Boletim Nacional Terra e Liberdade nº3

Boletim Nacional Terra e Liberdade nº3

AÇÃO DIRETA E AUTONOMIA NA LUTA INDÍGENA PELO TERRITÓRIO

Desde o dia 22 de agosto mais de 6 mil indígenas, de pelo menos 178 povos, estiveram presentes no Acampamento Luta Pela Vida em Brasília. Além do fortalecimento de várias reivindicações, os povos se uniram para combater o Marco Temporal, previsto inicialmente para ser votado no STF no dia 25 de agosto. Durante toda a jornada de luta os povos se organizaram em marchas, assembleias, rezas, e outras ações de resistência em defesa da terra e da liberdade.

Assim como em junho, quando também ocorreu acampamento em Brasília, a luta se espalhou por todas as regiões do país com protestos e fechamento de rodovias. Em junho a FOB (Federação das Organizações Sindicalistas Revolucionárias do Brasil) esteve ombro a ombro com os povos originários no Mato Grosso do Sul, Ceará, Santa Catarina, Rio de Janeiro e no Distrito Federal. No acampamento Luta Pela Vida a FOB também participou e convocou o Bloco Terra e Liberdade para a grande marcha que ocorreu no dia 25 de agosto.

Táticas de desmobilização e controle da luta

O Estado, os grandes latifundiários e capitalistas tem tentado desmobilizar a resistência indígena de várias formas, a principal tem sido o adiamento das votações no STF. Já foram cinco adiamentos em dois meses.

Além disso, a repressão policial e os acordos para impedir o uso de borduna, arco e flecha e outros instrumentos tradicionais também tem sido usados para tentar controlar a luta. O que o Estado faz é criminalizar a mínima possibilidade de autodefesa dos povos, enquanto ameaça os protestos com policiais fortemente armados e avança com o armamento de jagunços e narcomilícias no campo.

Os povos oprimidos não podem lutar e serem vitoriosos seguindo as regras do inimigo. Os indígenas sabem disso melhor que ninguém. São mais de 500 anos de resistência contra os Estados coloniais que matam e exploram nossa gente. Com o atual Estado brasileiro (seja nos governos de FHC, Lula ou Bolsonaro) não é diferente, é uma instituição que serve às grandes empresas mineradoras, agropecuárias e extrativistas que destroem a natureza e invadem nossos territórios. Não vai ser com eleição ou políticos que as coisas vão mudar.

Autonomia, autodefesa e libertação territorial

A luta em defesa dos territórios precisa seguir sem ilusões com as instituições do sistema. Agora é um momento estratégico da resistência, mas mesmo se a votação no STF ou no parlamento for favorável ou contra o Marco Temporal, a luta pela terra não irá parar. Independente da lei da política e da justiça, sabemos que a lei do capitalismo é a destruição, o roubo e a morte dos nossos povos, territórios e da natureza. Por isso é preciso construir uma grande aliança pela base entre os povos indígenas, camponeses, quilombolas e trabalhadores das cidades, para defender e avançar a retomada das terras e territórios das garras do latifúndio. O caminho é o fortalecimento dos movimentos, assembleias e conselhos autônomos dos povos, preparando o grande levante em defesa da terra, do autogoverno e do fim da propriedade privada.

BASTA DE AGRESSÃO À TEKOHA AVAETÉ II EM DOURADOS (MS)

Dia 29 de agosto se completam 2 anos de resistência da retomada Avaeté II Marãney, em Dourados (MS). Desde então os companheiros Guarani Kaiwoa tem sido alvo de ataques de pistoleiros a serviço de latifundiários. Casas já foram incendiadas e pessoas feridas a bala. Os indígenas têm resistido bravamente com arco e flechas e com a certeza de que não deixarão a sua terra ancestral.

Toda solidariedade à Tekoha Avaeté II!

FORA INVASORES! A COMUNIDADE DE CAETANOS DE CIMA É DE QUEM NELA VIVE!

Caetanos de Cima, que faz parte do Assentamento Sabiaguaba localizado no município de Amontada, Ceará, é uma comunidade tradicional de pescadores artesanais, marisqueiras e agricultores/as camponeses. Assim como outras comunidades da zona costeira, Caetanos de Cima tem frequentemente o seu território atacado pela especulação imobiliária para projetos turísticos que não respeitam de forma alguma a vida das comunidades nativas.

Em torno de maio de 2021, a história se repete com a invasão e cercamento de uma gleba de terra de aproximadamente 15 hectares dentro do território da comunidade. Um espaço que tem uso coletivo para a comunidade, que nunca precisou de cercas, foi invadido por uma família que está aliada com um grande especulador imobiliário da região. Uma área de dunas, cascudos, trilhas do turismo comunitário de Caetanos de Cima, lagoas e também um espaço para a secagem das águas marinhas. Tudo isso cercado por rolos de arame farpado. Uma terra que nunca precisou ter um só dono, servia a todos da comunidade por gerações e gerações. De maneira falsa e descarada, os invasores alegam que esta terra seja chamada Poço Velho, construindo uma narrativa de preservação ambiental e uma vida comunitária onde eles não moram nem moravam. Poço Velho, verdadeiramente, fica bastante a leste da comunidade. Totalmente diferente do que estão alegando.

Mas como diz a canção, o risco que corre o pau corre o machado. Caetanos de Cima é uma comunidade exemplar em resistência popular contra os projetos que querem ceifar seu território. Essa combatividade é o que formou a comunidade, a resposta não poderia ser outra do que avançar para a retomada do que sempre foi seu. A associação da comunidade, formada nesta gestão principalmente por jovens mulheres, traçou diversas estratégias de ação direta para reverter esta situação. Em poucos dias que esta situação veio a público, a Organização Popular Terra Liberta, filiada à FOB, fez uma visita em solidariedade para pensar ações que possam fortalecer a luta. Além de intervenções com faixas, cartazes, encaminhou-se a realização de uma cartografia do conflito, promovida por militantes da Terra Liberta. Foram produzidos mapas que mostram o que os invasores buscam esconder: os usos ancestrais que Caetanos de Cima faz da área invadida.

A Terra Liberta continua acompanhando o conflito e se dispõe lado a lado para a resistência em defesa do território de Caetanos de Cima. Defenderemos até o fim a autodeterminação dos povos, a terra para quem nela vive e trabalha, a utopia de um mundo sem as cercas da servidão, sem as leis de propriedade que roubam as terras dos pobres e impedem as ocupações nas terras dos ricos. Que possamos erguer o autogoverno, onde o povo é dono de seu próprio destino. A luta de Caetanos de Cima, assim como a de outras comunidades, é um farol que além do dever de fortalecê-lo, os permite enxergar além, para ir além do que está posto.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *