Desastre Natural ou do Capital? A produção social de tragédias em Santa Catarina

Desastre Natural ou do Capital? A produção social de tragédias em Santa Catarina

Seção Popular do SIGA-SC

Nesta última semana, os trabalhadores de Santa Catarina foram atingidos mais uma vez por uma tragédia coletiva de grandes proporções. As chuvas que caíram sobre o estado foram o estopim do desastre que resultou na destruição de vidas e lares na região do Vale do Itajaí, afetando principalmente as cidades de Presidente Getúlio, Ibirama, Rio do Sul, Siderópolis e Lontras.

Na soma total de perdas, essas cidades contabilizam até este sábado (19 de dezembro) o saldo de 15 vidas perdidas, 6 pessoas desaparecidas, 184 desabrigadas, 284 desalojadas e milhares de famílias traumatizadas e/ou  apreensivas, pois sabem que esse tipo de tragédia irá se repetir, só não sabemos onde e nem quando. Nós, do Sindicato Geral Autônomo de Santa Catarina (SIGA-SC), temos em nossas fileiras e entre nossos apoiadores, militantes  que nasceram ou residem com suas famílias no Vale do Itajaí. Para eles, esses acontecimentos são como um flashback, resgatando de maneira muito viva as lembranças e lições das recorrentes tragédias passadas. O SIGA-SC se solidariza não só com nossos filiados, mas também com todas as famílias trabalhadoras que hoje enfrentam essa situação dramática em plena crise pandêmica e social. 

Santa Catarina enfrenta esse tipo de tragédia ao longo de toda a sua história,  repetitivamente: As enchentes de 1855 devastaram, principalmente, a então colônia Blumenau (Vale do Itajaí) – cujos números exatos de mortos e desabrigados são desconhecidos até hoje; A enchente de 1974 deixou a cidade de Tubarão (sul do estado) debaixo d’água, e pode ter deixado mais de mil mortos[1] e um número inestimável de desabrigados; As enchentes de 1983, devastaram novamente Blumenau, resultando em 49 mortos e mais de 190 mil desabrigados no estado; As enchentes de 2008 atingiram todo o estado, contabilizando 135 mortes e mais de 10 mil pessoas que ficaram desabrigadas; Nas enchentes de 2011, 6 vidas foram perdidas e 26 mil tiveram que abandonar suas casas. Para além de todas as enchentes listadas acima, são inúmeros e quase anuais os desastres chamados “naturais” que acabam com mortos, desabrigados e famílias traumatizadas em Santa Catarina.

Políticos e mídia burguesa tentam criar uma visão de senso comum de que as tragédias são produto da imprevisível fúria da natureza, como se a condição de trabalhadores residindo em encostas ou às margens de rios fosse questão de mera escolha de moradia, e não imposições das condições materiais de vida imposta aos mais pobres, que vão de salários baixos à especulação sobre os preços dos aluguéis e dos terrenos em geral, em um planejamento urbano pensado para jogar as populações mais empobrecidas para as periferias das cidades. Dessa forma, não é a natureza e muito menos são os trabalhadores que decidem o destino de nossas cidades, ou que contribuem de maneira determinante com os resultados dos desastres anuais. Os únicos responsáveis são os donos do poder, que impõem para todos um futuro condenado à tragédias.

Nas eleições deste ano, os discursos dos políticos da direita e da esquerda, como sempre estiveram permeados com a defesa da ideia de “Progresso”, porém o que seria esse tal progresso? Avanço da qualidade de vida? Mais acesso à cultura ou educação? Maior poder de consumo? Ampliação das liberdades? Maior tempo de lazer ou descanso? Melhoramento dos serviços de saúde? Moradias dignas? As ideias de progresso tanto da direita quanto da esquerda podem conter todas essas reivindicações acima, entre outras, mas sejam quais forem, não passam de farsa ou auto engano, já que no sistema capitalista, “progresso” é sinônimo de mais exploração, tanto da força de trabalho humana quanto dos recursos da natureza, tendo como resultado a destruição da vida e da natureza.

A concepção de progresso, no capitalismo, pode ser vista das enchentes em Santa Catarina à crise de saúde mundial que estourou com o “aparecimento” da Covid-19. Se trata de um projeto global de um mundo baseado na queima de vidas humanas e recursos naturais, em uma busca desenfreada por lucros e acúmulo de capital, pois o que o capitalismo tem de racional na gestão de suas indústrias e comércios, tem de irracionalidade e irresponsabilidade na gestão do planeta.

Não é à toa que um estado como Santa Catarina, que possui um dos maiores PIBs (produto interno bruto)[2] do Brasil e uma baixa densidade demográfica, não se tenha tido em um século um planejamento racional de seu espaço urbano ou um controle racional das suas fronteiras agrícolas[3]. Não é à toa que num planeta onde se produz muito mais do que se necessita, ainda existem milhões que passam fome ou que vivem em condições indignas, mesmo planeta onde 75% das doenças infecciosas (do ebola ao coronavírus) são de origem animal silvestre, que ao fugirem da devastação se aproximam da “civilização”, ou seja, animais que fogem de suas florestas devido ao avanço da destruição causada pelo agronegócio, indústria madeireira, mineração e etc.

O progresso para os trabalhadores ou para a natureza da qual somos filhos não é possível no capitalismo, pois ambos são o combustível que fazem rodar as engrenagens do capital, e para o qual o progresso significa exploração. Logo, só é possível progresso real com a superação do modo de produção autodestrutivo do capitalismo, e essa é a tarefa histórica dos trabalhadores, que não se dará pelo parlamento. Para darmos respostas racionais às “tragédias naturais” e construirmos um mundo novo, é necessário reorganizar os organismos de poder da classe trabalhadora no Brasil e no mundo, pois o futuro da natureza e dos povos começa com a destruição do capital.

Lutar pela garantia de trabalho, terra, moradia e uma vida digna!

Revolução Social Contra a gestão suicida do capital!

Que estado e capital indenizem todas perdas!


[1] Segundo dados oficiais, a enchente de 1974 causou a morte de 199 pessoas e desalojou 60 mil dos 70 mil habitantes da cidade de Tubarão na época. O número de mortos, no entanto, é contestado pelos moradores que vivenciaram a enchente. A imprensa noticiou na época que a estimativa do número de mortos chegaria aos milhares, e enterrados em valas comuns.

[2] O PIB – Produto Interno Bruto – é a soma de todas as riquezas produzidas em um dado território durante um determinado tempo.

[3] fronteira agrícola representa uma área mais ou menos definida de expansão das atividades agropecuárias sobre o meio natural.

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