60 anos de uma Ditadura que não acabou

60 anos de uma Ditadura que não acabou

Comunicado Nacional da FOB.

Seis décadas se passaram desde o golpe que instaurou a ditadura empresarial militar no Brasil em 1964. O seu início pode ser marcado entre os dias 31 de março e 1º de abril, mas o seu fim em 1985 não implica que vivemos uma democracia para o povo. Os militares não saíram do poder, ao contrário, eles se entranharam ainda mais dentro desse regime onde a democracia só existe para uma minoria poderosa, enquanto a maioria explorada ainda vive a tortura e a matança no seu cotidiano.

Lula e Militares: Cúmplices da mesma desgraça

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O presidente Lula com os comandantes militares Marcos Olsen, Tomás Paiva, Marcelo Damasceno, além do ministro da Defesa, José Múcio. Foto: Ricardo Stuckert.

No começo de março deste ano, o presidente Lula determinou o cancelamento de toda uma programação do ministério dos direitos humanos em memória dos 60 anos do golpe militar e disse que não o interessa remoer o passado, que o importante é tocar o Brasil daqui para frente. Esta omissão de Lula ecoa a postura do seu ministro André Singer que em 2004 fez o mesmo pronunciamento no Governo Lula 1. 

Assim, não deve nos causar espanto um pronunciamento como este. É coerente com a política que Lula toca desde o começo de sua caminhada. De fato, seu 3º mandato está de mãos dadas com os militares. A escolha de José Múcio para ser seu ministro da Defesa foi elogiada por Hamilton Mourão (REPUBLICANOS), que comemora o golpe de 1964 como uma salvação da nação e também nega os relatos dos torturados. Bolsonaro (PL), do qual Mourão foi vice no mandato presidencial, já declarou ter paixão pelo ministro indicado por Lula.

É por meio de José Múcio que muitas das cumplicidades de Lula com os militares são firmadas. Seja renomeação e promoção de militares, destinação de 5,6 bilhões ao Ministério da Defesa e Forças Armadas no orçamento de 2024, ou mantendo estes como interventores nas ações do Estado ao povo Yanomami que continuou com aumento de mortes de 2023. Não menos importante, apesar de sua atuação, o Governo Lula continua tendo relações comerciais e militares com o governo de Israel, fornecendo em contratos milionários a venda de Drones da Força Aérea Brasileira para o genocídio do povo palestino.

Também é inegável que os militares promovem hoje uma militarização de toda sociedade. Temos isso com a repressão da polícia militar às comunidades e favelas pobres, impulsionada pela aprovação da Lei Orgânica da PM no Governo Lula 3. As escolas cívico-militares são colocadas como uma fórmula mágica para garantir a ordem dentro deste sistema de morte. Ainda que descontinuada pelo poder federal, muitos governos estaduais mantêm propostas para o desenvolvimento destas escolas, como o governo do Estado de Santa Catarina.

Neste sentido, é preciso repudiar todo golpe político dos militares, mas também não devemos ter compromisso com esta democracia que banha o povo de sangue e entrega o ouro aos poderosos deste país e aos imperialistas.

Aos que tombaram com fuzil, devemos uma vida em lutas a mil!

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Cartaz da Ação Libertadora Nacional (ALN).

Marginalizados pela direita e apagados pela esquerda, os conjunto de trabalhadores que se empanharam na luta armada contra a ditadura militar não devem ser tratados como dois lados da mesma moeda com os militares torturadores. De fato, mesmo com possíveis questões sobre sua estratégia, estes guerrilheiros estavam do lado dos trabalhadores, defendendo a superação deste sistema capitalista de exploração.

Neste sentido, é papel dos lutadores de hoje defender a memória de quem tombou na luta armada contra a ditadura militar brasileira. A ilusão de enxergar isso sem conexão com o presente, levou a esquerda a entender que a disputa pela libertação se dá nas urnas desta democracia caquética, algo que faz o povo só rodar em círculos. O tempo presente, contudo, não pede um desenvolvimento de foco de guerrilhas, mas sim o desenvolvimento de uma federação sindicalista revolucionária que possa mobilizar o povo em seus locais de estudo, trabalho e moradia e organizar sua autodefesa para gestar um novo mundo na casca do velho por fora do Estado. 

Massacre de estudantes, operários e camponeses

É igualmente errante a ideia de que a ditadura militar só perseguiu e torturou os militantes que caminharam pela resistência amarda. Os camponeses, por exemplo, foram os primeiros a serem reprimidos pelo golpe militar. As ligas camponesas tinham uma inserção fortíssima entre o meio rural e estava avançando na autodefesa da classe, porém foi cercada pelos militares logo no início, sem apoio geral da cidade, as principais lideranças foram torturadas e assassinadas. 

Conforme, Gilney Viana, pesquisador da UNB, ex-membro da Ação Libertadora Nacional (ALN), podem ser contabilizadas 1.654 mortes e desaparecimento de camponeses durante a ditadura militar brasileira até  1988. A perseguição política aos camponeses, junto à aliança dos militares com os coronéis do campo, provocou uma série de violências que nunca teremos dimensão de sua totalidade por conta dos apagamentos.

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Indígenas Krenak em campo de concentração, em Minas Gerais, instaurado pelos militares na ditadura. Arquivo Nacional.

Houve mais de 8.350 morte de indígenas provocadas pela ditadura militar brasileira, segundo o texto final da Comissão Nacional da Verdade (Vol. 2). Povos como os Krenak tiveram imensas terras roubadas pelos militares por conta de seu projeto desenvolvimentista, além da criação de prisões intituladas de reformatórios onde os indígenas passaram pelo inferno na terra.

Os operários, tendo suas organizações de classe criminalizadas, sofreram absurdamente nos locais de trabalho a tirania dos patrões e governos militares. Somente na construção da Usina de Itaipu houveram, de 1978 a 1984, mais de 100 mortes por acidentes de trabalho e mais de 40 mil acidentes nos canteiros de obra ao todo. 

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Estudantes queimando a bandeira dos estados unidos na Sexta-Feira Sangrenta, Rio de Janeiro, 21 de Junho de 1968. Fotografia de Evandro Teixeira, Colorizada por inteligência artificial.

Os estudantes, como Ísis Dias, foram uma grande força na resistência armada na ditadura. Mobilizando frentes próprias nos locais de estudo para enfrentar os militares. Sua ousadia vingou mortes como a de Edson Luiz, secundarista assassinado em 28 de março de 1968 no Rio de Janeiro. Atualmente, a RECC ( Rede Estudantil Classista e Combativa ), federada à FOB, mantêm viva a memória do martírio de Edson Luiz todos os anos, fazendo desta data o dia do estudante classista e combativo.  

Fazer da memória da ditadura militar a gasolina das lutas do presente

O passado não nos serve para remoer, mas sim para nos ligar aos que tombaram nos caminhos da luta. É dever do povo cuidar de sua memória, pois os governos e patrões farão de tudo para apagar e distorcer as marcas da resistência. Que nestes 60 anos do golpe empresarial militar possamos aprofundar nosso compromisso em superar este sistema que explora e oprime. Em fortalecer a organização do povo, sua autodefesa e sua soberania contra aqueles que querem vender ilusões fantasiadas de liberdade. 

NEM A DITADURA MILITAR,
NEM A DEMOCRACIA DOS OPRESSORES:
TODO PODER AO POVO!


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