A Greve de Massas dos Garis: a vitória de 2014 e a derrota de 2015

Por GT Operário

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A greve dos Garis de 2014 foi uma verdadeira greve de massas. Ela não somente unificou toda a categoria, como conseguiu o apoio da sociedade em geral. Ela derrotou a empresa, a polícia e a repressão, o poder judiciário e a prefeitura do Rio de Janeiro. Ela deu ânimo a todos os lutadores. Mostrou que a luta traz vitórias. Mostrou a dignidade e coragem dos trabalhadores da Comlurb.

Mas porque a greve de 2015 não conseguiu o mesmo resultado? Quais fatores? Será inevitável que a greve fosse derrotada. Na verdade não. A derrota de 2015 está ligada a dois fatores fundamentais. O aprendizado do Estado, da burguesia, que se preparou para enfrentar uma nova greve. A penetração da burocracia sindical do PSOL no movimento dos garis e sua estratégia reformista de organização, além da frágil auto-organização dos trabalhadores da Comlurb na base.

 A vitória: rompendo com o legalismo e a burocracia sindical

Devemos lembrar que em 2014 o caminho da vitória começou com assembleias de base que ignoravam o sindicato pelego. As assembleias atropelaram a burocracia. Essa foi a primeira condição da vitória, a mobilização da base. A força da base acabou com a burocracia e instituiu a democracia operária. A ação direta O passo seguinte foi a construção de uma comissão de greve. Esse foi um avanço, mas também um retrocesso. Isso porque essa comissão deve ser construída e controlada pela base. Mas isso não foi possível avançar naquele momento.

Depois os garis tomaram duas ações fundamentais: eles não obedeceram as decisões da justiça do trabalho, nem recuaram diante da repressão das demissões. A força coletiva da categoria foi paralisar o processo de trabalho, deixar a cidade sem limpeza. Ao não aceitarem o legalismo, eles mostraram que a justiça se faz com a força das ruas e da organização. Eles obrigaram a justiça a recuar da sua decisão. Dessa forma, foi a organização de base que combateu a burocracia sindical e o legalismo. Além de uma decisão acertada sobre o momento da greve.

A vitória não foi produto do acaso. Foi resultado dessas condições. A greve atraiu muita atenção. O Estado estava interessado em destruir essa organização; o sindicalismo de Estado também. De mãos dadas eles trabalharam para isso e contaram com o apoio de um aliado inesperado: as correntes sindicais reformistas ligadas ao PSOL.

 A derrota: conciliando com a burocracia, se curvando ao legalismo e parlamentarismo

O que aconteceu em 2015? O contrário. Uma primeira fragilidade foi interna à própria categoria. A categoria dos Garis não aprofundou sua organização e seu nível de consciência como um todo. Os trabalhadores precisam fazer sua autocrítica e assumir essa responsabilidade. Eles precisam encontrar as causas das vitorias e das derrotas em si mesmos. Esse aprendizado é fundamental. Mas outro fator foi exatamente a entrada das correntes sindicais ligadas ao PSOL e sua estratégia reformista e legalista. O que eles fizeram?

Ao invés de combater a burocracia sindical, eles tentaram conciliar com ela. Primeiramente dirigiram os esforços para disputar as eleições sindicais do sindicato de Estado pelego. Além disso, chamaram a direção pelega para “participar” do processo de greve. Por fim, aceitaram a decisão da justiça do trabalho e recuaram do movimento. Essa foi a fórmula da derrota. A estratégia da corrente sindical do PSOL é “conquistar a direção do sindicato de Estado”, assim como a estratégia do PSOL é conquistar “o Governo do Estado burguês”. Seus objetivos não são fortalecer a organização autônoma dos trabalhadores.

Isso levou ao enfraquecimento e a derrotas. Os demitidos estão aí para provar isso. O absurdo foi o apelo no Primeiro de Maio das Centrais em que todas se recusaram a permitir a fala dos Garis. Está provado. A burocracia sindical rompeu impiedosamente.

Sabemos que os garis estão tentando encontrar seus caminhos. Sabemos que a luta é dura. Sabemos também que existem simpatizantes e militantes do PSOL que são sinceros lutadores. Mas sinceridade não basta. É preciso enfrentar a realidade, e ela mostra que a estratégia sindical reformista, de conciliar com a burocracia sindical não só produz derrotas, mas enfraquece e desorganiza as lutas.

Pela Organização Autônoma dos Garis: construindo organização por local de trabalho

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                O Fórum de Oposições pela Base participou e apoiou ativamente a greve dos garis. Desde o primeiro momento falamos: é preciso derrubar a burocracia sindical. Nossa estratégia não é ganhar direções sindicais, mas fortalecer a organização autônoma de base. Por isso entendemos que a vitórias dos garis depende dos próprios garis. Do aprofundamento de sua consciência política e organização.

                Por isso propomos, ao contrário das correntes sindicais ligadas aos Partido reformistas e Centrais pelegas, a organização autônoma. O esforço dos garis, assim como das demais categorias, não deve ser disputar as eleições do sindicato pelego, eleger uma nova diretoria. O esforço deve ser construir uma organização autônoma de Garis, uma Federação de Trabalhadores de Limpeza Urbana. Uma federação que possa fazer as lutas contra a burocracia, o legalismo, e pela ação direta.

                Mas para chegar a isso é preciso organizar comissões ou conselhos de fábrica ou local de trabalho. Cada fábrica ou local de trabalho deve ter reuniões próprias para discutir os problemas das categorias e eleger seu representante. Seu representante deve levar as posições de sua base para uma Assembleia Geral Autônoma, não a assembleia do sindicato pelego. A assembleia Geral Autônoma de delegados de base seria assim o espaço legítimo reconhecido por toda a categoria para encaminhar as lutas. Ela deve construir outros organismos de ação, sempre controlados pela base.

O sindicato de Estado e oficial (asseio e conservação) é mais Estado que sindicato. Por isso os trabalhadores devem trata-lo como tal: devem pressioná-lo e combate-lo. E não tentar se organizar através dele.

A estratégia de luta está dada: a ação direta, a greve. Sabemos que só isso não é suficiente para garantir vitórias. Mas sem essas condições, certamente só teremos derrotas. Por isso chamamos os lutadores, os garis a construírem o FOB, que luta pela organização autônoma das lutas. O GT Operário do FOB pode auxiliar na organização do movimento operário em geral, e dos garis em particular.

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