Por OBSERVATÓRIO DA KUÑANGUE ATY GUASU
No dia 14 de agosto, às 23h, e na madrugada do dia 15 de agosto, a retomada Avaete, do povo Guarani Kaiowá, foi brutalmente atacada por fazendeiros e pistoleiros. Na ocasião, foram queimadas 6 casas, destruíram cultivos de alimentos e atiraram contra diferentes regiões da retomada, quase assassinando a uma nhandesy (rezadora) de 85 anos que estava no local. Durante a tarde do dia 14, uma camionete branca foi vista e registrada rondando a retomada. Os ataques foram realizados por uma camionete branca e um carro cinza. Ainda, os pistoleiros ameaçaram retornar na noite de hoje, dia 15 de agosto, para matar lideranças e afirmando que “essa noite é o caveirão que manda”. A referência é ao “caveirão rural”, máquina agrícola modificada e blindada usada para atacar Avaete e outras retomadas da região ao longo de 2019 e 2020.
Localizada em área limítrofe à Reserva Indígena de Dourados, a retomada foi realizada em 2018 e foi palco de incontáveis violências cometidas pelos fazendeiros da região, seguranças privados e pela Polícia Militar, o que também inclui as retomadas vizinhas –Nhu Vera, Aratikuty, Yvu Verá e outras. O Observatório da Kuñangue Aty Guasu desenvolveu um relatório de 32 páginas registrando ao menos 16 ataques ocorridos entre agosto de 2021 e agosto de 2022 contra a retomada, desde ataques químicos, tentativas de assassinato com armas de fogo, queimas de casas e alimentos, destruição de roças, tortura, ameaças, estupro e uso do “caveirão rural”, além de um rastro de feridos.
Seguem os registros do resultado dos ataques:
O Observatório da Kuñangue Aty Guasu denuncia, ainda, o uso criminoso de mídias de Dourados, em específico, a Dourados News, para reforçar a criminalização da comunidade ao apresentar a versão mentirosa da polícia militar que acusa aos Guarani Kaiowá de terrorismo. Exigimos retratação da Dourados News e que seja publicado como forma de reparação o dossiê da O.K.A sobre violência em Avaete, assim como este documento e uma matéria que acompanhe in loco a real situação da comunidade. Exigimos medidas imediatas por parte dos organismos competentes para cessar os ataques que mais uma vez demonstram a ineficácia e a morosidade do Estado em encaminhar de modo efetivo uma resolução para a violência do latifúndio na região. O Estado, ao que parece, está aguardando a ocorrência de outro massacre, como o ocorrido em 2022 contra a retomada de Guapo’y Mirim Tujury. Não podemos permitir que siga em curso a avalanche de violências que assola a comunidade de Avaete. Os fazendeiros, seguranças privados e pistoleiros precisam ser responsabilizados e punidos, assim como os policiais militares que atuam como seguranças privados dos latifundiários.
Chamamos a todxs apoiadorxs para contribuir com a retomada através de doações de lonas, alimentos, utensílios de cozinha, roupas, camas e cobertores para apoiar a comunidade e as famílias que perderam tudo durante o ataque, inclusive suas casas. Todxs em alerta para impedir e denunciar os ataques e ameaças contra Avaete!
Dourados, 15 de agosto de 2023
OBSERVATÓRIO DA KUÑANGUE ATY GUASU
