Sobre a chegada em Madri das delegações zapatistas, do CNI-CIG e da Frente dos Povos em Defesa da Água e da Terra de Morelos, Puebla e Tlaxcala

Sobre a chegada em Madri das delegações zapatistas, do CNI-CIG e da Frente dos Povos em Defesa da Água e da Terra de Morelos, Puebla e Tlaxcala

A comissão da FOB em Chiapas, México, traduziu essa mensagem de saudação e acolhida da Confederação Nacional do Trabalho (CNT) à caravana do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) aos cinco continentes, começando pela Europa, particularmente pela Espanha. A comissão da FOB no México segue firme em sua missão internacionalista, aprendendo e buscando contribuir com as ações de solidariedade diante da atual escalada de violência estatal e paramilitar contra as comunidades zapatistas. Basta de guerra ao EZLN! Por um internacionalismo dos povos!

Fonte: CNT (https://www.cnt.es/noticias/sobre-la-llegada-a-madrid-de-las-delegaciones-zapatistas-del-cni-cig-y-del-frente-de-pueblos-en-defensa-del-agua-y-de-la-tierra-de-morelos-puebla-y-tlaxcala/)

Companheiras, companheiros e companheiras zapatistas,

Mais uma vez estamos surpresos e entusiasmados em ouvir vossa palavra, calma, precisa, emocionante, sedutora, rebelde, profunda, sábia. Há muitos de nós que, tanto a partir de nosso sindicato como a partir da CNT como um todo, temos seguido vocês por anos, décadas, lendo, escutando e admirando vocês. Também temos compartilhado encontros internacionais, galácticos e extra-galácticos em suas comunidades e caracóis. Embora, como organização, não conseguimos estruturar este apoio, que esperamos resolver em breve, temos acompanhado seus passos e refletido sobre vossos comunicados desde 1º de janeiro de 1994. Nós os levamos conosco em nosso dia-a-dia, tanto em questões “meramente” organizacionais como no nível da utopia, tão importante para nossa jornada e talvez um tanto esquecida.

A necessidade de atender ao imediato e ao concreto em cada luta, a situação de emergência social que só piora, a doutrina do choque aplicada pela hidra capitalista sobre nossas vidas e a urgência de chegar ao fim do mês, fazem com que nem sempre seja fácil encontrar tempo e energia para olhar um pouco mais além e imaginar como será esse mundo em que caberão muitos mundos. Como nos aproximar, em nossa geografia e calendário, a esse novo mundo que carregamos em nossos corações.

Nesse sentido, vossa dignidade rebelde, o confederalismo democrático de nossos camaradas curdos ou tantas outras experiências e conhecimentos de luta nos cinco continentes, estão provando que a vida pode realmente vencer o dinheiro. Que a alternativa para esta velha desordem mundial passa pela autonomia dos povos, pelo transfeminismo e o descolonialismo, pela ecologia e pelo cooperativismo. Não mais pelos velhos Estados-nação, nem pelo extrativismo, nem pelo consumismo, nem pelo individualismo, nem pelo mercado livre, ou o que seja.

Talvez nos últimos anos tenhamos nos tornado cada vez mais conscientes dos muitos problemas que antes nem sequer estavam sobre a mesa, fortalecendo-nos cada vez mais com todas aquelas vozes antes inauditas, todas essas comunidades que longe de serem minorias, nós somos a maioria. É claro que, falta o que falta, que é muito e é complexo.

Como podemos articular as resistências e rebeldias contra nosso inimigo comum, a modernidade capitalista, levando em conta que este mesmo inimigo nos coloca em lugares muito diferentes, hierarquizando nossas vidas através destes muitos sistemas que é o sistema: o cisheteropatriarcado, o sistema racista-colonial, o próprio capitalismo de classe e ecocêntrico… Ou seja, como sermos camaradas apesar dos (des)privilégios que nos cruzam, para juntos pararmos com este massacre e fazermos com que a vida valha a alegria e não a pena.

Juntamente com todos os coletivos e organizações desta Madriz rebelde, popular e libertária, a Madriz do PAH e dos grupos de moradia, dos coletivos feministas, anti-racistas e LGTBQ+, das organizações de migrantes, dos sindicatos de base, das plataformas em defesa dos serviços públicos, da Madriz de baixo e à esquerda, gostaríamos de participar da organização da acolhida, do apoio e do acompanhamento que possam ser necessários para as delegações indígenas, que desde o México, 500 anos após a suposta conquista, virão à nossa cidade e ao nosso continente, para nos dizer que ainda lá estão, vivendo, isto é, resistindo. Nós os esperamos com alegria e nervosismo. Organizando-nos.

Com a permissão do falecido Sub-Marcos, do Subcomandante Insurgente Moisés, da Comandância Geral do EZLN e de todas as bases de apoio zapatistas, nos despedimos adaptando um clássico…

Desde os bairros do sudeste madrilenho,

CNT Comarcal Sur Madrid.

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