O 20 de Novembro é o para comemorar a insurgência e a rebelião do povo preto. A data é referência ao dia da execução de Zumbi dos Palmares, o último líder do maior quilombo da história do Brasil e, consequentemente, um dos maiores símbolos da luta de negros e negras contra o racismo, a exploração e o genocídio.
O Quilombo dos Palmares (1600-1710) foi construído pelos africanos e africanas que se insurgiram contra a escravidão imposta pelos colonizadores europeus, na Capitania de Pernambuco, hoje estado de Alagoas. Localizado na Serra da Barriga, seu primeiro líder foi Ganga Zumba. Nele reuniram-se entre 20 e 30 mil pessoas, incluindo a presença indígena, e resistiu cerca de cem anos.
Zumbi sucedeu Ganga Zumba na liderança de Palmares. Reconhecido pela destreza na arte da guerra, Zumbi se recusou a aceitar acordos com os colonizadores e organizou a resistência quilombola contra as ofensivas do exército colonizador.
Zumbi e os palmarinos (habitantes de Palmares) perceberam que existiam dois mundos inconciliáveis, o mundo do colonizador, da escravidão e do genocídio contra negros e indígenas, e o mundo em construção pelas mãos do povo preto insurgente, o mundo dos quilombolas.
O protagonismo dos quilombolas, negros e negras submetidos à escravidão, ao lado dos povos indígenas, nas lutas contra a dominação colonial e o regime escravista, nos ensina que temos que assumir hoje a linha de frente contra a exploração capitalista, o racismo e o patriarcalismo.
Memória das lutas antirracistas: o protagonismo e pretas e pretos
Tereza de Benguela (Nascimento desconhecido-1770)
Liderança do Quilombo de Quariterê (1730-1795), localizado no Vale do Guaporé, no Mato Grosso. Os documentos da época a identificam como “Rainha Tereza” e a auto-organização do quilombo contava com um parlamento. O dia de 25 de julho é o Dia Nacional de Tereza de Benguela e, também o Dia da Mulher Negra, latino-americana e caribenha.
João de Deus (1761-1799)
Foi um alfaiate e um dos líderes da Revolta dos Búzios (1798), também conhecida como Conjuração Baiana ou Revolta dos Alfaiates, que tinha como programa revolucionário o fim da colonização portuguesa e o fim da escravidão. João de Deus foi preso com outros revoltosos e condenado a morte juntamente com o alfaiate Manuel Faustino (1781-799) e com os soldados Lucas Dantas (1775-1799) e Luís Gonzaga (1763-1799).
Hilária Batista de Almeida, Tia Ciata (1854-1924)
Foi uma defensora das religiões e da cultura de origem africana. Nascida na Bahia sob o regime da escravidão, migra para a cidade do Rio de Janeiro no final do século XIX e fixa residência na região conhecida como Praça XI, na região da Central do Brasil. Sua casa se tornou um local de reuniões, rituais de candomblé e festas onde o samba teria suas origens, num período em que todas as manifestações da cultura negra eram criminalizadas.
João Cândido (1880-1969)
Marinheiro que liderou a Revolta da Chibata (1910), motim de marinhos que assumiram o comando de quatro navios de guerra, Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Deodoro, ancorados na Baía de Guanabara. Os amotinados exigiam o fim dos castigos corporais, as chibatadas, melhores salários e anistia aos revoltosos. As chibatadas foram abolidas, mas os revoltosos foram presos, torturados, condenados a trabalhos forçados e muitos foram executados. João Cândido foi preso na Ilha das Cobras e submetido à tortura. Foi expulso da Marinha, mais foi eleito pelo povo o Almirante Negro.
Domingos Passos (nasceu no final dos anos de 1800 e sua data de falecimento nos anos 1900 é desconhecida – 18??-19??)
Operário anarquista que participou de forma decisiva para a organização e lutas do proletariado no início do século XX. Participou da fundação da União dos Operários em Construção Civil (UOCC) e foi Secretário Executivo da Confederação Operária Brasileira (COB). Em 1917 organizou a adesão dos trabalhadores do Rio de Janeiro à Greve Geral iniciada em São Paulo. Em 1918 participou da Insurreição Anarquista, foi perseguido e preso. Em liberdade voltou para a militância revolucionária, sendo novamente perseguido e preso. Ficou foragido e partiu para a clandestinidade.
Armando Gomes (1888-1944)
Operário anarquista e fundador da União da Juventude em 1901, um espaço de resistência da cultura negra e defesa das religiões afro-brasileiras em Campinas (SP). Na sua luta antirracista e contra a exploração capitalista, fundou em 1915 a Liga Humanitária dos Homens de Cor. Em 1917 organizou a adesão dos trabalhadores de Campinas a Greve Geral iniciada na cidade de São Paulo.
Laudelina de Campos Melo (1904-1991)
Fundadora do primeiro sindicato de trabalhadoras domésticas do Brasil. Militante do Partido Comunista do Brasil (PCB), Laudelina fundou a primeira Associação de Trabalhadores Domésticos do país. A entidade ficou fechada durante a ditadura do Estado Novo e voltou a funcionar em 1946.
Carlos Marighella (1911-1969)
Revolucionário comunista que atuou como um dos organizadores da resistência armada contra a ditadura empresarial-militar de 1964. Se filiou ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1936, foi preso pela Ditadura Vargas do Estado Novo (1937-45). Com o fim do Estado Novo, foi eleito deputado federal constituinte em 1946, mas foi casado durante a repressão do governo Dutra (1946-51) ao PCB. Depois do golpe de 1964 rompeu com o PCB por defender a resistência armada contra o regime militar. Em 1967 fundou a Ação Libertadora Nacional e lançou as bases de uma estratégia revolucionária a partir da resistência armada. Foi emboscado e executado pela repressão em 1969.
Carolina Maria de Jesus (1914-1977)
Foi uma escritora brasileira, conhecida por seu livro “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada” publicado em 1960. Carolina de Jesus foi uma das primeiras escritoras negras do Brasil. Viveu na favela do Canindé, na zona norte de São Paulo, sustentando a si mesma e seus três filhos como catadora de papéis. Em 1958, tem seu diário publicado sob o nome “Quarto de Despejo”, com auxílio do jornalista Audálio Dantas. O livro fez um enorme sucesso e chegou a ser traduzido para catorze línguas.
Osvaldo Orlando da Costa, Osvaldão(1938-1974)
Guerrilheiro comunista que participou da Guerrilheira do Araguaia (1972-74). Foi boxeador e tenente do Exército, se filou ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB) em 1958. Com a estratégia de organizar a guerrilha rural contra a ditadura empresarial-militar de 1964 se transfere para a região do Araguaia. Foi executado pela repressão à guerrilha em 1974.
Helenira Resende, Preta (1944-1972)
Guerrilheira e dirigente estudantil, foi vice-presidente da UNE e integrou as Forças Guerrilheiras do Araguaia (FOGUERA/PCdoB). Preta cursou Letras e Filosofia na USP e foi presa em 1968, durante o XXX Congresso da UNE, caiu na clandestinidade usando o codinome Fátima. Depois, foi para o Araguaia organizar a luta armada contra a ditadura empresarial-militar, sendo emboscada em setembro de 1972. Mesmo sendo ferida no tiroteio e metralhada nas pernas, recusou-se a entregar a localização dos companheiros aos militares, e foi torturada e morta a golpes de baioneta.
Beatriz Nascimento (1942-1995)
Professora e militante antirracista. Filha de pedreiro e de “dona de casa”, nasceu em Sergipe e migrou para o Rio de Janeiro em 1950, onde terminou os estudos e se formou em História pela UFRJ, trabalhou como professora da rede estadual de ensino. Como pesquisadora se dedicou aos temas referências às questões étnico-raciais e do racismo. Foi assassinada em 1995 quando tentava ajudar uma amiga que sofria agressões do marido.
Edmea da Silva Euzébio (1946-1993)
Uma das líderes do movimento “Mães de Acari”, que denunciava o desaparecimento de 11 jovens moradores da favela de Acari. Os jovens estavam num sítio em Magé e foram levados por homens encapuzados que se identificaram como policiais. No dia 15 de janeiro de 1993, Edmea foi assassinada no Centro do Rio de Janeiro, quando investigava o desaparecimento dos jovens de Acari. Segundo as investigações, Edmea conseguiu provas contra o coronel da PM e ex-deputado estadual Emir Campos Laranjeira.
Ildacilde do Prado (1947-2005)
Líder comunitária do bairro Capivari em Duque de Caxias, cidade da Baixada Fluminense. Liderou o grupo conhecido como Justiceiras do Capivari, grupo de mulheres que, diante do feminicídio e da violência contra as mulheres na região, passou a fazer rondas armadas com facões e foices. Foi assassinada em 2005.
Pedro Henrique (1987-2018)
Militante em defesa dos direitos humanos e contra a violência policial. Em 2012, depois de ser agredido durante uma abordagem policial, começou a atuar na organização da Caminhada da Paz, realizada em Tucano, pequena cidade do sertão da Bahia. Pelo seu engajamento na denúncia da violência policial, foi perseguido, ameaçado e executado por policiais quando estava em sua casa em dezembro de 2018.