(Tese 1) A classe trabalhadora e seus dilemas atuais

(Tese 1) A classe trabalhadora e seus dilemas atuais

Teses para construção de uma Tendência Classista e Internacionalista

Tese 1: A classe trabalhadora e seus dilemas atuais


1) Os trabalhadores do Brasil e do mundo enfrentam atualmente um dilema histórico. Esse dilema está materializado no fato de que a desigualdade social e a opressão se aprofundam ao mesmo tempo em que suas organizações (sindicatos, partidos e demais associações) estão cada vez mais integradas aos sistemas políticos e às próprias engrenagens da economia capitalista.

2) Porém, o que se torna cada vez mais evidente é que não somente essa participação e integração não garantem a representação dos interesses dos trabalhadores e suas reivindicações, como também suas organizações se voltam de forma cada vez mais ativa contra os interesses do povo em geral, promovendo reformas políticas antipopulares; políticas econômicas que empobrecem e eliminam direitos sociais; a burocratização das organizações, sufocando a participação das bases e frequentemente coordenando a repressão contra as manifestações populares autônomas.

3) O dilema histórico é na realidade fruto da evolução da hegemonia de tendências ideológicas e políticas na luta de classes e organizações dos trabalhadores. No Brasil e no mundo diferentes tendências confluíram para um pacto com os capitalistas e os Estados burgueses. Esses pactos levaram a uma degeneração das organizações e a um abandono das causas populares (de natureza socialista, democrática e revolucionária) em favor de objetivos particularistas (das burocracias sindicais e partidárias, ou mesmo nacionalistas) cada vez mais aburguesadas. Dessa maneira, para enfrentar o dilema atual dos trabalhadores é preciso fazer um balanço histórico da luta de tendências, mostrando a necessidade de redefinir os objetivos, métodos de organização e formas de luta dos trabalhadores. Esse é um passo essencial da reconstrução de uma tendência classista e internacionalista que seja capaz de mudar a direção política e ideológica das organizações e das lutas.

4) O que é uma tendência? Podemos dizer que a tendência pode ser considerada tanto como uma estrutura organizativa bem delimitada, quanto um conjunto não necessariamente centralizado de organizações que funcionam de acordo com os mesmos parâmetros e agem com estratégias similares. Em geral podemos dizer que uma tendência: A) compartilha uma visão ou teses que explicam o funcionamento da sociedade, das relações entre economia e política, sociedade e Estado, classes sociais e suas contradições, concebe certa hierarquia entre eles de maneira que essa visão orienta suas decisões e ações; B) compartilha uma visão de objetivos, métodos de ação e formas de organização, e especialmente certas práticas organizativas e de luta, que permite que ela (mesmo sem uma estrutura única ou centralizada) conflua para objetivos similares; C) ela compartilha não somente reivindicações imediatas, de categorias ocupacionais e grupos profissionais particulares, mas um projeto de sociedade, com reivindicações universais e certos valores ideológicos que fazem com que ela não seja simplesmente uma organização corporativa ou economicista. Quer dizer, uma tendência, seja como organização formalizada e consolidada, seja como uma rede de grupos locais autônomos, apresenta sempre essas características.

5) Podemos dizer que os diferentes tipos de sindicatos, cooperativas, partidos e outras associações de trabalhadores estão divididos em diferentes tendências desde o seu surgimento no século XIX. O período em que se pôde conceber entidades “puras”, exclusivamente profissionais ou corporativas, é extremamente reduzido, se é que ele realmente existiu. A formação das associações operárias e do sindicalismo logo evoluiu para formas internacionais, de maneira que entre 1800 e 1870, os sindicatos, trade-unions e demais associações profissionais locais rapidamente se tornaram organizações nacionais e internacionais. A internacionalização das lutas dos trabalhadores se deu num contexto de transformação capitalista, em que ele cada vez mais rapidamente abandonava sua máscara liberal e assumia sua forma monopolista, autoritária e colonialista. Assim, o internacionalismo dos trabalhadores foi uma resposta a internacionalização do capital e do Estado. Por outro lado, as burguesias e setores nobiliárquicos europeus criaram uma forma internacional de pacto interestatal, a “Santa Aliança”, que por sua vez era uma resposta às revoluções liberais (especialmente a francesa) e a ameaça que esta representara. Mas não somente a reação internacional ou externa se deu, ocorreu também uma reação interna contra o aprofundamento da revolução. Essa estruturação de uma política internacional contrarrevolucionaria delimitou a contradição histórica principal na qual se formou o movimento internacional dos trabalhadores.

6) Na Europa um movimento contrarrevolucionário se formou para combater a radicalidade da revolução francesa e logo o liberalismo, que tinha sido uma expressão política contestatória dos antigos regimes, se reconciliou com o conservadorismo. Isso se deu tanto na sociedade quanto no sistema interestatal com a Santa Aliança. A burguesia, que tinha buscado aliança com artesãos e camponeses, se voltou para a nobreza e os militares para defender o regime de propriedade privada capitalista. A burguesia e pequena-burguesia radical sobreviveram apenas enquanto força minoritária no jacobinismo e republicanismo.

7) Dessa maneira o movimento dos trabalhadores surgiu num contexto em que a política internacional e as relações internacionais tinham sido marcadas por uma nova contradição: a divisão entre revolução (amparadas nas experiências da revolução anticolonial norte-americana e haitiana, e também das revoluções antimonárquicas inglesa e francesa) e contrarrevolução. A polarização entre liberalismo-republicanismo e conservadorismo-monarquismo tinha sido transformada. Vários republicanos eram agora conservadores e monarquistas, assim como a Inglaterra se tornou liberal na economia. Mesmo o republicanismo radical jacobino não reconhecia plenamente o protagonismo dos trabalhadores e seu lugar na revolução. Criava-se assim um vácuo histórico, já que as ideologias e programas não mais atendiam aos anseios dos trabalhadores e povos oprimidos.

8) Por isso, os trabalhadores rapidamente foram obrigados a desenvolver suas próprias críticas sociais, políticas e teóricas. O socialismo surge como parte desse movimento, prático e teórico, de ruptura com o liberalismo e luta contra o conservadorismo. Os trabalhadores vão progressivamente se reconhecendo como uma força social autônoma e se constituindo enquanto agente histórico de mudança, enquanto classe social. Logo, o socialismo era uma tomada de posição diante da divisão da política internacional, era uma tomada de partido crítica ao liberalismo e ao conservadorismo, que estavam cada vez mais fundidos no grande bloco da contrarrevolução, com raras exceções.

9) Foi exatamente dentro desse processo de internacionalização das lutas e das formas associativas dos trabalhadores que se formaram as diferentes tendências, sendo as duas principais tendências internacionais do século XIX a tendência anarquista e a comunista ou social-democrata, ambas constituídas no interior da Associação Internacional dos Trabalhadores como forças sociais e políticas que se tornariam mais tarde projetos políticos mundiais. Eles também surgem se posicionando na divisão da política internacional entre revolução e contrarrevolução. Essas tendências tinham diferentes métodos e objetivos para realizar e emancipação dos trabalhadores e a construção do socialismo. A tendência anarquista considerava a centralidade das associações de trabalhadores, com a sua forma internacional, e o método da greve e da ação direta para destruir o Estado capitalista e coletivizar as propriedades burguesas. A tendência comunista ou social-democrata considerava a centralidade do partido político de massas, que deveria conquistar o Estado capitalista através especialmente de eleições e transformá-lo em um Estado socialista com reformas econômicas. Essas duas tendências teriam uma história muito acidentada, já que enfrentaram repressão e diversas cisões internas.

10) Essas tendências travaram uma luta política dentro da AIT, que sofreu uma cisão em razão dela, de maneira que uma AIT da tendência anarquista entrou em operação e outra de tendência comunista, que foi extinta em 1876. A AIT dirigida pelos anarquistas continuou sustentando diversas lutas e foi responsável pela difusão do sindicalismo revolucionário nas Américas (nos EUA, México, Argentina e Uruguai especialmente). Mais tarde os anarquistas, mesmo depois de sua dissolução (entre 1878-1880), tentaram recriá-la, como aconteceu nos EUA com a formação da IWW. A tendência comunista e social-democrata se tornou especialmente importante na Alemanha, Inglaterra, nos Países Nórdicos e na França, na qual dividiram a influência com os anarquistas e outras tendências locais.

11) Entre 1889 e 1896, ocorreu novamente a tentativa de construir uma Associação Internacional de Trabalhadores. Acontecia esse congresso pouco tempo depois das sangrentas lutas dos trabalhadores nos EUA, que terminou com a execução dos “mártires” de Chicago. No Congresso Internacional dos Trabalhadores de 1889 mais uma vez se reuniram anarquistas e comunistas para tentar unificar o movimento internacional. No entanto, a política da tendência dos partidos social-democratas levou a uma nova cisão internacional em duas tendências separadas, já que expulsaram os anarquistas. Ao mesmo tempo, consolidou a visão dos social-democratas/comunistas, de que a Internacional era de “partidos” e não das organizações de representação direta dos trabalhadores, rompendo assim com a natureza da AIT histórica fundada em 1864. Essas tendências passaram então a se confrontar na Europa e nas Américas, se diferenciando cada vez mais entre si e depois também internamente, já que elas próprias se diferenciariam em setores reformistas e revolucionários.

12) Mas não somente as lutas e a evolução interna das tendências determinaram seu destino. Na realidade, as contradições de classe, as estruturas econômicas e o próprio aprendizado das burguesias e dos Estados foram fundamentais. Enquanto os trabalhadores se organizaram e construíram uma política mundial, os Estados e as burguesias responderam com repressão. Esse foi o principal método até 1880. Mas os Estados e as burguesias perceberam que a repressão não estava contendo a expansão dos movimentos socialistas e suas diferentes tendências. Assim, o principal aprendizado desse período foi que não bastava reprimir, era preciso dividir e cooptar os trabalhadores. E essa divisão foi sendo realizada com a construção de uma tendência conservadora nas organizações dos trabalhadores. Ou seja, não somente as tendências surgidas de baixo, das lutas dos trabalhadores, disputariam a hegemonia do movimento, mas uma tendência criada de cima, pelos Estados e pelas elites.

13) Essa tendência conservadora evoluiu de diferentes maneiras. Em alguns países, uma ala conservadora era criada de dentro do Estado, como na Rússia anterior à revolução de 1917, em que os sindicatos foram criados como órgãos estatais. Em países como Itália e Alemanha, desenvolveu-se um conservadorismo societário, ligado ao empresariado burguês ou setores nobiliárquicos e a Igreja, e depois com o fascismo ocorreu uma estatização das organizações dos trabalhadores. De maneira geral, o importante é que rapidamente essas organizações se formaram como uma tendência conservadora que realizava a luta ideológica contra anarquistas e comunistas. A importância dessa tendência é muitas vezes subestimada na história. Ela foi, em várias ocasiões e em vários países, a tendência hegemônica exatamente por ser expressão dos contrarrevolucionários no poder. A Igreja e os Partidos Liberais e Monárquicos seriam os principais artífices e promotores das organizações dessa tendência conservadora no início do século XX.

14) Ao longo do século passado e início do século XXI, diversas manifestações de origem empresarial ou estatal dessa tendência conservadora foram criadas, sendo talvez o melhor exemplo os sindicatos toyotistas e as formas de cooptação pela participação nas direções das empresas. No século XX e XXI o “republicanismo” mudou de nome e virou “nacionalismo”, “desenvolvimentismo”, “trabalhismo”, “socialismo democrático”, “bolivarianismo”, mas todos são variantes dessa ideia de um republicanismo burguês radical, de um governo forte que atende às aspirações sociais das massas. Em alguns contextos ele se materializava num modelo social-democrata e cumpria um papel mobilizador, em outros ele se integrava nesses modelos conservadores. Daí sua ambiguidade, pois ela não chegou a constituir um modelo próprio de movimento social, mas era orientado pelo pragmatismo imediato e da luta pelo poder do Estado.

15) Podemos dizer que em termos de caracterização de cada uma dessas tendências, elas se diferenciam da seguinte maneira: na anarquista, a organização central são as organizações dos trabalhadores como fonte de legitimidade e exercício do poder, sendo o partido ou organização política uma instância iniciadora e diretiva, em que o Estado é a expressão de um poder de classe que deve ser destruído. Na visão socialdemocrata/comunista, o Partido de Massas é a fonte e o sujeito de exercício de poder, sendo diretiva e ao mesmo tempo tutora das organizações de trabalhadores, que sem o partido seriam meras formas profissionais, e a natureza do Estado é determinada pelo partido e pela política econômica que o controla. Já na conservadora, o Estado é o órgão central de controle organizacional, sendo os sindicatos e as organizações partidárias extensões do Estado e formas de integrar e evitar que os trabalhadores realizem lutas antissistêmicas. São, portanto, apenas órgãos de assistência e política social, e não de luta.

16) Dessa maneira, o movimento dos trabalhadores nunca foi “puro”, ou seja, sem posições políticas e ideológicas e sem divisões de tendências. Na realidade, as associações e movimentos dos trabalhadores se politizaram e se internacionalizaram rapidamente, dividindo-se a princípio em duas tendências socialistas internacionais, que por sua vez foram divididas de modo vertical, por uma nova tendência conservadora (de origem estatal ou societária). Foi com essa configuração que os trabalhadores entraram no ciclo das revoluções do século XX. As associações profissionais e ocupacionais isoladas ficavam gravitando em torno da política dessas tendências, sendo atraídas para sua órbita. As associações recém-criadas estavam também obrigadas a se posicionar, conscientemente ou não, no quadro dessa luta de tendências. E o mesmo acontece ainda nos dias de hoje.

17) De maneira geral, o século XX pode ser caracterizado como século de ascensão e queda das tendências socialistas. As revoluções e as guerras mundiais foram duros testes, e a participação das tendências anarquista e comunista foram fundamentais para o seu desenrolar histórico. Além disso, podemos notar que a política internacional e a contradição entre revolução e contrarrevolução foi substancialmente modificada por um acontecimento: a Revolução Russa. Esse acontecimento transformou totalmente a história dos movimentos socialistas e do sindicalismo.

18) Podemos dizer que no início do século XX a política mundial foi condicionada por certa divisão de áreas de influência. A tendência anarquista tinha se difundido de diferentes maneiras, mais especialmente nos países periféricos. A sua força principal estava na periferia da Europa (Itália, Portugal e Espanha especialmente) e nas Américas (México, Argentina, Uruguai especialmente, mas também no Brasil). Na França uma tendência importante foi o sindicalismo revolucionário, que buscava se afirmar como uma corrente distinta dentro do movimento internacional. A tendência comunista/social-democrata está especialmente enraizada na Inglaterra, Alemanha, Áustria e demais países centrais da Europa, de modo que a social- democracia e os Partidos Socialistas ganharam força em diferentes governos e eleições. Os anarquistas tinham muita influência na concepção de organização que era expressa na CGT (Confederação Nacional do Trabalho da França), na Confederação Nacional do Trabalho (Espanha), Casa Del Obrero (México), Fora (Federación Obrera Regional Argentina) e COB (Confederação Operária do Brasil).

19) Entretanto, a revolução mexicana e russa modificariam substancialmente o quadro. No México, a tendência anarquista experimentou uma série de contradições assim que eclodiu a revolução. Na Rússia e na Europa a social-democracia começou a demonstrar traços de degeneração. Ela tinha se tornado uma força cada vez mais reacionária e burguesa, atuando para fortalecer os Estados e burocratizar os sindicatos e organizações dos trabalhadores. Nesse quadro a Rússia apresentou uma importante cisão, a do PSDOR-Bolcheviques, que fizeram a política de oposição aos social-democratas antes da Revolução de 1917. A Revolução Russa de 1917 marcou a mais importante cisão. Definitivamente ocorreu uma separação entre a social-democracia e o comunismo, que duraria até o fim da segunda guerra mundial.

20) De maneira geral, podemos resumir a história da seguinte maneira. Entre 1917 e 1945, a tendência anarquista e a tendência social-democrata começaram a conhecer degenerações e cisões. A socialdemocracia se dividiu e surgiram os Partidos Comunistas, criados sob a influência da Internacional Comunista e também da Internacional Sindical Vermelha (criada em 1921 e extinta em 1937), como manifestação de um sindicalismo revolucionário de inspiração comunista. Até 1930, a Revolução Russa sofreu um processo progressivo de burocratização que culminou com a contrarrevolução stalinista na mesma década. Por isso, os partidos social-democratas e os partidos comunistas estabeleceram uma luta pela direção dos sindicatos, que se expressou na luta entre um sindicalismo social-democrata e um sindicalismo revolucionário comunista. Mas essa experiência se encerrou com a contrarrevolução stalinista. Depois dos anos 1930, a linha política da URSS seria a mesma da antiga social-democracia.

21) A tendência anarquista, materializada especialmente na CNT espanhola, refundou a AIT em 1923 e se dividiu num setor insurrecionalista (na Espanha, mas também Argentina e em diversos países) e um setor reformista educacionista, que considerava que a propaganda e a educação deveriam ser o centro de uma política de reformas. O fato é que entre 1920 e meados dos anos 1930 coexistiram finalmente dois setores que defendiam um movimento revolucionário de massas ou sindicalista revolucionário: a tendência anarquista e a tendência comunista, que mantinha uma relação de oposição e colaboração com a socialdemocracia. Devemos, entretanto, fazer alguns comentários sobre o sindicalismo revolucionário, e algumas das suas principais expressões, a CGT francesa, a CNT espanhola e Internacional Sindical Vermelha. Essas centrais e organizações sindicais se formaram num determinado ciclo de lutas e crises, começando em 1892 (CGT), 1910 (CNT) e 1923 (ISV).

22) O sindicalismo revolucionário começa em todo o mundo como expressão da aplicação da linha anarquista da primeira internacional. Em alguns países, isso levará a formas específicas de “anarcosindicalismo”, em que as organizações rompem com o pluralismo e adotam uma “ideologia”. Mas depois da revolução russa, a URSS vai investir na estruturação de uma política internacional e durante um breve período (até 1937) o comunismo irá manter uma política de sindicalismo revolucionário (formulado sob a política de Lênin). Isso vai marcar a formação de um “sindicalismo revolucionário comunista” que também defendia a ação direta e a negação do Estado burguês e do parlamentarismo. Mas o sindicalismo revolucionário entrará ele próprio em crise nos anos 1930, sendo algumas das causas e fatores manifestos em períodos anteriores. O sindicalismo revolucionário comunista irá então capitular ante a socialdemocracia e as pressões do Estado na URSS.

21) O sindicalismo revolucionário tinha a ação direta e a greve geral como componentes principais de sua constituição. A forma de “central sindical” era exatamente um tipo de organização que visava coordenar os trabalhadores de todos os setores da economia para essa modalidade superior de luta. Entretanto, ao longo dos anos 1910 e 1920, foram se desenvolvendo práticas de teor reformista e conservadora no interior do sindicalismo revolucionário, de maneira que se cristalizaram em desvios ideológicos e depois em camadas dirigentes que assumiram estes desvios como “política”. Isso se manifestou, por exemplo, no apoio velado da CGT francesa ao Governo Francês na Primeira Guerra e depois na adesão da CNT ao governo de frente popular durante a guerra civil espanhola. No caso da Internacional Sindical Vermelha, esta foi sendo acomodada e absorvida pela estrutura e métodos da social-democracia e acabou com a contrarrevolução stalinista.

22) Essas práticas reformistas podem ser identificadas com dois tipos principais de desvios, que deturparam os princípios do sindicalismo revolucionário histórico. Um primeiro desvio foi o “purismo”, ou a afirmação de um sindicalismo puro ou neutro, não vinculado a ideologias e organizações políticas, o que permitiu o fortalecimento e crescimento da corrente conservadora que defendia a neutralidade das organizações. O purismo foi uma deformação de um princípio correto, o pluralismo de ideias e organizações, reconhecido pela AIT histórica. Um segundo desvio foi o “apoliticismo”, que se desenvolveu em reação ao parlamentarismo da tendência social-democrata. O apoliticismo foi um desvio de dois princípios do sindicalismo revolucionário original, o antiestatismo e a autonomia. O apoliticismo gerou também o economicismo, que facilitava a expansão das correntes conservadoras e social-democratas. Esses desvios foram corroendo a organização do sindicalismo revolucionário e foram alguns dos fatores que ajudaram no seu declínio nos anos 1930.

23) Mas a degeneração da revolução russa e a degeneração da CNT e CGT nas Guerras fez com que o sindicalismo revolucionário, de orientação comunista da Internacional Sindical Vermelha, e o sindicalismo revolucionário, de orientação anarquista, fossem derrotados e abandonados historicamente. No pós-guerra, os Partidos Social-democratas e Comunistas fizeram um novo pacto. A nova contradição da política mundial entre Socialismo x Capitalismo, característica da “guerra fria”, implicou uma nova geopolítica do sindicalismo. Os movimentos dos trabalhadores na Europa e nas Américas foram tomados pela orientação reformista que foi adotada pela URSS, e assim os Partidos Comunistas dos mais diversos países se tornaram cada vez mais assemelhados aos Social-democratas.

24) Comunistas e social-democratas foram progressivamente sendo absorvidos pelo nacionalismo. Nos países colonizados os comunistas de esquerda se juntaram ao nacionalismo e republicanismo burguês, revigorado pelas lutas de libertação nacional. Na Europa ocidental, os Partidos Comunistas e Socialdemocratas foram absorvidos pelo capitalismo como forças de apoio. Nas Américas e nos países colonizados em geral eles fizeram diversas alianças com as burguesias e grupos republicanos nacionalistas (como o apoio ao Varguismo no Brasil, ao Peronismo na Argentina e ao Cardenismo no México). A tendência socialdemocrata/comunista praticamente se fundiu, não formalmente, mas na prática, depois de um período de duas décadas de diferenciação, sob a linha reformista. O pacto fordista na Europa possibilitou e acentuou isso.

25) É com o fim da Segunda Guerra Mundial que a polarização entre revolução x reação será substituída pela polarização da Guerra Fria Capitalismo x Socialismo. Essa nova polarização, em diversos aspectos, deformou a luta revolucionária. Podemos dizer que entre 1945-1980 ocorreu um retrocesso histórico, com o desaparecimento dos setores revolucionários da tendência anarquista e comunista, o que levou a que o movimento dos trabalhadores estivesse hegemonizado pela tendência conservadora de origem estatista, (como aconteceu no Brasil, México e Argentina), societária (como correu nos EUA, Inglaterra e alguns países coloniais da África e Ásia) ou social-democrata/comunista de natureza reformista (Itália, França, Alemanha e alguns países da Europa Ocidental, além da própria URSS), sem falar dos nacionalistas, que tinham uma política híbrida de republicanismo e social-democracia em países do sudeste asiático e África. De maneira geral, a política da tendência social-democrata/comunista levou a uma cumplicidade cada vez mais profunda com o capital e as burguesias nacionais, ao mesmo tempo em que se afastavam dos interesses dos trabalhadores.

26) A crise do capitalismo dos anos 1970 permitiu que o pacto fordista fosse desmanchado pela iniciativa do capital, que levou a uma ofensiva contra os interesses e direitos dos trabalhadores que ainda não terminou. A restauração capitalista nos anos 1980 apenas selou o destino histórico da política reformista da URSS e da sua burocratização. O seu modelo não somente serviu para expandir o socialismo pelo mundo, como também o contrário, possibilitou o enfraquecimento mundial do poder dos trabalhadores e criou as condições e contradições para uma restauração pacífica do capitalismo na URSS, Europa Ocidental e China.

27) Ou seja, no final dos anos 1980 e início dos anos 1990, as tendências conservadoras (de origem societária e estatal) e social-democrata/comunista, com suas políticas de reformas limitadas e corporativistas, não só tinham abdicado de lutar pelos objetivos históricos dos trabalhadores, como não conseguiam sustentar as garantias econômicas dos pactos com as burguesias nacionais, e em diversos lugares assumiram a faceta neoliberal e passaram a promover reformas econômicas antipopulares. As sucessivas crises do capitalismo desde os anos 1970 não somente enfraqueceram as correntes reformistas, pois elas têm fortalecido acima de tudo a tendência conservadora nas suas diferentes facetas.

28) Essa recapitulação e síntese histórica mostra que as tendências anarquista e comunista, em suas vertentes revolucionárias, tiveram uma grande importância, mas foram derrotadas e desapareceram, ou perderam espaço; já as vertentes reformistas (a parlamentarista e educacionista) foram integradas ao sistema e se tornaram ou forças domesticadas ou inimigas abertas dos trabalhadores. A integração sistêmica ao capitalismo aniquilou a função de resistência e mudança social do movimento sindical e social e levou a sucessivas derrotas e a um enfraquecimento do poder global dos trabalhadores. A tendência conservadora, por sua vez, cumpre uma função de impedir o desenvolvimento da contradição de classes. Isso impediu também as conquistas econômicas e políticas, imediatas e históricas, mesmo quando se realizava reivindicações parciais e efêmeras. Ou seja, não podemos imputar as derrotas dos trabalhadores como efeito mecânico das crises do capitalismo. A evolução das organizações dos trabalhadores e da ação de classe é um fator fundamental. É com esse olhar histórico e crítico que devemos pensar a situação atual da crise do capitalismo e crise da organização dos trabalhadores.

29) Essa é a situação internacional do movimento dos trabalhadores com a eclosão da crise do capitalismo de 2008. Essa crise, profunda e extensiva do capital, possibilitou a emergência de novas lutas. Mas é preciso colocar ao movimento um correto programa e uma correta estratégia. Para lutar, é preciso reorganizar uma corrente que retome as características do sindicalismo revolucionário, classista e internacionalista. E para isso é preciso enfrentar a dupla crise, a do capital e do trabalho. As contradições da Sociedade Capitalista e a dupla crise do capital e do trabalho

30) Ao mesmo tempo em que é fundamental compreender o papel das tendências e sua experiência histórica, é fundamental também ter uma leitura das contradições objetivas existentes na sociedade capitalista e como elas condicionam as tarefas de luta e organização. Isto porque a forma de organização e os métodos e objetivos de luta dos trabalhadores tem de responder de forma global e específica, a cada uma dessas contradições. Essas contradições são ao mesmo tempo forças objetivas e subjetivas, que condicionam a história e a evolução das tendências do movimento dos trabalhadores.

31) Em primeiro lugar, a sociedade capitalista surge e se desenvolve como um sistema mundial. É sociedade dividida em classes, organizada em torno do conflito capital e trabalho, que se torna assim o conflito mais abrangente e universal justamente por ser mundial. Mas este não é único conflito ou contradição. Essa contradição perpassa uma série de outras contradições, que não são exclusivas do capitalismo, mas que foram incorporadas e modificadas por ele. As divisões de classe antecedem a formação do capitalismo. Mas o capitalismo irá colocar a relação de trabalho assalariado como centro das relações de classe, modificando as contradições anteriores em face dessa nova relação hegemônica.

32) Profundamente ligada à primeira, a divisão entre campo e cidade foi logo expressão de uma divisão entre produtores diretos e uma classe comercial e militar de exploradores. Essa divisão entre campo e cidade também possuiu uma base de conflito com o Estado, já que essas “classes urbanas” eram na realidade uma categoria de militares/sacerdotes que dominavam e exploravam os trabalhadores do campo. No capitalismo, a divisão campo-cidade se torna a divisão entre a burguesia e o campesinato e o proletariado rural, e hoje assume a forma não somente de expropriação da terra, mas também da superexploração do trabalho. Ou seja, a contradição rural-urbana é essencialmente, e historicamente, uma contradição entre trabalhadores rurais e uma classe dominante urbano-industrial que as explora, e subordina todos os interesses à acumulação de capital urbano-industrial. Hoje o imperialismo, que tende a centralizar a produção e consumo, aprofunda as contradições agrárias, ambientais e territoriais nos demais continentes ao expropriar e oprimir camponeses. Logo, a contradição campo cidade atravessa o núcleo das contradições de classe.

33) A contradição Estado x Sociedade é outra contradição que desde a antiguidade se apresenta como fundamental, já que ela marca a diferença entre elites que dominam e grupos/povos dominados. Como toda sociedade tem uma forma de economia, as contradições de classe em cada formação social se entrelaçam com a contradição Estado-sociedade. Na sociedade capitalista, as revoluções burguesas prometerem resolver a contradição de classes através da identificação da sociedade no Estado, da “representação política e do “direito”, através da extensão do direito de voto e de leis sociais. Essa contradição na realidade não se resolveu. Não somente a burguesia se desenvolveu como classe dominante no Estado, mas grupos de interesse específicos (burocracias, elites, blocos de poder) se formaram e passaram a desenvolver novas formas de dominação que recriam dentro do Estado as diferenciações e privilégios. O Estado não somente foi instrumento de dominação de classe, mas ele foi fator organizador e gerador dessa dominação. No caso da URSS e dos blocos socialistas, a posição ocupada no Estado permitiu a formação de uma nova classe dominante específica, a “Nomenklatura”, que foi o embrião da nova burguesia no momento da restauração capitalista. Logo, a contradição de classe e Estado x sociedade se interpenetra, mas a última não é apenas um efeito secundário da primeira. E hoje isso se torna cada dia mais claro.

34) O desenvolvimento do capitalismo produziu permanentemente desigualdades de classe, primeiro entre uma classe burguesa (que incorporou as antigas nobrezas) e que foi se diferenciando em frações (industrial, financeira, agrária) e um proletariado assalariado ou escravo (que também se diferenciou objetivamente em frações). Mas estas relações de desigualdade derivada da exploração de classe e do papel do Estado foram depois transformadas com a evolução do sistema mundial. A desigualdade criada pelo capitalismo também se expressou nas relações internacionais e nas relações dos Estados e nações entre si. Assim, conforme o capitalismo se desenvolvia no sentido do monopolismo e do colonialismo, a desigualdade entre nações era ao mesmo tempo institucionalizada nas relações de produção e circulação, e consolidadas nas estruturas dos Estados Metrópoles e nas Colônias e depois nos países semicoloniais. A desigualdade nas relações internacionais fundia as desigualdades de classe e Estado-Sociedade, o que foi a base da diferença entre centro e periferia. Essa contradição entre centro-periferia foi o motor das agressões imperialistas e das lutas anticoloniais e anti-imperialistas. Mas as nações passaram a estar hierarquizadas em função do poder econômico e político-militar dos seus Estados. Por fim, o desenvolvimento capitalista esteve assentado na contradição campo-cidade, na exploração do campesinato pela burguesia rural e urbana ou de regiões inteiras dos países, isto é, as periferias internas pelos “centros” nacionais.

35) Essas contradições (de classe, Estado-sociedade, rural-urbano e centro-periferia) também encontraram contradições diversas ou foram responsáveis por gerar novas contradições. A expansão do capitalismo se deu sobre antigos e diferentes sistemas culturais com inúmeros grupos étnicos e nacionalidades, que foram subordinados ou incorporados pelo capital como herança do domínio mercantilista e imperialista. Os diferentes sistemas sociais tinham diferentes contradições (sociedades sem Estado, sociedades descentralizadas baseadas no parentesco, Estados e Impérios como os da América, África e Ásia, com as mais diversas divisões de classe). As diferenças étnicas e culturais foram assim componentes dos conflitos centrados na formação da dominação e exploração, sendo assim englobados pelas contradições de classe, Estado-sociedade e centro-periferia.

36) O capitalismo, sendo centrado nos países industrializados europeus, desenvolveu uma forma de utilizar as diferenças nacionais, étnicas, sexuais e culturais como instrumento de dominação através das diferentes formas de racismo, eurocentrismo, patriarcalismo e de segregação, que foram associadas aos mecanismos de exploração e superexploração do trabalho. Dessa maneira, os povos foram mais uma vez divididos em razão dos processos históricos e inseridos numa nova gama de contradições. Essas contradições étnicas, culturais e nacionais são um dos principais terrenos onde a política burguesa/contrarrevolucionária encontra margem de manobra para praticar suas estratégias.

37) O desenvolvimento do capitalismo também pode ser observado em função dos seus ciclos de expansão. Um ciclo de desenvolvimento industrial centrado no trabalho manual dominou as primeiras fases da industrialização. Ao mesmo tempo, normalmente se negava a expansão dos serviços públicos educacionais e de saúde, de maneira que estes eram restritos. Entretanto, o processo de desenvolvimento tecnológico e os ciclos de produto, bem como diferentes estratégias de reestruturação produtiva para superar as crises, levaram a processos de mecanização, financeirização e ao desenvolvimento do setor de serviços públicos, privados e comerciais. Ou seja, os trabalhadores da indústria primeiro cresceram em número, depois foram reduzidos e as categorias de ocupações intelectuais ou trabalho manual não industrial se expandiram e passaram a ocupar um lugar cada vez mais importante. Essas dinâmicas se expressaram em movimentos importantes, como o movimento estudantil no mundo nos anos 1960 e em maio de 1968 e depois nas greves de servidores públicos em vários países ao longo dos anos 1970 e 1980. Ou seja, é preciso observar o lugar de categorias como estudantes e servidores públicos no desenvolvimento do capitalismo como parte do desenvolvimento de suas contradições.

38) O proletariado não é nem nunca foi homogêneo e nem se resume a um proletariado industrial. Trata-se de especificar o significado dessas contradições para a organização e luta dos trabalhadores. Todas essas contradições sociais não podem ser ignoradas. Na realidade, elas cumprem diferentes papéis na História. Podemos dizer que do ponto de vista do proletariado, existe um núcleo de contradições que não podem ser ignoradas, ou seja, que devem ser resolvidas para que todas as demais sejam: é a questão política e econômica, ou seja, a contradição de classes e a contradição Estado-Sociedade. O determinismo “econômico” assim não é uma solução teórica nem política, e a experiência das revoluções derrotadas e degeneradas o prova. Mas tomando esse núcleo de contradições, é preciso também enfrentar prática, teórica e programaticamente todas as demais contradições. Isso por dois motivos. Em primeiro lugar, as contradições centro/periferia, étnicas, culturais e nacionais e campo-cidade estão perpassadas pelas contradições de classe, de maneira que não se pode concretamente resolver a contradição de classe “em si”, como um fenômeno puro, pois na realidade concreta ela está fundida com as demais contradições. Em segundo lugar, essas contradições são também objeto de ação da estratégia e política burguesa/contrarrevolucionaria, de maneira que sem enfrentar essas contradições o movimento dos trabalhadores não pode se constituir como uma força autônoma, e nem dar soluções para as contradições particulares.

39) A diferenciação de classe e ocupacional é atravessada pelas desigualdades sociais gerada pelo capitalismo e autoritarismo, e dessa maneira deve ser enfrentada pela tendência classista e internacionalista; a diferenciação campo-cidade, entre trabalho manual e intelectual, étnica e de gênero são usadas frequentemente para fragmentar a luta e a organização dos trabalhadores, e expressam as contradições objetivas da condição de vida da própria classe trabalhadora. Assim é uma tarefa histórica produzir um programa para agregar todas as frações de classe, combater o fracionismo ideológico e unificar as lutas pelo programa imediato e histórico, contra as formas de patriarcalismo, racismo e opressão nacional e cultural, que estão sempre fundidas nas contradições de classe e Estado.

40) Todas essas contradições são o resultado de um complexo processo histórico. De maneira geral, o capitalismo produziu um sistema que foi em grande medida resposta às suas crises, às pressões da luta de classes e às necessidades da acumulação de capital. Hoje o sistema mundial está hierarquizado e a classe trabalhadora mundial está dividida e submetida a todas essas contradições, fruto de histórias e condições econômicas e sociais extremamente diferentes. O desenvolvimento do capitalismo na Europa ocidental levou a uma concentração de riqueza e renda mundial nessa parte do mundo, mas na América Latina e parte da Ásia, África e Europa oriental, apesar de suas industrializações modernizadas, as desigualdades sociais ou foram apenas muito precariamente amenizadas, ou aprofundadas ou restituídas (pela restauração capitalista).

41) A última fase de desenvolvimento do capitalismo, marcado pelo neoliberalismo e toyotismo dos últimos anos, vem acentuando as desigualdades internas e externas, levando a um aprofundamento das contradições entre centro e periferia, de classe e inter-estatais. A mais recente crise do capitalismo iniciada em 2008 tem catapultado essas contradições, que se aprofundam com as guerras no Oriente Médio e Norte da África, antessala de um próximo conflito militar entre os blocos China-Russia e EUA-U.E pela hegemonia no mundo.

42) O capitalismo também assumiu formas diferentes ao longo de sua história. O capitalismo liberal e o capitalismo estatizante (na sua forma de desenvolvimentismo na periferia ou de estado fordista de bem-estar no centro) são duas formas de política econômica que não modificam a natureza monopolista e imperialista do sistema mundial e dos Estados. A oscilação entre esses dois modelos na História respondeu a diferentes necessidades de acumulação de capital e permitiu que as desigualdades fossem transferidas (internamente, da cidade para o campo, dos homens para as mulheres, ou externamente do centro para a periferia e etc.) e que fossem criados “pactos” com certas tendências dos movimentos dos trabalhadores.

43) Aqui chegamos então ao aspecto principal. O capital entra ciclicamente em crise. Ele responde às crises com reestruturação das relações de produção e das formas políticas e sociais. Mas não somente o capital enfrenta crises, o “trabalho” (os trabalhadores enquanto classe e suas organizações) também. Se a crise do capital desde 1929 é uma crise de acumulação, ou seja, crises que colocam dificuldades para ampliação e reprodução do lucro, a crise dos trabalhadores é frequentemente organizativa, já que as dificuldades de reprodução da força de trabalho enquanto tal se dão tanto durante as crises do capital quanto nos períodos de “normalidade”. Assim, temos uma dupla crise, do capital e do trabalho. É certo então que a crise do capital tende a deteriorar as condições de reprodução social dos trabalhadores. Mas isso não significa que o capitalismo “normalizado” garanta essas condições.

44) Por outro lado, a crise organizativa se expressa exatamente em duas dimensões: a da representação dos interesses dos trabalhadores e a do poder de pressão. O que tem ocorrido é que nos momentos de “crise acirradas”, o que tem sido feito é exatamente sacrificar a representação dos trabalhadores (para impedir expressões revolucionárias) e garantir as condições para “salvar” o capitalismo da crise com acordos, mas que no longo prazo enfraquecem o poder de pressão dos trabalhadores. Ou seja, a tendência reformista só se qualifica para os momentos de crise sobre uma organização de trabalhadores representativa e com poder de pressão, a qual ela tem de destruir ou castrar para poder realizar seu programa de salvar o capitalismo através da conquista do Estado e de políticas econômicas intervencionistas. E logo, quanto mais essa política é eficaz e a economia capitalista se normaliza, mais os trabalhadores aprofundam sua crise organizativa, mesmo que tenham garantida provisoriamente melhores condições de reprodução social, que durarão até a próxima crise. Mas o que temos visto? Desde 1929 e do fim da Segunda Guerra, o poder de pressão diminuiu e o capital voltou a se expandir em todo mundo. Longe de ser um efeito direto e simples da reestruturação produtiva, a crise de organização dos trabalhadores está associada a ela por múltiplas conexões objetivas e subjetivas.

45) Dessa maneira, como o capital reage às crises se reestruturando, cada resposta à crise implica numa nova relação com os trabalhadores e com suas tendências organizativas. Logo, a crise do capital pode acirrar a crise de organização do proletariado, mas reestruturações organizativas do proletariado podem deslocar a crise para o capital. Ou seja, é preciso pensar a reorganização para responder às novas condições históricas.

46) O capitalismo se desenvolve na crise e se desenvolve se reestruturando. As reestruturações produtivas são a essência do capitalismo, pois são as formas dele enfrentar as crises de acumulação. Ao mesmo tempo, as mudanças nas políticas econômicas e nos regimes políticos são formas de administrar as contradições sociais e de tentar garantir a retomada da acumulação, seja com formas liberais ou intervencionistas. Mas essa contradição de política econômica não é uma contradição estrutural como as demais. O capitalismo também assumiu uma forma complexa de associação de interesses. Não somente uma associação cada vez mais profunda entre o capital “nacional” e “internacional” através das divisões acionárias, mas também uma integração orgânica entre o capital financeiro, comercial e industrial, que reduzem os efeitos da competição na economia e a deslocam para o sistema inter-estatal.

47) Logo, podemos dizer que a compreensão do lugar dessas contradições sociais é fundamental, assim como a hierarquia entre elas. É preciso tomar como eixo da ação política da classe trabalhadora, as contradições estruturais (de classe e Estado x sociedade) materializando na política ativa para todas as demais contradições (centro-periferia, campo-cidade, contradições étnicas, culturais e nacionais). É preciso perceber que a política burguesa e reformista tenta colocar a contradição nas “políticas econômicas” (intervencionistas e liberais) como as principais, e as diferentes tendências do movimento dos trabalhadores hoje pactuam e promovem essa ilusão. Mas daí vem os erros de estratégia e tática dos movimentos dos trabalhadores, e sua incapacidade em defender os interesses econômicos e políticos das massas.

48) A fragilidade da tendência reformista e conservadora se mostra na sua incapacidade de eliminar ou mesmo diminuir de forma significativa e duradoura as desigualdades sociais e o autoritarismo dos governos, tornando-se cada vez mais estruturas acessórias do capital e servindo às sucessivas reestruturações que o capital realiza para viabilizar sua acumulação; também não consegue nas conjunturas de crise, como a atual, apresentar uma plataforma de resistência e dessa maneira colabora frequentemente para aprofundar as desigualdades sociais, ao atuar como defensores das reestruturações ou fazendo defesas corporativas e setoriais que defendem núcleos minoritários dos trabalhadores enquanto sacrificam as grandes massas e seus segmentos mais oprimidos (como os trabalhadores do campo, as mulheres, as nacionalidades e etnias).

49) Ou seja, as contradições da sociedade capitalista são vistas de cabeça para baixo pelas tendências socialdemocrata e conservadora existentes hoje no movimento dos trabalhadores. Tentam colocar como principais as contradições de política econômica e não de estrutura econômica. Essa análise equivocada das contradições sociais explicita sua natureza ideológica e explica sua função e o dilema dos trabalhadores. As tendências social-democrata e conservadora concebem sua missão histórica como a de salvar o capitalismo através de uma política econômica estatizante ou de pactos com as empresas para a promoção de uma política assistencial, ou ambas. Dessa maneira, o capitalismo aprofunda a desigualdade e a opressão praticamente sem oposição real e efetiva. Os trabalhadores não conseguem estabelecer uma linha defensiva eficaz nem muito menos ofensiva.

50) Para enfrentar as crises, os ataques contra os trabalhadores, a exploração e opressão é preciso reconstruir uma tendência que resgate os elementos revolucionários de estratégia e ação do sindicalismo revolucionário. É preciso também que tenhamos uma visão clara da missão, dos objetivos imediatos e históricos que a organização dos trabalhadores deve assumir. Não é possível ter uma linha de resistência e nem enfrentar a crise do capital sem enfrentar os problemas da crise do trabalho. Os obstáculos a superar: pragmatismo, sectarismo, corporativismo e idealismo

51) Para superar o dilema histórico e enfrentar a crise do capitalismo e a crise das organizações dos trabalhadores é preciso reconstruir uma tendência que assuma as tarefas defensivas e ofensivas estratégicas. Qual a função, missão e objetivos que devem ser assumidos pelas associações e organizações dos trabalhadores? Para delimitar a função, objetivos histórico-estratégicos e a forma de organização de uma Tendência Classista e Internacionalista, precisamos enfrentar então dois conjuntos de problemas.

52) O primeiro é o dos obstáculos organizativos, táticos e estratégicos que precisam ser removidos para que os trabalhadores recuperem seu poder de pressão. Compreender os fatores que levaram às derrotas anteriores e entender o estado de cada uma das tendências e seu lugar hoje. O segundo conjunto de problemas são derivados da necessidade de definir um programa e métodos de luta e de construção de uma alternativa para enfrentar os problemas colocados pelas contradições e crises da sociedade capitalista.

53) Se considerarmos o estado atual da organização dos trabalhadores, podemos dizer que ela tem um problema estrutural. O sindicalismo revolucionário (seja de tendência anarquista ou comunista ao modelo da Internacional Sindical Vermelha) é inexistente ou incipiente na maioria dos países. A tendência socialdemocrata por sua vez ou está em declínio ou mantém seu poder apenas como força de apoio da burguesia e dos Estados. Em certos países, em conjunturas de amplas mobilizações, essa tendência consegue conquistar espaços nos governos nacionais e aí entra no seu ciclo avançado de degeneração. A tendência conservadora, dos sindicatos patronais, amarelos e estatais e suas correntes de burocratas e aristocratas sindicais, por sua vez, ditam a política dos trabalhadores na grande maioria dos casos, rivalizando ou compartilhando com os representantes da tendência social-democrata (em diversas expressões locais concretas) a direção das principais organizações.

54) Dessa maneira, o problema da crise do trabalho não é apenas um reflexo da crise do capital, nem um problema meramente quantitativo (queda das taxas de sindicalização, aumento do desemprego, diminuição de greves, o que na realidade varia muito de país para país). A crise do trabalho é principalmente uma crise de organização, que abrange métodos de ação, estratégias e formas organizativas, das direções e das bases. Ou seja, a crise dos trabalhadores é a crise provocada pela hegemonia das tendências social-democrata e conservadora, que definem seus objetivos, formas de organização e ação. Para romper a crise é necessário então romper com esses objetivos, formas de organização e de ação.

55) A tendência social-democrata estabelece certos objetivos e função para as organizações dos trabalhadores (que são compartilhados por outras variantes como o republicanismo e o nacionalismo): a) apoiar os partidos ou Governos para aplicar políticas econômicas, ou se opor a política econômicas; b) o programa visa a formação de ações de emergência para conter as crises do capitalismo e garantir o desenvolvimento do capital, resolvendo a crise de acumulação – supondo que esta resolve a crise da reprodução da força do trabalho (baixos salários, desemprego, superexploração e pobreza); c) a função atribuída aos trabalhadores é de regular frações específicas da burguesia através do Estado e criar um novo “pacto” capital-trabalho para substituir o antigo pacto “fordista” ou “desenvolvimentista” (ou criá-lo onde este não existe), com uma nova relação salarial, de maneira que se circunscreve às lutas dos trabalhadores dentro de limites rígidos de apoio ou oposição à política econômica (de liberal para algum tipo de intervencionismo/regulacionismo, favorecendo certas frações da burguesia e do proletariado).

56) A tendência conservadora se assemelha a tendência social-democrata apenas no que tange a função secundária e economicista que atribuem à organização dos trabalhadores. Mas ele difere da anterior, pois não concebe uma função ativa de oposição, apenas tenta domesticar as associações e transformá-las em meras sucursais externas do Estado e das elites. De maneira geral, a tendência conservadora tenta tirar qualquer conteúdo de classe do cotidiano das organizações de trabalhadores, fazendo das mesmas meras associações corporativas e recreativas, que participam da política nacional apenas através das direções compostas de burocratas e aristocratas sindicais.

57) Podemos dizer que esses objetivos e funções se encontram objetivados nas organizações e atividades cotidianas da grande massa dos trabalhadores. Seja como tradição, hábito, rotina, o fato é que os trabalhadores encontram as organizações prontas, mas não problematizam sua estrutura, função e formas de ação. De maneira geral, a tendência social-democrata e conservadora estão materializadas assim em estruturas objetivas de organização, que sistematicamente desviam os trabalhadores da via do sindicalismo revolucionário. Elas se apresentam como obstáculos ao desenvolvimento da luta e organização dos trabalhadores.

58) Por outro lado, essa função, objetivos e estratégia delimitados por essas tendências expressam um componente central que precisa ser combatido: a separação simplista entre luta econômica e luta política, a identificação de que as organizações de trabalhadores só podem realizar a primeira. Isso expressa uma visão economicista da realidade, que permite que no caso da tendência social-democrata se coloque toda a centralidade nos objetivos do Partido e da conquista do Estado, ou no caso da tendência conservadora — de que os trabalhadores não devem fazer “política nacional e internacional”. Essa separação tem sido um dos principais obstáculos à organização dos trabalhadores e é preciso superá-la. Ela gerou toda uma série de desvios ideológicos que sistematicamente ajudam a paralisar as lutas. Gerou o economicismo e apoliticismo.

59) O economicismo tem diversas expressões, e a principal é o corporativismo. Ou seja, o trabalhador não visualiza a totalidade das relações de produção, o seu lugar na divisão do trabalho, o entrecruzamento e as contradições de interesses. Ele é induzido a ver apenas o agregado mais imediato, o da sua corporação profissional. Ele é induzido a ver uma contradição contínua entre os seus interesses de corporação e os demais trabalhadores. Assim, ele é adestrado a pensar apenas nesses limites. A consequência lógica é que ele pense também cada vez mais nos seus interesses individuais e familiares, logo o individualismo e o familismo se desenvolvem como traços da ideologia e atividade conservadora entre a classe trabalhadora.

60) O apoliticismo teve suas vertentes, uma “vertente de esquerda” e uma “vertente de direita”. Na vertente de esquerda, era uma recusa a aceitar que a organização dos trabalhadores fosse apenas uma organização acessória dos Partidos Socialistas. Negar a política era negar a política “parlamentar” e afirmar a ação direta. Isso aconteceu com a CGT francesa e a CNT espanhola. Mas essa negação se mostrou ingênua e ineficaz na História. Ela não impediu o desenvolvimento do reformismo e a atração dessas centrais para as coalizações partidárias, frentes populares e governos. O “apoliticismo” de direita é aquele de origem conservadora. Pode ter origem religiosa, monárquica ou nazifascista, e nega a capacidade e/ou legitimidade dos trabalhadores fazerem política. Os trabalhadores devem realizar apenas lutas econômicas e corporativas. A política, dentro desse discurso de direita, é resguardada para as elites e para o Estado.

61) Podemos dizer que essa visão economicista (que separava e inferiorizava a luta econômica em relação a luta política, entendida como a luta “parlamentar ou estatal”) criou uma separação de programas: um programa imediatista, a ser defendido pelas organizações de trabalhadores, e um programa finalista somente realizável por um partido ou por um Governo, de toda maneira, através do Estado. A cisão entre os dois programas levou a uma série de práticas de natureza oportunista. No cotidiano das organizações de trabalhadores essa visão gera uma série de práticas que ajudam a minar a base do poder dos trabalhadores: o pragmatismo e o idealismo são os principais exemplos. O pragmatismo nasce então como uma necessidade colateral à hegemonia dessas formas de organização e ação: a de obter resultados econômicas que ajudem na reprodução social da força de trabalho.

62) Como esses modelos não priorizam as formas de ação direta de luta, os trabalhadores ficam sempre em uma posição de vulnerabilidade. Como não se muda a estratégia e o método de ação, os resultados que não são obtidos através da luta têm de ser obtidos através de “pactos” de colaboração. Esses pactos garantem a eficácia e escondem o fato de que a causa da necessidade desses pactos é a fraqueza que essas tendências produziram nas organizações dos trabalhadores. Gera-se então um círculo vicioso. O pragmatismo apresenta-se como uma prática de negociação e resultados, mas no final ele mina o poder dos trabalhadores.

63) O idealismo é outra prática e outro desvio, já que ele é a negação da importância das lutas econômicas e a tentativa de mobilizar os trabalhadores através de apelos ao “ideal do programa político” (de um Partido, de um Governo ou mesmo de uma Tendência). Ele leva a uma negação sistemática da relação das organizações dos trabalhadores com o cotidiano da classe, seus problemas materiais e contribui para afastar as organizações da classe, a direção da base e consequentemente enfraquece a representatividade e do poder dessas organizações. Ela abre terreno para que as organizações virem um palco de disputa de direções burocráticas, desligadas dos problemas materiais e envoltas numa retórica supostamente “elevada”, tendo sempre o pretexto do “atraso” político das “bases”.

64) Esses elementos apontados acima não são apenas uma abstração. De maneira geral, eles se manifestaram em todas as organizações de trabalhadores no mundo e foi o foco central da luta de tendências. É possível encontrar exemplos desse pragmatismo no desenvolvimento das centrais sindicais revolucionárias da França, Espanha e Argentina, em que o setor reformista se desenvolveu exatamente usando o argumento do “pragmatismo”. Esses deram atenção às condições materiais dos trabalhadores, mas apenas para ajudar a formar pactos de colaboração com as empresas e depois com os Estados. Isso levou na França ao apoio da CGT aos Governos Burgueses, e na Argentina à integração do sindicalismo revolucionário ao peronismo, por exemplo. A tentativa de combater esses desvios reformistas pelo apelo à mera reafirmação do “socialismo, do comunismo, do anarquismo” como fizeram anarco-sindicalistas e comunistas de conselho apenas reforçou o reformismo, em vez de enfrentar o problema da luta econômica e da necessidade de ligá-la à luta política. E por outro lado, os Partidos Comunistas souberam manejar esse discurso idealista, ao proclamarem-se sempre portadores de um projeto alternativo enquanto encaminhavam um pragmatismo cada vez mais integrado aos interesses do capital, como aconteceu na América Latina, na Europa dos anos 1960, 1970 e continua até hoje se repetindo. O idealismo e o pragmatismo são práticas que se complementam.

65) Ao mesmo tempo, a visão da separação absoluta entre luta econômica (imediata) e política (histórica) levaram também a outras práticas igualmente paralisantes das lutas. De um lado, o pragmatismo levava ao colaboracionismo, ou seja, a ideia de que para conseguir “resultados” era necessário e legítimo firmar todos os tipos de pactos, frentes e coalizões. Ao mesmo tempo, o idealismo derivado de uma visão estreita da defesa do programa “histórico” gerou o sectarismo e o monolitismo. Mais uma vez, por mais que pareçam excludentes, esses efeitos foram complementares. E podemos aqui citar os exemplos históricos. Vários sindicatos social-democratas e comunistas vislumbram “alianças” para “unificar” as organizações dos trabalhadores. As justificativas são sempre as necessidades defensivas e pragmáticas de conseguir ganhos materiais. Por outro lado, os partidos social-democratas e comunistas tinham também uma política sectária e monolítica: isso se mostrou na AIT histórica, pela tentativa de expulsar os anarquistas, e na formação da Internacional Socialista, que mais uma vez expulsou os expulsou. Em alguns países, isso gerou uma reação que levou ao desenvolvimento do anarcosindicalismo, organizações de massa com uma plataforma ideológica única e monolítica.

66) Como essas práticas são complementares? Na realidade, o pragmatismo é sempre aplicado para produzir alianças com os grupos à direita (da tendência conservadora ou social-democrata mais degenerados) enquanto o sectarismo é aplicado à esquerda (especialmente aos representantes do sindicalismo revolucionário). Essas práticas deformam também o problema da real unidade da classe trabalhadora e das condições objetivas e subjetivas necessárias para construí-la. A prática do colaboracionismo e do sectarismo/monolitismo assim se fortalecem: quanto mais se acaba com os representantes de uma política de esquerda, mais natural é a colaboração com os representantes da “direita” das organizações dos trabalhadores.

67) Economicismo e apoliticismo, pragmatismo e idealismo, colaboracionismo e sectarismo. Menos que ideias, são práticas associadas às formas organizativas, objetivos e métodos de ação, objetivados nas organizações de trabalhadores e na vida cotidiana da classe trabalhadora. Essas práticas são partes das causas de enfraquecimento do poder dos trabalhadores. Combinadas com outras causas objetivas (mudanças tecnológicas, reestruturações produtivas, novas relações de produção e circulação), elas ajudam a entender o dilema da classe trabalhadora no Brasil e no mundo.

68) Como superar esta condição? Somente através da reconstrução de uma Tendência Classista e Internacionalista que resgate os princípios organizativos, estratégicos e métodos de ação do sindicalismo revolucionário, e que trabalhe para superar suas deficiências teóricas e práticas. Para isso é preciso fixar outros objetivos, funções e práticas aplicadas à organização e luta dos trabalhadores.

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