Foto retirada do Comitê de Solidariedade aos Povos Indígenas
No dia 14 de junho do ano de 2016, os Guarani e Kaiowá avançam na retomada das terras ancestrais de Toro Paso, recuperando parte de seu Tekoha Guasu (Grande Território) das mãos dos latifundiários da região de Caarapó e posicionando-se contra o avanço do agronegócio no Mato Grosso do Sul. Com violenta resposta contra a luta do povo, grupos de ruralistas e paramilitares juntamente com a Polícia Militar e a DOF (Departamento de Operações de Fronteira) atacaram o acampamento de retomada com centenas de camionetes, jagunços, pistoleiros uniformizados das milícias privadas que servem aos latifundiários, máquinas agrícolas, armas de fogo, balas de borracha e foguetes, resultando em mais de 20 guerreiros Guarani e Kaiowá baleados e no assassinato do agente de saúde Guarani e Kaiowá Clodiodi Aquileu de Souza.
Esta ocasião tornou-se referência nos levantes recentes desses homens e mulheres que combatem e resistem contra a expansão do agronegócio-latifúndio e remontam ao amplo processo histórico de colonização, espoliação, genocídio e etnocídio, ampliação das fronteiras de avanço do capital, exploração da mão-de-obra indígena e da consolidação do latifúndio no Brasil. Somente entre os anos de 2003 a 2016, segundo dados do CIMI (Conselho Indigenista Missionário), o número absoluto de assassinatos de indígenas no Mato Grosso do Sul soma 444 pessoas mortas, enquanto no restante do Brasil foram 565, ou seja, quase metade do total dos assassinatos de indígenas de todo país em decorrência da luta pela terra. Após o violento assassinato do companheiro Clodiodi, a chama de resistência manteve-se acesa e os Guarani e Kaiowá seguem avante com a luta combativa insurgindo nestas terras tão devastadas.
As retomadas não cessam! E hoje, uma delas carrega seu sangue e seu nome em Guarani: Kunumi Poty Vera. Logo após o massacre cometido pelas mãos do Estado e suas bancadas anti-indígenas, os Guarani e Kaiowa dispostos a resistir até a morte avançam em mais duas outras retomadas, como resposta ao ataque e fazendo jus à corajosa luta obstinada dos povos indígenas. Tais territórios recuperados também fazem parte do mesmo Tekoha Guasu, que no estudo antropológico ficou consagrado como Dourados Amambaipeguá I. Entre eles, Guapo’y e Jeroky Guasu, que receberam ordem de despejo no final de outubro de 2017. Através da organização de ampla resistência contra o despejo de Guapo’y e Jeroky Guasu, os Guarani e Kaiowá mobilizaram grande e histórica vitória, garantindo a suspensão de segurança para impedir a reintegração de posse, e demonstrando que apenas a luta, construída pela organização de base, pela ação direta, pelo corajoso enfrentamento contra o Estado e o latifúndio, pode barrar as ofensivas terroristas dos de cima, para além do oportunismo dos partidos que tentaram sequestrar o protagonismo da batalha que se anunciou na ocasião, e foi barrada de última hora, no raiar do dia que marcava a data final para a ação as forças armadas do Estado, já posicionadas em frente a aldeia para um “segundo massacre de Caarapó”, nas palavras dos guerreiros preparados para guerra. Além destas, a aldeia Pindo Roky que também é parte da mesma Terra Indígena Dourados Amambaipeguá I, recebeu notificação de despejo no início de 2018. Sendo este o lugar em que foi assassinado no ano de 2013 o guerreiro Denilson Barbosa de 15 anos. Ainda este mês, no dia 15 de maio, a retomada Te’yi Jusu também recebeu notificação de despejo.
Frente a tal contexto, e considerando que novas batalhas se anunciam, o Comitê de Propaganda da RECC/FOB de Dourados adere ao chamado do Comitê de Solidariedade aos Povos Indígenas para construção de ato nacional no próximo dia 14 de Junho, conclamando às organizações populares e revolucionárias, aos movimentos sociais, e a todos os lutadores e lutadoras do povo a se levantarem em memória de Clodiodi de Souza, e em favor da luta revolucionária dos Guarani e Kaiowá, em ação e solidariedade às lutas contra os ataques dos assassinos do Estado e latifúndio, que não hesitam em derramar sangue para atender ao projeto de expansão das fronteiras do capital contra os territórios rebeldes dos povos indígenas.
GUERREIRO CLODIODI: PRESENTE NA LUTA!
TERRA, JUSTIÇA E LIBERDADE: FORA RURALISTAS DO CAMPO E DA CIDADE!
AVANÇAR AS RETOMADAS, DESTRUIR O LATIFÚNDIO!
Link de vídeos produzidos pelo Comitê de Solidariedade aos Povos Indígenas denunciando o despejo das retomadas Guapo’y e Jeroky Guasu:
https://www.youtube.com/watch?v=p8ukszLYxaI
Vaquinha de apoio à Assembleia da Retomada Aty Jovem (RAJ), espaço de organização e articulação da juventude Guarani e Kaiowá, que irá ocorrer entre os dias 10 a 14 de setembro de 2018:
https://www.vakinha.com.br/vaquinha/assembleia-da-retomada-aty-jovem-guarani-e-kaiowa