Carta de apresentação do CP-RECC/FOB de São Paulo

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    A cidade de São Paulo é a 7º mais populosa do mundo, sendo também a 8º maior aglomeração urbana do mundo. Uma região que se destaca internacionalmente no que se refere a economia, política e cultura, e é a cidade brasileira mais influente mundialmente. Por conta disso, costumam chamar atenção os eventos que aqui ocorrem, inclusive e melhor destacando, as manifestações políticas e sociais de diversas vertentes. O levante de junho de 2013 foi um grande exemplo da grandiosidade e influência que os movimentos sociais e políticos da cidade de São Paulo exercem em todo o país.

    Um dos problemas identificáveis na cidade de São Paulo, porém, é a predominância da social-democracia e seus sindicatos aparelhados a partidos sociais-democratas, como o PT, a CUT e a UNE, por exemplo, que exercem influência significante entre os trabalhadores e estudantes.  Assim, apesar de existirem alguns movimentos independentes e combativos, percebe-se um desfalque neste sentido, sendo poucos deles e muitas vezes pouquíssimo influentes no cenário total da cidade. Dessa forma, o combate as forças reacionárias, que estão mostrando as caras cada vez mais, também fica numa situação complicada.

   Desse modo, se torna mais do que necessário a organização classista, combativa e independente em São Paulo, tanto pela importância da cidade para o país e o mundo, quanto pelo enfrentamento às forças reacionárias e pelegas que se faz urgente, principalmente diante da atual crise econômica e política, que aprofunda ainda mais as contradições do capitalismo, quando precisa salvar os lucros da grande burguesia brasileira utilizando a classe proletária como escudo e escada, para se proteger e para continuar em cima na pirâmide social. Isto se evidencia nas reformas neoliberais propostas pelo atual governo do PMDB de Michel Temer (2018), mas que já apareceram ainda no governo Lula e Dilma, do PT. Esta organização deve se opor tanto a social-democracia, quanto ao neoliberalismo, já que ambos prejudicam a classe trabalhadora e seus filhos, e surgir como uma alternativa realmente revolucionária.

    Diante desse cenário político e social, compreendemos a urgência da organização do Comitê de Propaganda da RECC (Rede Estudantil Classista e Combativa) na cidade de São Paulo, pois a educação não está a parte da totalidade da sociedade e reflete em muito as desigualdades e opressões, ocasionando a perpetuação do status quo, e também reflete a estrutura burocrática dos sindicatos e entidades estudantis, totalmente distantes das bases, jogando com os interesses e demandas da classe trabalhadora e dos estudantes da classe trabalhadora.

    A RECC, neste, sentido, surge como uma alternativa, inicialmente atuando em uma universidade privada, em que muitos estudantes vêm de famílias da classe trabalhadora, muitos são bolsistas e quando não são, trabalham para poder pagar as mensalidades abusivas que aumentam a cada ano. Os ataques neoliberais já chegaram e estão prejudicando alunos, professores e funcionários. Como por exemplo, os cortes de salários de professores, aulas em EaD (Educação à Distância) sendo ministradas por profissionais que não são especialistas na área, quando as propagandas desta universidade divulgam que todos os professores têm mestrado e doutorado. A infraestrutura é precária, muitas vezes a internet não funciona e o professor não consegue dar a aula preparada. O DCE da universidade é tão burocrático que os alunos não conhecem e não sabem identificar quem são os responsáveis, além da repressão e perseguição de estudantes que tentam enfrentar a estrutura da universidade. Entendemos a universidade privada como uma prestadora de serviços, que está mais interessada em garantir seus lucros, na contramão da educação de qualidade. Portanto, uma atuação preparada e combativa irá conseguir garantir minimamente os direitos dos alunos, pretendendo também avançar para fora da universidade, organizando estudantes de diversas localidades, universidades (públicas e particulares) e escolas na cidade de São Paulo.

    Inicialmente, também atuará numa escola pública estadual de periferia, que é totalmente desvalorizada e abandonada pelo Estado, sendo sua estrutura e funcionamento, reflexo imediato da política neoliberal, que forma mão de obra para o trabalho técnico e alienado, deixando de lado a formação completa dos estudantes. No que diz respeito a gestão escolar nesta instituição, nota-se posicionamentos totalmente antidemocráticos, as decisões são tomadas de cima para baixo, sendo os estudantes os últimos a saberem de tudo, assim como toda a comunidade escolar, ou seja, a gestão democrática não é colocada em prática. Os professores estão desunidos e isso interfere no consenso de aderir ou não as greves dos professores do Estado de São Paulo. Também é importante mencionar que a estrutura física da escola é precária e os alunos do período noturno não têm acesso às salas como a biblioteca e o laboratório de informática, por exemplo. Nesta escola, o grêmio estudantil existe, porém, é quase inteiramente submisso à hierarquia escolar, sendo regulado o que se pode ou não fazer, muitas vezes não conseguindo avançar em projetos importantes para os alunos, restando apenas propostas rasas. Assim, uma organização combativa e preparada teoricamente, vai em oposição ao grêmio que é submisso com o objetivo de organizar politicamente os alunos para garantir direitos fundamentais e expandir para toda a comunidade escolar.

    Por fim, a RECC (Rede Estudantil Classista e Combativa) iniciará sua atuação como Comitê de Propaganda, que visa a organização de estudantes da classe trabalhadora, adotando alguns princípios importantes que devem ser salientados, são eles:

  • AÇÃO DIRETA: É o princípio que defende que para conquistar direitos e alcançar mudanças, os estudantes e os trabalhadores devem tomar o destino em suas mãos. Ou seja, a luta deve ocorrer através de protestos, ocupações, greves, etc. É uma oposição a meios indiretos, tais como a eleição de representantes políticos nos governos, que prometem soluções para uma data posterior, ou depositar ilusões no sistema jurídico. Portanto, ação direta não quer dizer, necessariamente, ação violenta, e sim o povo sendo agente das próprias mudanças.

 

  • AUTONOMIA FRENTE A PARTIDOS E GOVERNOS: O vínculo com o governo traz junto à necessidade de defendê-lo em troca de cargos e benefícios. Mesmo quando os governos estão aplicando medidas que prejudicam a vida da população, vemos que os movimentos estudantis “governistas” deixam em segundo plano as reivindicações estudantis. Para garantir que nossos objetivos sejam atendidos, não podemos nos vincular a nenhum governo, afinal o governo costuma ter um lado, que não é o nosso. Quando se defende autonomia também frente a partidos, isso se dá pelo fato de os partidos que temos atualmente são “eleitoreiros”, isto é, buscam entrar no governo a qualquer custo e pela experiência podemos ver que aqueles que entram no governo costumam ter medidas bem parecidas com todos os outros anteriores. Muda-se o discurso, mas a prática é a mesma.

 

  • ANTI-GOVERNISMO: Quando falamos da importância de ser antigovernista estamos defendendo que além de mantermos a autonomia frente aos governos, devemos lutar contra ele, mesmo que se diga de “esquerda”. Isso foi algo que não aconteceu com a UNE que defende o governo do PT desde 2002, recebendo verba até para a realização dos seus congressos. O “governismo estudantil” da UNE e da UBES deve ser criticado e combatido, pois atrapalha e trai a luta dos estudantes.

 

  • ANTIRREFORMISMO: O sistema capitalista é um sistema baseado na opressão e na desigualdade, sem ricos e pobres o sistema capitalista acaba. Sendo assim, se quisermos o fim das desigualdades não temos que lutar simplesmente para reformar o sistema capitalista, mas sim lutar para que ele acabe.

 

  • DEMOCRACIA DE BASE: Hoje existe uma prática burocrática (antidemocrática) de grupos e partidos que dominam algumas organizações estudantis. Nós acreditamos que as organizações devem tomar decisões de baixo para cima, e não o contrário. Defender isso quer dizer que os estudantes devem ter maior poder de decisão do que a diretoria do Grêmio ou de uma entidade. A diretoria do Grêmio e outras entidades representativas não devem nunca colocar seus interesses acima dos interesses dos estudantes. Na democracia de base, as assembleias são a instância superior de um Grêmio Estudantil.

 

  • CLASSISMO: Acreditamos que a sociedade é dividida em classes, de um lado temos os capitalistas (os donos de grandes empresas, de grandes propriedades de terra, donos dos bancos) que têm interesses diferentes da outra classe, a classe trabalhadora (composta pela maioria da população que trabalha diariamente para tirar seu sustento ou que está desempregada). Os trabalhadores, apesar de tudo produzirem, ficam com uma pequena parcela da riqueza. Sendo assim, acreditamos que os estudantes que fazem parte da classe trabalhadora devem se organizar e lutar junto dessa classe. A vitória dela será a sua e vice-versa.

    Com base nesses princípios, a RECC compreende a luta da mulher como a luta da classe trabalhadora e também o contrário. Historicamente oprimida pela estrutura patriarcal e pela ideologia machista, a mulher sofre no dia-a-dia, inúmeras violências, como por exemplo, a violência física, psicológica, emocional, patrimonial, entre outras. A taxa de feminicídio no Brasil é a quinta maior do mundo. [1]  Portanto, se faz necessário inclusive, colocar a luta da mulher como parte da luta contra o sistema capitalista-patriarcal, se opondo ao feminismo liberal e burguês, que não compreende a questão de classe, propondo que todas as mulheres se unam independente de sua posição social. Sabemos que, a mulher burguesa, assim como o homem burguês oprime a mulher e o homem da classe trabalhadora, então, não há razões para que as mulheres do povo se unam as mulheres burguesas na luta contra a opressão.

    Também se compreende a luta do movimento negro como parte da luta contra o sistema capitalista e supremacista branco. A história nos mostra como o povo negro sofreu com a escravidão na época da colonização portuguesa e a realidade nos mostra como ainda persiste a opressão racista contra os negros e as negras no Brasil, sendo ela estrutural do sistema capitalista em sua forma atual e intrínseca ao Estado burguês. O genocídio do povo negro avança numa velocidade brutal, de 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras. [2]

    Visto isso, acreditamos que a estrutura patriarcal e supremacista branca atinge diretamente a população mais pobre, e que se faz necessário que essas parcelas da sociedade, que são maioria numérica e minoria em questão de direitos, se organizem em movimentos combativos, a fim de garantir minimamente seus direitos sociais e políticos, como condições mínimas para sobreviverem, e assim, poderem lutar pela superação da sociedade capitalista, patriarcal e racista. Neste sentido, de imediato, propomos comitês de autodefesa para populações mais vulneráveis, como as mulheres, negros e a população LGBT+ para garantir sua sobrevivência. Porém, autodefesa não apenas no sentido físico, de confronto direto, mas também no sentido político, munindo os mais oprimidos de teoria que embasem suas ações práticas.

    É importante frisar que a RECC não faz recorte ideológico, tem como modelo estratégico, organizativo e programático o Sindicalismo Revolucionário, podendo ingressar marxistas, anarquistas ou estudantes que apenas se identifiquem com os princípios da organização. Não é feito recorte religioso, de gênero e étnico-racial, prezando e considerando a diversidade dos estudantes da classe trabalhadora. 

    O Comitê de Propaganda da RECC em São Paulo convida a todos os estudantes comprometidos com as causas da classe trabalhadora a nos conhecer e compor conosco um movimento que visa construir uma educação de qualidade do povo e para o povo, a serviço da classe trabalhadora.

Avante os estudantes da classe trabalhadora!

Avante os estudantes revolucionários!

Avante a Rede Estudantil Classista e Combativa!

 E-mail para contato: cprecc-sp@protonmail.com

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