Na sexta feira dia 22 de julho de 2022, três de nossas companheiras, a comandante do
YAT Jiyan Tolhidan, a comandante do YPJ Roj Xabûr e a lutadora membro da YAT Barîn
Botan foram assassinadas por um ataque de drones turco. Este é só o ponto alto de uma
estratégia em curso que está criando um ambiente de terror e medo. Especialmente as
mulheres estão convertendo-se rapidamente em alvos destes ataques covardes. Em 48
horas, seis de nossas companheiras, entre elas quatro membros das YPJ foram
assassinadas e varias outras foram feridas por quatro ataques com drones no território
de Rojava. Estes incidentes estão alinhados com 56 ataques com drones realizados
somente no ano de 2022 e que causaram a morte de 27 pessoas e feriram outras 74.
Entre os mortos e feridos se encontram nossos camaradas, assim como civis de todos os
gêneros e idades.
Enquanto a Turquia ameaça oficialmente com uma invasão de grande escala nas zonas
liberadas do Norte e Leste da Síria, continuam com seus araques que na realidade nunca
cessaram atos a ocupação de Afrin em 2018. O que enfrentamos é a chamada guerra de
baixa intensidade, uma estratégia militar que utiliza uma variedade de táticas diferentes
que incluem execuções extrajudiciais, o apoio e o uso de grupos proxy (como o SNA e o
ISIS), a pressão econômica, o corte do suprimento de água e eletricidade, a mudança
demográfica e a guerra psicológica em lugar de uma ocupação militar de grande escala.
Este tipo de guerra produz ataques contínuos enquanto se mantém níveis abaixo de um
“ataque de grande escala” que provocaria uma maior atenção política e midiática nas
sociedades ocidentais. Os inúmeros ataques tentam normalizar a guerra e fazer com que
as pessoas se acostumem a estes ataques. Cria um estado de insegurança.
Estes ataques não são casos isolados, mas formam parte de uma estratégia mais ampla
e bem planificada que pretende destruir a revolução e erradicar o povo curdo. Mediante
o uso de ataques com drones, como o que assassinou três de nossas companheiras na
sexta-feira, tentam difundir a sensação de que ninguém está a salvo e que o Estado
Turco tem o poder absoluto de decidir quando e onde acabar com sua vida, que com um
simples apertar de botão pode fazer cair a bomba. O efeito psicológico desta estratégia
é eficaz no sentido que pode fazer que as pessoas queiram abandonar a sua terra. Um
dos objetivos de Erdogan é precisamente este: expulsar o povo curdo de sua terra e
assentar em seu lugar uma população estrangeira leal ao regime turco.
Outra tática que o Estado Turco está utilizando é de levar a cabo as chamadas operações
de falsa bandeira. Nos recentes ataques do Estado Turco a um centro de férias em Zaxo,
no sul do Curdistão (norte do Iraque), nove turistas morreram, entre eles uma criança,
e mais de 23 foram feridos. O estado Turco emitiu um comunicado afirmando que o
ataque foi realizado pelo PKK. Ao acusar outros de serem culpados de seus próprios
atentados, o Estado Turco está criando uma razão para legitimar sua presença militar e
suas ações. Este enfoque militar não se limita ao ataque à Rojava. Além disso, o Estado
Turco está utilizando vários métodos de guerra de baixa intensidade contra todas as
zonas liberadas do Curdistão incluindo Shengal, MAxmur e as zonas controladas pela
guerrilha nas montanhas do norte, leste e sul do Curdistão.
Além da maioria dos meios de comunicação mundial, estão ignorando os ataques em
curso, observamos que o movimento de solidariedade com Rojava está esperando o
chamado “Dia X” para iniciar uma campanha maior contra um regime fascista que na
realidade nunca parou sua guerra contra Rojava. Consideramos que este é um enfoque
insuficiente que não está à altura da situação a qual enfrentamos. A resposta do
continuo, variado e brutal ataque à revolução tem que ser uma permanente, criativa e
efetiva resistência. Não tem sentido esperar, estamos em guerra agora mesmo.
Enquanto escrevemos esta declaração, somos movidas pela profunda ira e raiva que os
últimos ataques provocaram. Com o último ataque nos arrancaram três amigas. Eram
nossas comandantes, nossas professoras, nossas irmãs, nossas pioneiras e vanguarda,
nossas amigas e camaradas. Ajudaram tantas de nós a encontrar o seu lugar nessa
revolução, a desenvolver-se, crescer e conhecer a realidade da força de vontade das
mulheres. Nos ensinaram a utilizar nosso amor e nossa dor para lutar pelo nosso futuro.
Sabendo que o Estado Turco pretende destruir o nosso espírito, o enfrentamos
convertendo a raiva e a dor em um compromisso ainda maior para continuar a luta
contra esse regime assassino. Estamos mais motivadas do que nunca para desenvolver
e difundir a revolução das mulheres e a luta de nossas queridas companheiras caídas.
Aos nossos e nossas companheiras, amigos de todo o mundo, pedimos que se levantem
e defendam conosco a revolução das mulheres. Temos que expor o plano sujo do Estado
Turco e tratar o seu ataque como o que ele é: uma guerra contra um projeto
revolucionário que diz respeito especialmente às mulheres revolucionárias. Uma das
demandas mais urgente é a criação de uma Zona Proibida de Voos (No-Flight-Zone) para
deter os mortíferos ataques aéreos contra nossas camaradas e contra o povo. Além
disso, temos que entender que esta guerra não se trata apenas dos planos de invasão
turco, mas também de múltiplos interesses dos estados ocidentais e da OTAN/NATO no
Oriente Médio. A luta no Curdistão esta sempre relacionada com as lutas em nossos
países. Para construir uma autodefesa forte e resistente, temos que atacar o sangrento
sistema do Estado Nação, o patriarcado e o capitalismo em todos os momentos e em
todos os lugares.
Ape Yusuf Gulo,
Mohammed y Ahmet
Heval Geli y Heval Amed
Heval Mizgin,
Heval Dilar, Heval Ronahî y Heval Kobane,
Heval Berxwedan y Heval Kendal,
Heval Jiyan, Heval Roj y Heval Barîn,
Prometemos não apenas defender esta linda revolução por todos os meios mas também
a difundirmos e a fazermos crescer ainda mais. Faremos tudo o que é possível para que
as vossas ideias de liberdade se tornem realidade!
Ao Estado Turco e seus aliados queremos que saibam que não deixaremos estes ataques
sem resposta. Os faremos pagar pelos seus crimes e vingaremos os nossos
companheiros!
YPJ-YPG Internacional
Rojava, 24.7.2022