Comunicado Nacional da FOB
8 de Março de 2024
No dia 08 de março, comemora-se o Dia internacional da Mulher Trabalhadora, para nós este é mais um Dia de Luta. Nesta recuperamos a memória das lutas das mulheres trabalhadoras durante a Revolução Russa, quando ocuparam as ruas por “Pão e Paz” e de fato iniciaram o processo revolucionário, que levou a mais avançou nos direitos básicos, como, por exemplo, o direito ao divórcio e a noção de que o cuidado com a casa e os filhos deveriam ser coletivizados, considerados uma responsabilidade da sociedade e não somente da mulher, de forma privada.
As mulheres negras desde o início da colonização brasileira até hoje são lideranças nas rebeliões contra a servidão. A luta quilombola não seria o que é sem o legado de Aqualtune e Dandara dos Palmares, Zeferina do Quilombo do Urubu na Bahia, Rainha Tereza do Quariterê em Cuiabá, Maria Aranha do Quilombo de Mola em Tocantins e muitas outras. Hoje, elas continuam enfrentando os novos capitães do mato que sobem a favela para continuar a matança que o Estado é conivente.
As mulheres indígenas têm igual importância no legado das lutas anticoloniais no Brasil. As formas de governo mudam, mas a máquina de morte continua de maneira feroz. O fruto de um país que nunca resolveu sua questão fundiária é uma guerra constante no campo. Guerra que em janeiro de 2024 levou ao assassinato de Maria Fátima Muniz de Andrade Pataxó Hã-Hã-Hãe no território tradicional Caramuru-Catarina Paraguassu, município de Potiraguá, no Sudoeste da Bahia. A bala que atravessou seu corpo vem do punho dos ruralistas latifundiários que tiveram o amparo da Polícia Militar da Bahia do governador Jerônimo Rodrigues (PT).
A resistência armada à ditadura militar brasileira também teve os braços de mulheres que dedicaram sua vida ao socialismo. Alexina Crespo em Pernambuco organizou o braço armado das Ligas Camponesas, o primeiro movimento organizado perseguido pelos militares. No sudeste, a educadora popular Isis Dias, que estudava na USP, mobilizou a Frente Estudantil pela Luta Armada (FELA) em São Paulo como um braço da Ação Libertadora Nacional (ALN). Por conta da perseguição do DOI/CODI, foi sequestrada e assassinada em 1972.
No oriente, o povo curdo constrói hoje sua libertação pavimentada na luta pela liberdade das mulheres e da natureza em Rojava, norte da Síria. Frente as bombas do Estado Turco e os soldados do Estado Islâmico, o destacamento feminino do exército curdo (YPJ) avança com seus fuzis e sua ancestralidade.
Hoje a FOB se faz presente em diversos cantos do país a partir da força das mulheres que se organizam em seu local de estudo, moradia e trabalho. As que ocupam terras e rompem as cercas da servidão, as que enfrentam o assédio nas universidades e nos empregos precarizados, as que negam se sujeitar a falsa autoridade que o patriarcado impõe, são todas parte fundamental dessa reconstrução do sindicalismo revolucionário.
Sem mudar o sistema não se muda a condição das mulheres
As mulheres estão a frente nos mais duros enfrentamentos cotidianos, assumindo a frente dos movimentos por moradia, nas resistências frente a morte de nossos filhos pela violência do Estado, na luta por autodeterminação dos corpos e por melhores condições de trabalho, que atenda às suas demandas específicas e pela equiparação salarial. No Brasil, nós mulheres representamos 44% da força de trabalho no Brasil, com a maioria de nós de mulheres pretas e pardas. Em termos de rendimentos, recebemos 21% a menos que os homens, esse dado demonstra o traço patriarcal do capitalismo, sem contar o nosso trabalho não pago nos cuidados e tarefas domésticas. Não bastasse toda a exploração capitalista, também temos de passar por inúmeras violências com destaque para o feminicídio.
Em 2023, 699 mulheres foram vítimas de feminicídio, ou seja, em média 4 mulheres foram assassinadas por dia. Esses números correspondem a um aumento de 10, 8% a mais do que o no primeiro semestre de 2019. Além disso, no Brasil é o lugar que mais mata pessoas trans no mundo. Sem contar que segundo o Fórum de Segurança Pública nos últimos anos estamos diante de um crescimento acentuado de formas de violência grave, que podem incorrer em morte da mulher, como o crescimento de episódios de perseguição, agressões como tapas, socos e chutes, ameaça com faca ou arma de fogo e espancamentos.
Saímos do Governo Bolsonaro, um governo de ódio as mulheres, e entramos no Governo Lula, que tenta nessa passagem conciliar diversos interesses e pautas na estrutura de Estado. É preciso romper com essa perspectiva de conciliação e integração sistemática. Temos que os voltar para construção de nossa luta diária para acabar com o Estado capitalista, patriarcal e racista. Essa política de integração é um atraso para a organização autônoma do povo, da emancipação do proletariado e da revolução brasileira. Não podemos ter ilusões com um “capitalismo inclusivo”. Nós mulheres pretas, periféricas, indígenas, quilombolas, sabemos que no capitalismo sempre sairemos perdendo. Por isso, compreendemos que a solução será feita por e para nós, mulheres do povo, desenvolvendo redes de apoio mútuo, comitês de autodefesa nos locais de estudo, moradia e trabalho, trilhando caminhos para superação da exploração capitalista e das diversas opressões que nos assolam.
A FOB reafirma seu compromisso com a libertação integral de todas as mulheres através da luta imediata contra a violência doméstica, por creches públicas, pelo reconhecimento do trabalho doméstico e por toda manifestação do patriarcado. Nesta luta imediata trilharemos os passos para uma nova sociedade que sepultará este velho sistema de exploração e opressão.