A farsa eleitoral no Rio de Janeiro

A farsa eleitoral no Rio de Janeiro

Não vote! Lute e construa o sindicalismo revolucionário!

Por Sindicato Geral Autônomo do Rio de Janeiro – SIGA-RJ

No último dia 15 de novembro ocorreu mais uma farsa eleitoral, as eleições municipais de 2020 que ocorreram em plena pandemia da Covid-19, que vitimou mais de 165 mil brasileiros e brasileiras, profunda crise social avanço da exploração e opressão burguesa com o governo neofascista de Bolsonaro, Mourão e Paulo Guedes.

Para a concepção e para a estratégia de luta do sindicalismo revolucionário, as eleições burgueses são entendidas como parte do sistema de dominação e exploração capitalista, de reprodução do racismo estrutural e do patriarcalismo. Participar das eleições, portanto, significa compactuar com a reprodução da ordem burguesa. Por isso, defendemos o boicote à farsa eleitoral, organizamos a “Campanha Não vote, lute!” como parte de nossa estratégia de ruptura com o sistema capitalista.

1. A reorganização das frações burguesas, o poder das milícias e do fundamentalismo religioso

Na cidade do Rio de Janeiro, os dois candidatos à prefeitura que disputam o 2º turno são Eduardo Paes/Democratas (DEM), que conta com apoio das frações tradicionais da burguesia carioca e simpatia de setores reformistas, e o bispo Marcelo Crivella/Republicanos, atual prefeito que tem o apoio do fundamentalismo cristão e das milícias.

Eduardo Paes foi prefeito do Rio de Janeiro por dois mandatos (2009-2016), na ocasião era filiado ao antigo PMDB, atual MDB, e fazia parte do grupo político do ex-governador Sérgio Cabral, que encontra-se preso por corrupção, responsável pela aliança política com o PT e os governos de Lula e Dilma. Em seu segundo mandato teve como vice-prefeito o petista Adilson Pires.

Como prefeito, Eduardo Paes foi um dos responsáveis diretos pela implementação do programa neoliberal e de gentrificação da Era PT, que beneficiou os empresários das grandes empreiteiras, a máfia dos transportes, a especulação imobiliária e os empresários das Organizações Sociais (OS’s). Destaque para a privatização dos bairros da Zona Portuária, Saúde, Gamboa e Santo Cristo, que formam a Pequena África, mas que hoje pertencem ao Consórcio Porto Maravilha.

As políticas privatistas e excludentes do governo Paes provocaram a expulsão de milhares de famílias proletárias de seus lares. Tudo para a tender as exigências de elitização das localidades para a realização dos Mega Eventos, Copa das Confederações, Copa do Mundo, Jornada Mundial da Juventude Católica e Olimpíadas. Podemos dizer que Paes é um dos responsáveis pela destruição do Maracanã.

O Bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, Marcelo Crivella, foi um apoiador de primeira hora dos governos petistas, pois em 2002 foi eleito senador do Rio de Janeiro pelo Partido Liberal (PL), partido do vice-presidente eleito na chapa do primeiro mandato de Lula, o industrial José Alencar. Desde então se manteve na base de apoio dos governos petistas.

A vitória do bispo Crivella nas eleições de 2016 antecipou, em certa metida, a ascensão fascista que ocorreria nas eleições de 2018. Seu governo significou um aparelhamento da Prefeitura pelos quadros neopentencostais, políticas de intolerância religiosa e racismo, práticas homofóbicas, avanço do poder das milícias e desprezo à vida.

O processo de avanço das milícias formadas por agentes da repressão do Estado, da ativa ou aposentados, com seus representantes políticos, que dominam determinados territórios, foi muito rápido no último período. Cerca de 57% dos territórios da cidade do Rio de Janeiro encontra-se sob domínio militar e comercial das milícias. Suas atividades econômicas se diversificaram, hoje controlam tráfico de drogas e armas e empreendimentos imobiliários, como aqueles que desabaram matando 24 pessoas no bairro da Muzema.

Suas políticas fundamentalistas, racistas e homofóbicas chegaram a desagradar inclusive frações importantes da burguesia carioca, como a indústria do turismo, entretenimento e hotelaria, uma vez que o bispo Crivella fez oposição ao Carnaval, à Marcha do Orgulho LGBT e causou polêmica com a Bienal do Livro. Esses embates provocaram o afastamento dessas frações burguesas do apoio ao seu governo.

Diante da incapacidade do bispo Crivella em representar os interesses burgueses, as frações das classes dominantes se reorganizaram a partir da campanha de Eduardo Paes, que retornou às suas origens políticas, considerando que o DEM é o antigo PFL (o ARENA da ditadura empresarial-militar). O DEM recuperou parte do prestígio político que perdeu durante a Era PT, tendo Rodrigo Maia cumprindo o papel de representar os interesses de frações burguesas do capital monopolista e imperialista que não se encontram totalmente afinados com o governo Bolsonaro. O ex-prefeito Cesar Maia foi reeleito, sendo o quarto mais votado e o campeão de votos do DEM.

A reorganização das frações burguesas e das milícias é visível nas eleições do legislativo municipal. Temos por um lado a desagregação do MDB carioca, que elegeu apenas um vereador, de outro lado a ascensão dos Democratas, que melhor representam a burguesia; os Republicanos, representação do fundamentalismo religioso e das milícias que tiveram sete vereadores eleitos e os diversos partidos como Avante, Solidariedade, Patriotas, Podemos e PSD que tomaram o lugar do PMDB.

O Republicanos teve o segundo vereador mais votado, Carlos Bolsonaro, um dos principais nomes da política fascista no Brasil. Pelo mesmo partido foram eleitos os bispos Inaldo Silva e João Mendes de Jesus, que reforça a relação entre fundamentalismo e poder das milícias. Outros representantes eleitos das milícias foram Waldir Brazão (Avante), Gabriel Monteiro (PSD) e Rogério Amorim (PSL).

Temos um contínuo aumento do poder paramilitar, das milícias, que tem ampliado seus negócios nessas áreas como: venda de terrenos e imoveis, net, gás, água e combustível. A reorganização do poder das milicias e sua expansão está em pleno curso, e nos parece que a Intervenção federal no Rio só aumentou seu poder que chegou a assassinar a vereadora Marielle Franco do PSOL.

Neste sentido, temos o fortalecimento da base do bolsonarismo: militarismo e clericalismo.

2 – A Ilusão dos Reformistas

A comemoração por parte do PT da disputa no segundo turno em São Gonçalo e os votos em Benedita não passam de uma ilusão mesmo dentro do quadro da disputa eleitoral. De acordo com a principal liderança partidária do Rio de Janeiro, o ex-prefeito de Maricá, Quaquá, e atual membro da direção nacional é necessário um partido burguês, lulista e reformista. Senão o próprio PT, é preciso que Lula transforme o lulismo nisso. Portanto, não é de espantar o rebaixamento programático em São Gonçalo prometendo até secretaria de assuntos religiosos, aliança como PSL em Belford Roxo e o quarto lugar nas eleições cariocas elegendo menos vereadores que o PSOL.

O PSOL na eleição para prefeito sofreu com o próprio processo interno da escolha do nome e com o deputado federal Marcelo Freixo, segundo colocado em 2016, procurando construir uma Frente com PDT, PSB, PCdoB, PSOL, REDE e PT. Como não conseguiu impor sua vontade, resolver abrir mão da candidatura. Paradoxalmente, os candidatos a vereadores do partido tiverem mais votos que a candidata Renata. O partido aumentou sua bancada no Rio e Niterói e elegeu um vereador em São Gonçalo. No entanto, PT, PSOL e PCdoB não conseguiram eleger nenhum candidato na baixada fluminense.

A experiência de ter mais negros e mulheres na câmara tem como ponto principal dar uma nova roupagem multicultural ao sistema de dominação, no momento em que ele se encontra mais frágil, se fechando mais em seu autoritarismo. Assim, as candidaturas que supostamente apresentam um avanço, na verdade estão fortalecendo o sistema. É uma ilusão. Assim como o sufrágio universal com candidaturas operárias também foi uma ilusão.

A pergunta que se deve fazer é: o quanto as candidaturas de partidos que reivindicam o socialismo avançam na auto-organização da classe trabalhadora rumo ao socialismo? Depois desses quase 40 anos de república podemos dizer que nada.

Nós por Nós: a ação direta como solução para nossas mazelas.

Somente o número de abstenções (1.590.876), ou seja 32,79% dos votos, para a prefeitura do Rio de Jnaneiro superou a soma dos dois primeiros candidatos que hoje disputam o segundo turno. Se somarmos os brancos e nulos teremos 52,02% de eleitores que não votaram em ninguém. A plutocracia (Governo dos Ricos), que chamam de democracia, está em crise. Mesmo parte daqueles que votam sabem que nada vai mudar de fato. É mais do que necessário nos organizarmos para construir desde já o autogoverno das trabalhadoras e trabalhadores. Um contra poder, autônomo e popular, sem a presença de patrões, juízes, políticos e membros das forças de repressão.

Para isso, devemos conjugar desde agora nossas lutas mais imediatas e reivindicativas (saúde, moradia, educação, paz, terra, trabalho) com um programa revolucionário, antifascista e anticolonial, baseado nos organismos de poder proletário, nas associações e cooperativas, nos sindicatos autônomos e comissões de trabalhadores, nas plenárias e ocupações, nos comitês e iniciativas comunitárias e nos movimentos e núcleos de base.

Precisamos impulsionar estas experiências a partir de uma estratégia insurrecional, passando pela construção da Greve Geral, dos conselhos populares e assembleias de base, que se articulam a partir dos nossos territórios em através de um Congresso do Povo como organismo de decisão do poder proletário, federalista e socialista em oposição ao poder burguês e estatal. O poder do povo deve se impor como uma forma de contrapoder, baseado na mobilização permanente de massas e na organização popular de base e autônoma.

Nós da FOB, que construímos na luta diária uma federação revolucionária de trabalhadores e do povo pobre a partir de núcleos de base, organizações populares e sindicatos autônomos combatemos a farsa eleitoral. Denunciamos as eleições burguesas como um teatro genocida que serve para legitimar a dominação e a exploração, e propomos, a partir da nossa realidade concreta e demandas reais, avançar na construção do sindicalismo revolucionário e do poder do povo, articulando nossas lutas por vida digna com um programa de libertação anticapitalista e socialista, profundamente antirracista e antipatriarcal.

NÃO VOTE, LUTE!!!

PELO AUTOGOVERNO DAS TRABALHADORAS E TRABALHADORES!!

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