Saudações mulheres do povo!
Este é mais um 8 de março do qual estamos cansadas de ganhar flores enquanto que no restante do ano temos apenas a violência, o machismo e a invisibilidade a nossa volta. Neste sentido, é tempo de entendermos o quão urgente é o rompimento com um dia das mulheres voltado apenas para a comemoração e exaltação da nossa feminilidade.
Segundo o Mapa da violência, o número de vítimas por homicídio passou de 1.353 mulheres em 1980, para 4.762 em 2013, caracterizando um aumento de 252%. A taxa, que em 1980 era de 2,3 vítimas por 100 mil, passa para 4,8 em 2013, com um aumento de 111,1%. Este é um dado alarmante e que requer organização e muita luta para derrubá-lo. Uma das vítimas, emblemática e recente, que se soma a este dado, foi Claudia Silva Ferreira. Claudia foi baleada ao ir comprar pão no dia 16/03/2014, colocada de qualquer jeito no camburão da Polícia Militar do RJ e arrastada por 350m. Foi mais uma mulher negra, pobre e favelada assassinada pelo braço armado do Estado.
Em 1 de fevereiro de 2016, a sindicalista Francisca Chagas também foi assassinada com requintes de crueldade: corpo nu, achado no meio da lama com sinais de estrangulamento, perfurações e violência sexual. Uma mulher que pagou um preço muito alto por sua luta pela terra.
Além desses casos citados, é importante falarmos dos assassinatos a mulheres travestis e transexuais. Nos vinte primeiros dias de 2016 foram 56 vítimas só no Brasil, um dado expressivo que não podemos aceitar. Ainda no que diz respeito à violência sofrida pelos LGBTT, é preciso falar da lesbofobia – discriminação e repulsa à mulheres que se relacionam sexual e/ou afetivamente com outras mulheres – que também tem feito cada vez mais vítimas. São muitos os casos de mulheres lésbicas que passam por estupros corretivos, espancamentos e violência psicológica.
Neste sentido é preciso que não nos intimidemos frente a nenhuma violência! É urgente que nós mulheres saibamos que só a ação direta nos levará a emancipação! E nossa emancipação somente será completa quando todo o povo for livre de toda forma de opressão e exploração. A luta contra o machismo não está desvinculada da luta de classes.
Um dos exemplos mais atuais e de grande expressividade, no que diz respeito a luta da mulher/luta da classe trabalhadora, são os conflitos que estão ocorrendo no Curdistão. Kobane é uma cidade independente curda, parte do Curdistão Sírio ou Curdistão do Oeste, também chamado de Rojava (oeste em curdo). Kobane se encontra sob forte ataque do Estado Islâmico desde de meados de 2014 e os guerrilheiros do YPG (Unidades de Defesa do Povo) vem resistindo bravamente. E grande parte do êxito desta luta vem da YPJ (Unidade de Defesa das Mulheres) que é a ala feminina do YPG.
A luta pela libertação da mulher não está separada da emancipação dos trabalhadores. As guerreiras de Kobane lutam pela liberdade de seu povo e de suas mulheres que não aceitam viver sob a violência do Estado Islâmico – sendo escravas sexuais – e nem sob a opressão dos EUA – como trabalhadoras exploradas.
A emancipação da classe trabalhadora exige o empenho de homens e mulheres na luta contra os opressores do povo. Só uma base feminista sólida e organizada pode trazer as mulheres trabalhadoras para a luta. É esse feminismo classista que derrubará o machismo e toda violência que este carrega consigo. Que possamos seguir o exemplo das companheiras de Kobane e lutar contra o machismo e a opressão que atinge todas as mulheres do povo!
Viva a luta da mulher trabalhadora!
A luta do povo é a luta da mulher, a luta da mulher é a luta do povo!
A libertação da mulher está na ponta do fuzil!
É no fuzil, é na peixeira, vamos montar um batalhão de guerrilheiras!
Segue este texto em panfleto: Seremos Kobane!