“O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos” (Simone de Beauvoir )
Disseram que “a regional de ensino do Gama é progressista, não precisamos nos preocupar”, e também disseram que “a diretoria da escola é progressista…”. Mas no dia da votação, todos estavam favoráveis à militarização do CEF 05, seja porque ela vai trazer mais verbas para a escola, seja porque estavam obedecendo ordens superiores. E como defensores de si mesmos (seus cargos acima de toda ideologia e dignidade) os obedientes foram os que impuseram o projeto de forma mais antidemocrática e perversa do que em outros locais. Em sua obediência e amor pelo poder se aliaram com o que há de mais podre e reacionário da política local à nacional.
Tudo começou com um processo organizado “por debaixo dos panos” pela diretoria da escola, regional, secretarias de educação e segurança do GDF. Nem sequer os estudantes, professores e pais da escola estavam cientes de como ou quando se daria o processo. Houveram relatos de professores e alunos que descobriram no próprio dia que já seria a votação, e não apenas um debate. O projeto foi intencionalmente omitido da comunidade escolar, com o objetivo de cercear o debate de ideias e a crítica (tão necessária à educação e ao conhecimento científico). Esse fato levou a dúvidas sobre própria legalidade da “assembleia”, já que esta deveria ter sido convocada pelo conselho escolar, de acordo com a lei de gestão democrática.
A direção do CEF 05 iniciou a divulgação do processo apenas um dia antes do mesmo, da pior forma possível. Ao invés de se manter imparcial, a escola botou uma funcionária para distribuir panfletos favoráveis ao projeto, aparelhando a instituição para defender a ideologia e a proposta militarista do governo.
No dia marcado para a “assembleia” e votação, 30 de outubro de 2019, os organizadores impediram a distribuição de materiais contrários a militarização no interior da escola. Funcionárias da Regional chegaram ao cúmulo de impedir, aos gritos, que pessoas conversassem entre si sobre o tema antes da “assembleia”. Se isso não é censura, o que é? Para piorar, a Regional do Gama junto com a Direção do CEF 05 colocou professores para agirem indignamente como “seguranças”, tentando impedir que os setores da comunidade gamense contrários ao projeto sequer adentrassem ao espaço da votação. Uma das “seguranças” chegou a insultar um líder comunitário do Gama e outros presentes chamando-os de “vagabundos!”. O líder comunitário insultado, Roberto Farias, é maestro e criador do reconhecido projeto Cordas do Gama, que dá aulas de música clássica para jovens e adolescentes do Gama e região. Depois de muita pressão e diante da vergonhosa postura antidemocrática, as portas foram liberadas.
Ao iniciar a “assembleia”, com menos de 100 pessoas, foi passado um vídeo a favor da militarização e se revezaram representantes da regional, do governo e da polícia para defenderem o projeto. A única oposição que permitiram falar foram três representantes do Sinpro. Não foi aberta a fala para nenhum pai, nenhum estudante e nenhum professor do CEF 05! Um professor da escola que tentou falar teve sua inscrição desrespeitada.
Por fim, fica claro que o circo estava montado para ser aprovado a qualquer custo, ou seja, para ser imposto. O verniz de “democracia” que o governo quer demonstrar foi rapidamente desmascarado aos olhos de todos. O resultado, como era de se esperar de um processo sem debate, manipulado, feito por debaixo dos panos, foi favorável à militarização: 118 votos favoráveis e 37 contrários. De uma comunidade de pais, professores e estudantes de cerca de 2 mil pessoas, apenas 118 aprovaram o projeto, em torno de 5% da comunidade!
Um grupo combativo de professores, estudantes e moradores do Gama esteve presente e se manifestou contrário ao projeto autoritário e elitista de militarização. O comitê local do Gama do Sindicato Geral Autônomo (SIGA) esteve presente no ato. Também estiveram presentes o Fórum Comunitário e o Sinpro. Infelizmente, faltou uma ação mais organizada e enérgica por parte da comunidade do CEF 05 que é contrária à militarização. É necessário corrigir esse erro, construindo dentro de cada escola, em cada base, a resistência. O SIGA continuará na luta e na organização das comunidades para seguir defendendo uma escola democrática, popular e crítica. É necessário que fique claro aos funcionários dos órgãos do governo, regionais e direções, que eles estão sendo cúmplices da manipulação, censura e mentiras, assim como terão as suas mãos e carreiras sujas quando surgirem os casos de violência, assédios e autoritarismo típicos desse projeto reacionário de Bolsonaro e Ibaneis.
Por fim, é importante entender a militarização como um projeto de morte. Morte sim, por que a imposição da submissão (inerente ao projeto das escolas militares) é a morte do pensamento crítico e isto nada mais é que a morte do ser humano, mais do que um homicídio é um humanicídio. A submissão mata a humanidade, mata a espontaneidade, mata o raciocínio, mata a criatividade, ou seja, mata o ser humano. E esse ser que buscam matar é o ser mais rebelde, o jovem da periferia, rebelde não por inatismo mas pelas condições de vida que lhe foram impostas. Rebeldes, porque é justo indignar-se, porque não aceitam ver seus vizinhos ou seus amigos, ou ainda seus familiares, desprovidos de direitos. Afinal a indignação é algo próprio dos humanos. Aquele que já não se indigna já está morto em vida, já não enxerga o outro que ao seu lado é injustiçado. O que se rebela está vivo. Mas temos a plena certeza que essa juventude não está morta e a ela vai ser difícil calar. Como diria Gonzaguinha “eu acredito é na rapaziada, (…) eu ponho fé é na fé da moçada”. Se aos adultos já lhes corroeram a ira, aos jovens a ira não se calará!
AVANTE A LUTA CONTRA A MILITARIZAÇÃO DAS ESCOLAS!
ABAIXO O OPORTUNISMO E O REACIONARISMO!
CONSTRUIR A RESISTÊNCIA DAS COMUNIDADES ESCOLARES PELA BASE, SEM ILUSÕES COM OS PODEROSOS!