Comunicado Nacional da FOB
Desde que Lula comparou o genocídio que Israel realiza contra Palestina ao holocausto nazista, o assunto tomou conta da mídia de forma polêmica. A polarização do debate público tensiona para que a questão seja defender a ou atacar a fala do presidente. Contudo, essa cortina de fumaça embaça a principal questão que deve ser feita: Quais ações o governo brasileiro tem tomado em apoio aos palestinos que estão sofrendo este massacre?
O simbólico e o material
É de interesse dos governantes que o simbólico prevaleça ao material no debate público. Afinal, o simbólico pode ser manipulado de várias formas, enquanto o material revela os reais interesses envolvidos na luta pelo poder. A subida da rampa do planalto neste 3º mandato de Lula representa este jogo de imagem. Representações dos oprimidos sobem a rampa, porém a política econômica é tocada com o mesmo chicote colonial e capitalista de sempre.
Vínculos comerciais entre as bravatas
No dia 19 de fevereiro, um dia após o pronunciamento de Lula, o embaixador do Brasil em Israel foi convocado por ele para retornar ao país. Isto se dá após Benjamin Netanyahu dizer que iria repreender o embaixador pela fala do presidente. Já se fala em crise diplomática, rompimento de relações diplomáticas, porém pontos importantes devem ser levantados.
O Brasil é 5º maior importador de aparato militar de Israel. De modo em a indústria da guerra israelense e a militarização brasileira que mata o povo preto nas comunidades se alimentam entre si. O fluxo comercial entre Israel e Brasil em 2022 foi de aproximadamente 4 bilhões de dólares. Algo que é incentivado inclusive pelo Acordo de Livre Comércio Mercosul-Israel onde 90% dos produtos que o Mercosul exporta para Israel tem taxas de importação reduzidas.
O Lula e Netanyahu podem trocar bravatas, mas é dever da classe trabalhadora pressionar para que o Brasil tome um posicionamento realmente em favor do povo palestino. Como, por exemplo, rever o posicionamento do Governo Lula negar residência humanitária aos refugiados palestinos.
Não há justificativa
Não há justificativas econômicas para que se mantenha relações com Israel quando se trata do Brasil: um país continental com plena capacidade de construir uma soberania nos produtos manufaturados que importa de lá. Não há justificativas morais em ser conivente com um massacre que se mantêm amontoando cadáveres em que aproximadamente metade são crianças.
A conivência somente se justifica mediante os interesses de fortalecer a política sionista que dentro do ocidente encontra seus aliados imperialistas. Ao ponto em que, mesmo insuficiente, a proposta de cessar fogo do Brasil foi vetada pelos Estados Unidos na ONU. Esta ineficiência da ONU chegou a tal ponto que até um Diretor de Direitos Humanos da entidade renunciou ao cargo por reconhecer que ela é incapaz de dar uma resposta a altura do genocídio em curso.
Desafios internacionalistas para a classe trabalhadora
O rompimento econômico, militar e diplomático de Brasil com Israel não virá pela consciência vendida do Presidente Lula. Será fruto da mobilização do povo que com sua consciência deve rasgar as propagandas sionistas e entender que literalmente a bala que mata irmão é literalmente do mesmo fuzil que mata uma criança palestina.
Contudo, é com muita dor que este desafio deve ser visto com sua totalidade. As grandes organizações de massa do Brasil, infelizmente, não possuem a independência de classe necessária para empurrar o governo para direção correta. O objetivo da maioria delas permanece em primeiramente sustentar o governo e só depois, caso convenha, realizar alguma crítica.
Como se diz o ditado, é preciso trocar a roda com o carro andando. É neste processo de politização do povo por meio das ações de organizações verdadeiramente autônomas que se pode construir uma força que dê resposta a altura deste genocídio.
Neste sentido, a FOB reafirma sua solidariedade ao povo palestino e se compromete estar unida para defender uma posição combativa contra o Estado de Israel sem conceções ao sionismo travestido de interesses nacionais.
Viva a resistência do povo palestino!
Romper relações com o Estado de Israel!