SIGA-DF | Os sindicatos da educação estão mortos ?

SIGA-DF | Os sindicatos da educação estão mortos ?

BOLETIM DA SEÇÃO DE TRABALHADORES DA EDUCAÇÃO

Os trabalhadores da educação do DF estão divididos em vários sindicatos oficiais: SINPRO, SAE, SINPROEP, SAEP, SINDSERVIÇOS, etc. Mas existe uma coisa comum a todos eles: nenhum tem feito luta ou mobilização real pelos nossos direitos nos últimos anos.

Sofremos com anos de derrotas e ataques do GDF, do governo Bolsonaro e dos patrões: congelamento salarial, militarização de escolas, reformas contra a previdência e direitos trabalhistas, cortes orçamentários na educação, etc. E com a pandemia essa situação só piorou! Acúmulo de trabalho, desvio de função, falta de materiais e infraestrutura adequada, volta às aulas sem segurança, demissões e reduções salariais nas escolas particulares, e várias outras injustiças. Isso têm gerado um grande desgaste, estresse, adoecimento e até a morte por Covid de colegas de trabalho e da comunidade escolar.

1. A desmobilização dos trabalhadores não caiu do céu

Não é verdade que os trabalhadores estejam “acomodados”, que não estejam indignados com toda a situação política e social. Mas a indignação isolada não é suficiente para criar uma força real. Também não é suficiente consumir conteúdos em redes sociais, muito menos votar de quatro em quatro anos. Para transformar a indignação em luta as pessoas precisam estar organizadas, ativas e possuir mecanismos coletivos pra construir a luta. Quem cumpria essa função eram os sindicatos e movimentos sociais, mas hoje eles parecem fracos e distantes, por que?

A concepção reformista-burocrática que orienta os principais sindicatos e movimentos desde os anos 1980, teve duas consequências gravíssimas para a desmobilização dos trabalhadores: 1) Estruturas sindicais cada vez mais autoritárias, com direções que controlam e desorganizam as bases para se perpetuar no poder das entidades; 2) submissão do movimento sindical-popular aos partidos e seus objetivos eleitorais e governos, principalmente ao PT (mas não só, outros partidos reproduzem a mesma lógica). Essas duas consequências pioraram muito desde os governos do PT. A base de todos os governos do PT foi a conciliação de classes com os exploradores, a direita e os inimigos do povo.

Os governos petistas, com o apoio da CUT e da UNE, retiraram direitos trabalhistas, apoiaram o crescimento da educação privada, reprimiram greves e protestos. Cada vez mais atrelados a política eleitoral, com o tempo o sindicalismo reformista perdeu as poucas características de luta que restavam, se tornando cada vez mais pelego, mais dependente de conchavos com governos e patrões, cada vez mais um trampolim pra política eleitoral. É o caso dos sindicatos da Educação do DF, especialmente do SINPRO.

Para manter o movimento sindical-popular submisso aos governos (e mantê-lo até hoje submisso à estratégia eleitoral do “lulismo”), era preciso manter o controle autoritário no interior das organizações, impedir que a indignação das bases derrubasse as direções pelegas, mesmo que para isso tivessem que fraudar eleições sindicais, boicotar greves e lutas, manipular assembleias, agredir opositores e outras práticas infames (e vergonhosas pra quem diz defender a “democracia”!). A consequência de anos dessa política burocrática, autoritária e corporativista da esquerda foi o afastamento, a desesperança e a desorganização cada vez maior da classe trabalhadora. Essa é a verdadeira origem da tão falada “desmobilização”.

2. Por que isso é importante? “Fora Bolsonaro” e o boicote da luta por direitos

Hoje, mesmo na oposição ao governo Bolsonaro, a burocracia sindical e partidária de esquerda está tão afundada no oportunismo eleitoreiro e na crise de organização, que é incapaz de retomar a iniciativa de luta. As poucas lutas reais foram por fora das burocracias, como das torcidas organizadas e protestos antirracistas em 2020. As atuais passeatas “fora bolsonaro” são um espetáculo de impotência e passividade, em grande parte uma cópia dos passeios de domingo da classe média “contra a corrupção” e “fora dilma”, e apesar da boa intenção e do número de pessoas, o método recuado sequer arranha a estabilidade do governo, muito menos impede a perda gigantesca de direitos sociais e trabalhistas.

A campanha “fora Bolsonaro” não tem envolvido e mobilizado de fato a classe trabalhadora. Primeiro porque a tática principal da oposição (PT e CUT) não é o impeachment, é desgastar o governo até as eleições do ano que vem. Segundo porque mesmo o impeachment (defendido por PSOL, PSTU, etc.) também não é uma garantia real para o povo, pois a troca de governos e políticos na gerência do Estado não garante mais direitos ou melhorias. No final das contas, as duas linhas do “fora Bolsonaro” (via eleições ou via impeachment) condicionam a luta por direitos à mudança de governo, ou seja, retiram dos trabalhadores e suas organizações o protagonismo de se defender diretamente, por suas próprias mãos, colocando esse protagonismo nos partidos, no parlamento ou no novo “salvador da pátria”.

Um exemplo dessa concepção na luta dos trabalhadores da educação do DF foi a greve dos professores em 2017: após a derrota das principais reivindicações, na assembleia que acabou com a greve um dirigente do SINPRO afirmou ridiculamente: “nas eleições de 2018 vamos dar o troco no governo!”. Seria cômico se não fosse trágico! Hoje estamos piores do que em 2018, mas as burocracias sindicais e partidárias seguem na mesma estratégia falida. Hoje, os sindicatos oficiais da Educação já nem organizam greves ou protestos. Para eles nada pode ser feito enquanto não voltarem ao governo, e se voltarem ao governo “ai de quem faça luta!” pois estará “fazendo o jogo da direita”. A classe trabalhadora reduzida à impotência, eis o legado histórico da política eleitoreira e de conciliação de classes das burocracias de esquerda.

3 – Que fazer? Retomar a luta dos trabalhadores da educação

Mas não adianta só reclamar, é preciso abandonar as ilusões e partir pra ação. Temos um governo federal e distrital alinhados contra a classe trabalhadora e a educação. Estão passando um rolo compressor de medidas antipopulares, a crise social se aprofunda, e como foi dito, nessa cruzada diabólica os seus maiores aliados tem sido a postura vacilante das burocracias de esquerda.

Se temos críticas ao “fora Bolsonaro”, o que fazer? Uma verdadeira oposição classista ao governo Bolsonaro tem que lutar desde já pra derrotar as medidas e reformas anti-povo, e impulsionar a retomada das lutas reivindicativas nas categorias, as assembleias presenciais, a organização por local de trabalho e a ação direta com protestos e greves. Essa é a verdadeira estratégia pros trabalhadores derrotarem por si mesmos a política antipovo dos governos e patrões, e não “trocar seis por meia dúzia” como querem os oportunistas. Pra isso, nenhuma confiança nas burocracias, é preciso construir uma alternativa de luta e organização dos trabalhadores da educação! Um movimento pela base, autônomo, democrático, classista e combativo.

Abaixo a política dos governos Ibaneis e Bolsonaro!

Por assembleias presenciais e democráticas pra organizar a resistência!

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