Comitê do Gama do Sindicato Geral Autônomo do DF
Um pequeno protesto agitou o centro do Gama (DF) na tarde desta terça (10). Cerca de 50 moradores da comunidade mobilizaram-se para reivindicar a entrega da reforma do Centro de Saúde nº 08. A causa foi bem apoiada por quem transitava no local. O prédio está inativo há mais de 5 anos. Aproximadamente 70% dos moradores do Gama dependem do SUS, segundo estudo da Codeplan. O centro faz muita falta para a população da região. No sábado passado, outro ato pelo SUS público ocorreu na capital.
A comunidade se revoltou ainda mais quando o governador Ibaneis (MDB) anunciou recentemente que faria uma parceria público-privada (PPP) para entregar a área do Centro ao hospital privado Maria Auxiliadora construir um estacionamento no local. Em “troca”, o hospital construiria o Centro em uma área próxima. (Leia mais sobre como o setor privado de saúde atua na privatização da saúde pública)
Entretanto, o atual governo e parlamentares governistas não explicaram a razão da reforma não ser concluída no local. Circula nas redes sociais um suposto impedimento judicial, sem informar que impedimento é este. Trata-se do terceiro governo sem respostas nem reforma do Centro nº 08: Agnelo (PT), Rollemberg (PDB) e Ibaneis (MDB).
O atual Governo também não apresentou projeto do local alternativo que ele seria construído. Todas áreas próximas são públicas. Nem mesmo a comunidade foi consultada. A postura do governo e de correligionários de deputados favoráveis são apresentados de forma sorrateira, contraditórias e sem transparência.
Comunidade exige Centro no seu lugar de origem
O prédio do Centro nº 08 foi construído em 1973. Ele foi fechado no final de 2014 e em 2015 iniciaram a reforma. Os serviços do Centro nº 08 foram transferidos para outros postos, HRG e inclusive improvisado nas arquibancadas do estádio Bezerrão. A previsão de entrega da reforma era maio de 2016, porém nunca terminou.
A empresa parou as obras por problemas de prestação de contas e depois alegou falta de interesse, segundo reportagem do DFTV. O GDF chegou a convocar a segunda e terceira empresas da licitação, mas também alegaram não ter mais interesse. A previsão orçamentária inicial era de 3 milhões 273 mil para a reforma, parceria da SES com a Caixa.
A falta de interesse das três empresas para assumir a obra também chama atenção. O hospital Maria Auxiliadora pertence a um dos maiores grupos empresariais de saúde da cidade, o Santa Lúcia. O grupo tem um forte lobby.
Não há provas da relação do Maria Auxiliadora com o abandono do interesse das empresas na reforma. Porém, quem conhece a máquina pública e as negociatas do setor privado não descarta a possibilidade. Na prática, o hospital privado, vizinho de lote com o Centro nº 8, se beneficiaria com a área pública no centro da comunidade.
Táticas diferentes e interesses em disputa na comunidade
Correligionários do deputado Daniel Donizet buscam convencer a comunidade que o projeto é bom, sem se dar ao trabalho de questionar as razões da paralisação da reforma. Assim, levantam suspeita de que servem ao interesse privado do hospital, e não da comunidade e do bem público.
Por outro lado, alguns deputados do PT buscam intervir questionando o governo sobre a PPP. Parte do movimento acredita ser necessário uma audiência pública e aparenta confiar na ação de parlamentares. No entanto, nestes espaços, a população não tem poder deliberativo algum.
Assim, as táticas de luta da comunidade precisam se renovar. A luta é justa, mas está relativamente presa na dependência de pequenas comissões, lideranças e de deputados.
Para dobrar o governo, a comunidade precisa apostar no seu próprio poder de pressão. Mobilizar novas pessoas de porta em porta. Fazer uma política independente dos governos, dos partidos e das empresas. Adotar uma postura mais combativa. Ofensiva. Fazer barulho. Incomodar. Ocupar órgãos do GDF para exigir respostas.
A luta é da comunidade, e é ela que deve ter o protagonismo. Não doaremos área pública para empresas e nem trocaremos a luta pelo Centro nº 8 por votos.
“A nossa luta é todo dia, saúde pública não é mercadoria!”
“Tamo na luta, é pra viver, queremos posto pro povo não morrer!”
“Não, não, não à privatização! O posto é do povo e não abrimos mão!”