Comunicado do Sindicato Geral Autônomo do DF e Entorno (SIGA-DFE)
O 8 de Março como parte da luta diária das mulheres trabalhadoras deve ser visto de dois ângulos: as relações no interior do povo, nas comunidades e famílias; e nas relações de classe, com governos e patrões.
A situação do país é de grande desemprego, por um lado, e de intensas jornadas de trabalho com baixos salários, por outro. O desemprego é maior para mulheres do que para homens, em setembro de 2020 foi de 11,8% entre homens e 16,9% entre as mulheres, segundo o IBGE. E a oportunidade de trabalho é ainda menor para mulheres com filhos pequenos. Para as mulheres, os salários são ainda mais baixos do que para os homens. Sendo o salário das mulheres negras ainda menor comparado ao das brancas. Quanto maior o desemprego, menores tendem a ser os salários, pois os patrões se aproveitam do desespero e necessidade do povo para oferecer salários mais baixos. Assédio moral e sexual também fazem parte do cotidiano das relações de trabalho das mulheres por patrões que se sentem seus donos.
Mas a exploração econômica e opressão sobre as mulheres trabalhadoras não acaba aí. No Brasil, o tempo que as mulheres dedicam às tarefas domésticas é superior ao dos homens. Em 2019, e acordo com o IBGE, as mulheres dedicaram 21,4 horas semanais em média aos cuidados de pessoas e afazeres domésticos contra 11 horas dos homens. Essas tarefas, de cuidados com a casa (alimentação, limpeza, organização etc.) e com os filhos, é fundamental para a reprodução da vida humana de toda a sociedade. Porém, ela é vista como se fosse obrigação natural das mulheres – e muitas vezes como tarefa exclusiva.
CUIDAR DA ALIMENTAÇÃO E LIMPEZA É UM TRABALHO VITAL E SOCIALMENTE NECESSÁRIO
Lavar, passar, cozinhar, fazer a feira, cuidar dos filhos. As tarefas domésticas fazem parte dos bastidores que sustentam a sociedade. Mas são tarefas tratadas como se fossem invisíveis e é comum não serem reconhecidas sequer como trabalho. Muitas vezes são menosprezadas como serviços “leves”. Principalmente quando é realizado pelas mulheres de nossas famílias. É um trabalho reprodutivo não pago, e que sobrecarrega as mulheres com duplas jornadas de trabalho (fora e dentro de casa) ou as torna “escravas do lar”. Esta condição de submissão acaba levando a casos de violência doméstica, seja ela psicóloga, física ou sexual.
Sobrecarregadas, humilhadas, não pagas e invisíveis: essa é a condição da mulher trabalhadora no Brasil. As tarefas domésticas também devem ser reconhecidas como trabalho, mesmo tendo diferenças do emprego fora de casa. É preciso dizer: Donas de casa são Trabalhadoras. E é preciso organizar um movimento de trabalhadoras donas de casa, espinha dorsal de muitos movimentos comunitários.
Reconhecer isso é o um passo para mudarmos as relações culturais que exploram e oprimem as mulheres no interior das famílias e entre suas comunidades. Mas não basta ter consciência disso, é preciso mudar as coisas na prática. Assim, realizar a divisão do trabalho doméstico de forma mais justa entre homens e mulheres é também uma condição que permite as mulheres participarem da vida profissional, pública e política com maior liberdade e igualdade.
GREVE DE MULHERES
Assim, neste 8 de Março, aderimos a campanha internacional pela Greve Geral de Mulheres. Por um lado, buscando organizar paralisações femininas nos locais de trabalho por demandas imediatas que pressionem os patrões: salários atrasados, direitos descumpridos etc. O dia pode ser ocupado com rodas de debate, propaganda ou atos de rua. Essas paralisações devem servir de preparação e acúmulo de forças para uma Greve Geral de toda Classe Trabalhadora brasileira.
Por outro lado, a Greve do 8 de Março deve buscar uma ação inovadora: organizar paralisações dos serviços domésticos feitos pelas mulheres no interior das casas brasileiras. Essa ação é uma medida educativa entre o povo, contra a discriminação machista, de reconhecimento da importância do trabalho doméstico e da dignidade das mulheres. Essa ação visa também construir divisões justas das tarefas domésticas no interior das nossas famílias e lares.
Durante esta paralisação podem ser organizados debates e ações comunitárias, inclusive de diálogos com os familiares sobre a importância e dificuldades do trabalho doméstico. Aqui, as Mulheres podem também discutir e exigir dos governantes a criação ou ampliação de Restaurantes Comunitários, Postos de Saúde, Lavanderias e Creches Públicas como forma de abrir postos de trabalho para homens e mulheres desempregadas e dividir com a sociedade o peso das tarefas domésticas não pagas carregado pelas mulheres.
Além disso, a Greve de Mulheres visa liberar um tempo precioso para que as mulheres trabalhadoras possam se organizar politicamente e liderar movimentos pelo auxílio emergencial, vacinação, contra a inflação, o desemprego, o machismo e pela libertação da classe trabalhadora.