AVALIANDO AS ELEIÇÕES 2014 – ENTRE A FARSA DAS URNAS E A LUTA NAS RUAS

por Coletivo Ousar Lutar

      Para muito além da polarização propagandeada pela grande mídia, bastante relativa se considerarmos a pouca diferença entre os programas das principais candidaturas apresentadas, comprometidas acima de tudo com uma melhor gestão do capital, o resultado das eleições de 2014 traz um dado importante – ele sim merecedor de atenção – para a análise do processo de participação das massas no cenário político nacional.  Trata-se do alto índice de abstenções e votos brancos ou nulos, que aponta para mudanças em direção a um cenário político que se constrói e consolida mais na participação direta nas ruas do que na limitada participação consentida nas urnas.
A eleição para governador do estado do Rio de Janeiro,  exemplo mais contundente desse fenômeno observado em todo o território nacional, reflete precisamente o descontentamento da maioria da população com os candidatos que se apresentaram e, muito mais do que isso, a experiência acumulada nas décadas pós-abertura política de que a participação nas urnas é insuficiente para proporcionar as grandes transformações necessárias para a superação das desigualdades sociais, expressadas pela pobreza e falta de acesso de qualidade aos serviços públicos mais básicos, e da violência que afeta principalmente trabalhadores negros das favelas e periferias. No Rio, exatamente 4.348.950 eleitores se abstiveram ou votaram nulo/branco no segundo turno das eleições no estado, ultrapassando o número de votos do primeiro colocado, Pezão, que teve 4.343.298 eleitores.
Existe uma série de motivos verbalizados pelo eleitorado para explicar a decisão de não compactuar com esta eleição: desencanto com o processo eleitoral, desencanto com os candidatos apresentados, desencanto com os partidos de uma forma geral, mas todos eles traduzem o sentimento de limitação da participação no processo eleitoral como canal privilegiado para o encaminhamento dos interesses dessa grande parcela da população.  A questão que se coloca é que essas pessoas não acreditaram que votar em algum dos candidatos disponíveis provocaria melhorias fundamentais em sua vida. A disputa entre as duas principais candidaturas, do PT e PSDB, foi um conjunto de variações dentro do mesmo tom. A indicação dos próximos ministros só faz demonstrar o alinhamento das campanhas aos interesses do latifúndio e da especulação, reforçando o acerto da campanha “Não Vote! Lute”.
Diferentemente do que muitos críticos da abstenção dizem, muitos deles diretamente comprometidos com a difícil tarefa de defender a legitimidade dos governos eleitos em tão delicada circunstância, esse quadro não significa um aumento da despolitização. Pelo contrário. Está em pauta um desejo de participação política que vá muito além da participação no jogo de cartas marcadas e programas que pouco diferem da disputa eleitoral, da qual o Estado nos permite participar.
Ainda é importante destacar que os processos eleitorais são determinados pelo clientelismo, formação de currais eleitorais, violência e aparelhamento de organismos da classe, sindicatos e movimentos sociais pelos partidos reformistas de origem sindical e popular, no intuito de vencer o pleito. Nesse sentido, é importante destacar que as eleições fazem parte do sistema de dominação burguesa, como forma de fortalecimento e reprodução do Estado, de suas práticas e da classe dominante.
Assim, a abstenção e o voto nulo são uma crítica aos espaços limitados que a democracia liberal nos concede; uma crítica a uma representatividade inócua, a que nenhuma reforma política tem condições de responder a altura, já que as principais mudanças propostas em relação ao processo eleitoral – como o fim do voto obrigatório, o financiamento público de campanhas ou a equiparação dos tempos de televisão – em nada alteram a questão da ampliação da participação política do povo, que, especialmente após as grandes manifestações de 2013, mostra que este espaço de participação é a rua e a organização em movimentos combativos que nela se façam presentes . Nesse ano que se inicia, o foco de luta deve ser a construção das mobilizações de massa e da Greve Geral, contrapondo-se de forma prática aos projetos neoliberais, e não o oportunismo político em torno da construção de candidaturas visando a disputa na próxima farsa eleitoral.

É BARRICADA, GREVE GERAL, AÇÃO DIRETA É QUE DERRUBA O CAPITAL!

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