4 anos do Massacre de Caarapó: levantar as lutas anticoloniais e antifascistas por Terra, Saúde e Liberdade!

Vídeo-chamada de solidariedade, memória e luta produzido com o Tekoha Kunumi Poty Verá, onde Clodiodi está enterrado.

O dia 14 de junho é lembrado por diferentes comunidades Guarani e Kaiowá, que se levantam na memória de Clodiodi Aquileu Rodrigues de Souza, agente de saúde indígena de 26 anos assassinado na ocasião por latifundiários da região. As primeiras mobilizações foram apoiadas pelo Comitê de Solidariedade para os Povos Indígenas. Logo em seguida, o núcleo da FOB-MS buscou reivindicar o dia 14 de junho como um dia nacional de memória e luta.

Desde o início do ano, os Guarani e Kaiowá enfrentam um agravamento da situação de violência contra comunidades e territórios: 1) em janeiro, ataques de pistoleiros contra a retomada Laranjeira Nhanderu resulta na queima de uma Casa de Reza; 2) ainda em janeiro, retomadas de Dourados são atacadas brutalmente por uma associação entre forças militares (PM, DOF, Força Nacional), segurança privada e jagunços, resultando em feridos por bala de fogo e prisões; 3) corte no fornecimento de cestas básicas e falta de água em muitas comunidades; 4) mudanças na coordenação da FUNAI e apelos dos chefes de instituição ao “etnodesenvolvimentismo”, um genocídio que busca aprofundar as contradições no campo e proletarizar marginalmente indígenas; 5) precarização histórica da saúde indígena, com ameaça de municipalização da SESAI.

Em meio a Pandemia, os Guarani e Kaiowá decidiram agir de forma autônoma: se voltaram para o controle territorial em suas comunidades e levantaram barreiras sanitárias para se protegerem do novo Coronavírus. Além disso, fortaleceram as redes de soberania alimentar, ao buscar sementes crioulas para realizar trabalhos coletivos de produção de alimentos. As recentes campanhas do núcleo da RECC/FOB-MS, em especial a Campanha de Solidariedade Campo-Cidade, realizaram uma ampla arrecadação de sementes crioulas para as retomadas, de cestas básicas e caixas d’água. Para isso, destacamos o apoio solidário imprescindível de: camaradas do Comitê de Solidariedade Entre os Povos, de Lisboa e Coimbra (Portugal) e distintos apoiadores ao redor do Brasil e outras partes do mundo, que se somaram ao chamado de solidariedade aos Guarani e Kaiowá. A campanha permanece ativa e pode ser acessada em Campanha-de-Solidariedade Campo-Cidade por Saúde, Teto, Terra e Liberdade na página da FOB.

A primeira leva de sementes foi entregue apenas na Terra Indígena Dourados Amambaipeguá I, na região de Caarapó, onde estão localizadas nove retomadas. Quatro delas nasceram da resistência ocorrida no dia 14 de junho de 2016, dia que ficou conhecido como Massacre de Caarapó. A retomada Kunumi Poty Verá foi a principal receptora de sementes, tendo em vista uma articulação realizada pela comunidade para preparar o solo e para reafirmar sua resistência neste ano, que completa 4 anos desde o massacre.
Apesar da pandemia, neste ano não será diferente. Não podemos esquecer que o ataque do dia 14 de junho ocorreu após articulação por whatsapp de dezenas de fazendeiros, militares e membros de Sindicatos Rurais – inclusive o presidente do Sindicato Rural de Caarapó, Antônio Maram -, reunidos na empresa COAMO. Os assassinos deflagraram então a ofensiva contra a retomada, que havia ocorrido no dia 13. Não podemos esquecer que Nelson Buainain Filho, Virgílio Mettifogo, Jesus Camacho, Dionei Guedin e Eduardo Yoshio Tomonaga foram nomeados enquanto alguns dos responsáveis pela morte de Clodiodi, e até hoje permanecem impunes. Na ocasião, mais de 10 Guarani e Kaiowá foram feridos, incluindo uma criança de 12 anos. Não podemos esquecer que os sobreviventes do massacre ainda sentem os efeitos das balas cravadas no peito, das perdas irreparáveis para as famílias e lidam, ainda, com a prisão de Leonardo, pai de Clodiodi, encarcerado desde dezembro de 2018.

Vemos fazer eclodir por todo país lutas antifascistas e antirracistas que confrontam diretamente a repressão e a propriedade privada, e que confrontam os grupos fascistas que promovem o genocídio dos povos no nosso país. Relembrar o Massacre de Caarapó neste momento é inserir as lutas anticoloniais no centro das insurreições. Por isso, chamamos todas as organizações combativas e movimentos à ação nacional em homenagem à Clodiodi, que seu rosto seja estampado nas ruas e a bandeira anticolonial e antifascista caminhem lado a lado. Chamamos também à todos os apoiadores da luta Guarani e Kaiowá a fortalecerem a Campanha de Solidariedade Campo-Cidade, do núcleo da RECC/FOB-MS, para o apoio da resistência indígena frente ao COVID-19.

– Por justiça e liberdade: que os assassinos de Clodiodi sejam punidos! Liberdade para Leonardo, pai de Clodiodi;

– Morte ao latifúndio: defender as retomadas e fortalecer as autodemarcações e autonomias territoriais com soberania alimentar e auto-organização;

– Fora empresas transnacionais do agronegócio do território Kaiowá e Guarani. Todo direito à terra para os povos indígenas;

– Fortalecimento da campanha de solidariedade Campo-Cidade para diminuir os riscos de contaminação por COVID-19: apoio às barreiras sanitárias indígenas, à produção e distribuição de alimentos, e denunciar o genocídio promovido pelos governos e empresas através da precarização da saúde indígena e da exposição a doença nas linhas de produção.

FORA BOLSONARO E MOURÃO! PODER PARA O POVO!
GUERREIRO CLODIODI: PRESENTE NA LUTA!
SÓ O POVO SALVA O POVO!

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