o patriarcado. Na sociedade, e também nossos membros, estão passíveis da reprodução de práticas machistas. No entanto, não concordamos com a naturalização de práticas opressoras de qualquer ordem. Não nos omitimos da crítica externa e da autocrítica interna. Nos colocamos à disposição para o diálogo. Reconhecemos a dificuldade em apurar os casos que envolvem pessoas de locais/cidades distintas, bem como a morosidade no tratamento das primeiras denúncias. Entre outros fatores, fazemos a autocrítica sobre a falta de acúmulo e dispositivos para o tratamento das denúncias, em nosso coletivo e no movimento estudantil em geral. Diante disso estamos em constante processo de aperfeiçoamento nos métodos para apurar e corrigir má conduta.
Não nos colocamos contra os espaços auto-organizados de mulheres! Havia militantes da Oposição CCI construindo juntas com outras estudantes o espaço. Cabe aqui relembrar que essas militantes de nossa organização foram posteriormente excluídas desse mesmo espaço, levadas a tal em virtude de ameaças e intimidações. Da mesma maneira que entendemos a necessidade de espaços exclusivos para mulheres, no que tange a discussão feminista, acreditamos também na construção de espaços “mistos”, em que seja levada a discussão entre todos/as a respeito de questões que cercam toda a sociedade, como o próprio machismo.
Combatendo o machismo do povo para combater o capitalismo e seu machismo estrutural
Ressaltamos que no último semestre, antes da última denúncia surgir, nosso coletivo passou por um intenso processo de reavaliação e autocrítica (visando combater qualquer manifestação de cupulismo, ausência de críticas, coleguismo, sectarismo, machismo e homofobia). Sabemos por outro lado, por nossa defesa do feminismo, que tais casos nunca devem receber qualquer tipo de tratamento secundário.
Em Fortaleza, no Rio de Janeiro, em Campo Grande, Marília, Goiânia, entre outras localidades do país, a militância da RECC/FOB está empenhada na construção de Comitês de Autodefesa de Mulheres. O evento “Questão de Gênero: emancipação e autodefesa das mulheres”, a ser realizado dia 25/11/14, buscará avançar neste objetivo em Brasília.
Compreendemos que uma das medidas mais eficazes para que as mulheres sejam protagonistas na luta por sua emancipação, é participar e impulsionar Comitês desta natureza. Neles, além das aulas práticas de autodefesa, são feitas discussões sobre as mais diversas temáticas feministas, que a nós também são caras. Entre as práticas encorajadas e levadas a cabo está a empostação de voz para que as mulheres saibam e se contraponham à prática opressora que se dá quando o homem fala mais alto e exerce seu privilégio.
Assim acreditamos que seja imprescindível combater o machismo dentro das organizações, pois esta mazela atinge TODAS as estruturas sociais, todos movimentos populares. E os movimentos políticos e sociais devem ser fortalecidos para combaterem o machismo estrutural da sociedade, iniciando o combate às opressões em seu seio. Pois é o capitalismo que não vive sem as opressões. E os movimentos combativos devem destruir o capitalismo, e não serem destruídos.
A despeito de posturas erradas que nunca encorajamos, estamos diariamente lutando para que nada disto venha a interromper nossa luta. Estamos na batalha pela disputa de projeto de universidade popular que hoje se expressa na resistência contra o reinado de Ivan Camargo e o principado que é o DCE da Aliança pela Liberdade.
MULHERES NA LINHA DE FRENTE PELA EMANCIPAÇÃO INTEGRAL DA CLASSE TRABALHADORA! CONSTRUIR O FEMINISMO CLASSISTA! VIVA A LUTA COMBATIVA! AVANTE!
Oposição C.C.I. – Combativa, Classista e Independente ao DCE da UnB / Filiada à RECC-FOB
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