O operário anarquista brasileiro Edgard Leuenroth (1881-1968), em um de seus vários artigos publicados no jornal operário A Plebe, procurou diferenciar os diversos modelos de sindicalismo da história e de seu tempo:
“Que o sindicalismo não tem natureza própria, ao contrário do que há muito tempo afirmava um camarada – prova – o fato de que pode ser socialdemocrata ou bolchevique… ou católico, anarquista. Não sendo mais que o nome dado ao movimento operário, ele terá o caráter que lhe infundam com sua mentalidade e seu temperamento as minorias ativas que o orientem.” (LEUENROTH, Jornal A Plebe)
Edgard Leuenroth tinha razão ao afirmar que o sindicalismo não é e nunca foi uma única concepção. Pelo contrário, no movimento sindical existem muitas concepções e práticas diferentes e, em muitos casos, contraditórias.
Podemos identificar hoje no movimento sindical brasileiro, as seguintes concepções e práticas sindicais: sindicalismo reacionário, sindicalismo liberal, sindicalismo socialdemocrata e o sindicalismo revolucionário.
1. Reacionários e liberais
O sindicalismo reacionário, organizado principalmente em centrais sindicais como UGT, NCST, tem como característica a defesa da relação harmoniosa entre os empresários e os trabalhadores. Afirmam que patrões e trabalhadores(as) devem estar de mãos dadas. Defendem a ordem e a legalidade imposta pelas classes dominantes. São sindicatos personalistas, sempre dependentes da figura do presidente do sindicato, não possuem democracia interna.
O sindicalismo liberal, das centrais sindicais brasileiras Força Sindical e CGTB, têm as mesmas características do sindicalismo reacionário e conservador, a diferença é a defesa de uma falsa “modernização” das relações entre empresários e trabalhadores(as). Mas sua principal características é a defesa do “sindicalismo de resultados”, isto é, a defesa de que os trabalhadores devem reivindicar, por exemplo, 15%, para conseguir 5% de reajuste. Ou seja, já entram numa negociação com a certeza que irão rebaixar a pauta de reivindicações.
Outro aspecto comum entre reacionários e liberais é tentar atrair trabalhadores e trabalhadoras com espaços recreativos, sedes campestres, medidas assistencialistas, festas, shows e distribuição de brindes. A luta que é importante eles deixam de lado.
O sindicalismo reacionário e liberal são chamados de “sindicalistas chapa branca”, isto é, dizem representar os(as) trabalhadores(as), mas na verdade defendem os interesses dos empresários e tem como único objetivo continuar indefinidamente na direção das burocracias sindicais.
2. Socialdemocrata
A diferença do sindicalismo socialdemocrata em relação ao reacionário e liberal é que os socialdemocratas aparecem como de esquerda ou defensores do socialismo. Entre as centrais sindicais do Brasil, a CUT, a CTB e a CSP-Conlutas são defensores do sindicalismo socialdemocrata.
O sindicalismo socialdemocrata, apesar do discurso de esquerda, reproduzem, na prática, as mesmas marelas do sindicalismo reacionário e liberal. Para os socialdemocratas o sindicato devem fazer exclusivamente a luta de reivindicação econômica, assim, deixam a luta política para os partidos políticos. Por isso, é muito comum diretores e ex-diretores dos sindicatos concorrerem às eleições burguesas, ou mesmo ocuparem cargos governamentais ou assessoriais de vereadores ou deputados.
Mas quando chegam no Estado, seja na condição de eleitos ou indicação política, caem na conciliação de classe, quer dizer, defendem a negociação e o entendimento entre empresários e trabalhadores(as), mas como os empresários são aqueles que têm o poder econômico, são os seus interesses que prevalecem em detrimento dos interesses da classe trabalhadora.
Na verdade, participar das disputas eleitorais é algo que unifica sindicalistas reacionários, liberais e socialdemocratas. Todos utilizam os espaços do movimento sindical como trampolim para concorrer nas eleições, ou mesmo para fazer a defesa de determinados candidatos em troca de favores ou cargos políticos.
Por isso, o sindicalismo reacionário, liberal e socialdemocrata são conhecidos como “sindicalismo de Estado”, isto é, defendem a legalidade da ordem dominante, a participação nas eleições e a participação nos governos.
3. O sindicalismo revolucionário
O sindicalismo revolucionário foi o responsável pela construção da primeira organização sindical nacional dos(as) trabalhadores(as) do Brasil, a COB (Confederação Operária Brasileira). Hoje o sindicalismo revolucionário está em processo de reorganização, com a atuação da FOB (Federação das Organizações Sindicalistas Revolucionárias do Brasil).
O sindicalismo revolucionário, ao contrário das demais concepções sindicalistas, defende verdadeiramente o socialismo, isto é, o fim da sociedade capitalista e a construção de uma sociedade justa e igualitária.
Para os revolucionários o principal objetivo dos sindicatos é a construção do autogoverno dos(as) trabalhadores(as), ou seja, o governo da federação livre das comunas e das associações da classe trabalhadora, sendo que os sindicatos são as primeiras bases dessa nova sociedade.
Por isso, o sindicalismo revolucionário é contra qualquer participação nas eleições burguesas, a aceitação de qualquer cargo de indicação política nos governos e faz oposição a todos os governos capitalistas, independente dos partidos ou ideologias.
O sindicalismo revolucionário é contra qualquer forma de conciliação ou entendimento com os empresários, porque sabem que eles são ricos e poderosos e sempre irão impor seus interesses prejudicando os(as) trabalhadores(as).
Portanto, os revolucionários defendem a ação direita, ou em outras palavras, defendem que a emancipação dos(as) trabalhador(a) será obra da própria classe trabalhadora organizada, com sua luta direta de enfrentamento contra os empresários e governantes.
A principal estratégia de luta direta da classe trabalhadora é a greve geral, porque com ela toda a classe paralisa suas atividades, paralisa a produção, a circulação e a prestação de serviços, mostrando aos empresários e aos governos que são os(as) trabalhadores(as) que produzem a riqueza.