20 de Novembro: Dia de Zumbi, dia de lembrar as lutas contra o racismo e o genocídio do povo preto

20 de Novembro: Dia de Zumbi, dia de lembrar as lutas contra o racismo e o genocídio do povo preto

O 20 de Novembro é o para comemorar a insurgência e a rebelião do povo preto. A data é referência ao dia da execução de Zumbi dos Palmares, o último líder do maior quilombo da história do Brasil e, consequentemente, um dos maiores símbolos da luta de negros e negras contra o racismo, a exploração e o genocídio.

O Quilombo dos Palmares (1600-1710) foi construído pelos africanos e africanas que se insurgiram contra a escravidão imposta pelos colonizadores europeus, na Capitania de Pernambuco, hoje estado de Alagoas. Localizado na Serra da Barriga, seu primeiro líder foi Ganga Zumba. Nele reuniram-se entre 20 e 30 mil pessoas, incluindo a presença indígena, e resistiu cerca de cem anos.

Pintura Guerra de Palmares de Manuel Vitor, 1955.

Zumbi sucedeu Ganga Zumba na liderança de Palmares. Reconhecido pela destreza na arte da guerra, Zumbi se recusou a aceitar acordos com os colonizadores e organizou a resistência quilombola contra as ofensivas do exército colonizador.

Zumbi e os palmarinos (habitantes de Palmares) perceberam que existiam dois mundos inconciliáveis, o mundo do colonizador, da escravidão e do genocídio contra negros e indígenas, e o mundo em construção pelas mãos do povo preto insurgente, o mundo dos quilombolas.

O protagonismo dos quilombolas, negros e negras submetidos à escravidão, ao lado dos povos indígenas, nas lutas contra a dominação colonial e o regime escravista, nos ensina que temos que assumir hoje a linha de frente contra a exploração capitalista, o racismo e o patriarcalismo.

Memória das lutas antirracistas: o protagonismo e pretas e pretos

Tereza de Benguela (Nascimento desconhecido-1770)

Liderança do Quilombo de Quariterê (1730-1795), localizado no Vale do Guaporé, no Mato Grosso. Os documentos da época a identificam como “Rainha Tereza” e a auto-organização do quilombo contava com um parlamento. O dia de 25 de julho é o Dia Nacional de Tereza de Benguela e, também o Dia da Mulher Negra, latino-americana e caribenha.

João de Deus (1761-1799)

Foi um alfaiate e um dos líderes da Revolta dos Búzios (1798), também conhecida como Conjuração Baiana ou Revolta dos Alfaiates, que tinha como programa revolucionário o fim da colonização portuguesa e o fim da escravidão. João de Deus foi preso com outros revoltosos e condenado a morte juntamente com o alfaiate Manuel Faustino (1781-799) e com os soldados Lucas Dantas (1775-1799) e Luís Gonzaga (1763-1799).

Hilária Batista de Almeida, Tia Ciata (1854-1924)

Foi uma defensora das religiões e da cultura de origem africana. Nascida na Bahia sob o regime da escravidão, migra para a cidade do Rio de Janeiro no final do século XIX e fixa residência na região conhecida como Praça XI, na região da Central do Brasil. Sua casa se tornou um local de reuniões, rituais de candomblé e festas onde o samba teria suas origens, num período em que todas as manifestações da cultura negra eram criminalizadas.

João Cândido (1880-1969)

Marinheiro que liderou a Revolta da Chibata (1910), motim de marinhos que assumiram o comando de quatro navios de guerra, Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Deodoro, ancorados na Baía de Guanabara. Os amotinados exigiam o fim dos castigos corporais, as chibatadas, melhores salários e anistia aos revoltosos. As chibatadas foram abolidas, mas os revoltosos foram presos, torturados, condenados a trabalhos forçados e muitos foram executados. João Cândido foi preso na Ilha das Cobras e submetido à tortura. Foi expulso da Marinha, mais foi eleito pelo povo o Almirante Negro.

Domingos Passos (nasceu no final dos anos de 1800 e sua data de falecimento nos anos 1900 é desconhecida – 18??-19??)

Operário anarquista que participou de forma decisiva para a organização e lutas do proletariado no início do século XX. Participou da fundação da União dos Operários em Construção Civil (UOCC) e foi Secretário Executivo da Confederação Operária Brasileira (COB). Em 1917 organizou a adesão dos trabalhadores do Rio de Janeiro à Greve Geral iniciada em São Paulo. Em 1918 participou da Insurreição Anarquista, foi perseguido e preso. Em liberdade voltou para a militância revolucionária, sendo novamente perseguido e preso. Ficou foragido e partiu para a clandestinidade.

Armando Gomes (1888-1944)

Operário anarquista e fundador da União da Juventude em 1901, um espaço de resistência da cultura negra e defesa das religiões afro-brasileiras em Campinas (SP). Na sua luta antirracista e contra a exploração capitalista, fundou em 1915 a Liga Humanitária dos Homens de Cor. Em 1917 organizou a adesão dos trabalhadores de Campinas a Greve Geral iniciada na cidade de São Paulo.

Laudelina de Campos Melo (1904-1991)

Fundadora do primeiro sindicato de trabalhadoras domésticas do Brasil. Militante do Partido Comunista do Brasil (PCB), Laudelina fundou a primeira Associação de Trabalhadores Domésticos do país. A entidade ficou fechada durante a ditadura do Estado Novo e voltou a funcionar em 1946.

Carlos Marighella (1911-1969)

Revolucionário comunista que atuou como um dos organizadores da resistência armada contra a ditadura empresarial-militar de 1964. Se filiou ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1936, foi preso pela Ditadura Vargas do Estado Novo (1937-45). Com o fim do Estado Novo, foi eleito deputado federal constituinte em 1946, mas foi casado durante a repressão do governo Dutra (1946-51) ao PCB. Depois do golpe de 1964 rompeu com o PCB por defender a resistência armada contra o regime militar. Em 1967 fundou a Ação Libertadora Nacional e lançou as bases de uma estratégia revolucionária a partir da resistência armada. Foi emboscado e executado pela repressão em 1969.

Carolina Maria de Jesus (1914-1977)

Foi uma escritora brasileira, conhecida por seu livro “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada” publicado em 1960. Carolina de Jesus foi uma das primeiras escritoras negras do Brasil. Viveu na favela do Canindé, na zona norte de São Paulo, sustentando a si mesma e seus três filhos como catadora de papéis. Em 1958, tem seu diário publicado sob o nome “Quarto de Despejo”, com auxílio do jornalista Audálio Dantas. O livro fez um enorme sucesso e chegou a ser traduzido para catorze línguas.

Osvaldo Orlando da Costa, Osvaldão(1938-1974)

Guerrilheiro comunista que participou da Guerrilheira do Araguaia (1972-74). Foi boxeador e tenente do Exército, se filou ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB) em 1958. Com a estratégia de organizar a guerrilha rural contra a ditadura empresarial-militar de 1964 se transfere para a região do Araguaia. Foi executado pela repressão à guerrilha em 1974.

Helenira Resende, Preta (1944-1972)

Guerrilheira e dirigente estudantil, foi vice-presidente da UNE e integrou as Forças Guerrilheiras do Araguaia (FOGUERA/PCdoB). Preta cursou Letras e Filosofia na USP e foi presa em 1968, durante o XXX Congresso da UNE, caiu na clandestinidade usando o codinome Fátima. Depois, foi para o Araguaia organizar a luta armada contra a ditadura empresarial-militar, sendo emboscada em setembro de 1972. Mesmo sendo ferida no tiroteio e metralhada nas pernas, recusou-se a entregar a localização dos companheiros aos militares, e foi torturada e morta a golpes de baioneta.

Beatriz Nascimento (1942-1995)

Professora e militante antirracista. Filha de pedreiro e de “dona de casa”, nasceu em Sergipe e migrou para o Rio de Janeiro em 1950, onde terminou os estudos e se formou em História pela UFRJ, trabalhou como professora da rede estadual de ensino. Como pesquisadora se dedicou aos temas referências às questões étnico-raciais e do racismo. Foi assassinada em 1995 quando tentava ajudar uma amiga que sofria agressões do marido.

Edmea da Silva Euzébio (1946-1993)

Uma das líderes do movimento “Mães de Acari”, que denunciava o desaparecimento de 11 jovens moradores da favela de Acari. Os jovens estavam num sítio em Magé e foram levados por homens encapuzados que se identificaram como policiais. No dia 15 de janeiro de 1993, Edmea foi assassinada no Centro do Rio de Janeiro, quando investigava o desaparecimento dos jovens de Acari. Segundo as investigações, Edmea conseguiu provas contra o coronel da PM e ex-deputado estadual Emir Campos Laranjeira.

Ildacilde do Prado (1947-2005)

Líder comunitária do bairro Capivari em Duque de Caxias, cidade da Baixada Fluminense. Liderou o grupo conhecido como Justiceiras do Capivari, grupo de mulheres que, diante do feminicídio e da violência contra as mulheres na região, passou a fazer rondas armadas com facões e foices. Foi assassinada em 2005.

Pedro Henrique (1987-2018)

Militante em defesa dos direitos humanos e contra a violência policial. Em 2012, depois de ser agredido durante uma abordagem policial, começou a atuar na organização da Caminhada da Paz, realizada em Tucano, pequena cidade do sertão da Bahia. Pelo seu engajamento na denúncia da violência policial, foi perseguido, ameaçado e executado por policiais quando estava em sua casa em dezembro de 2018.

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