Entrevista com trabalhador dos Correios em greve

Entrevista com trabalhador dos Correios em greve

Por RMC-RJ

Os trabalhadores e trabalhadoras da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), ou simplesmente Correios, deflagraram greve nacional dos ecetistas, como são conhecidos aqueles e aquelas que trabalham na ECT.

Durante a pandemia, os ecetistas têm sofrido com aumento da precarização, trabalhando sobrecarregados e expostos ao coronavírus, sob negligência dos gestores da empresa. No começo de agosto, uma grande quantidade de direitos trabalhistas conquistados há anos foram cortados, como anuênio, vale-alimentação, licença-maternidade de 180 dias, creche, auxílio morte e o pagamento de 30% de adicional de risco.

Esse ataque aos direitos da categoria é mais uma estratégia de avançar para a privatização.

A Rede de Mídia Classista entrevistou um ecetista que trabalha na cidade do Rio de Janeiro. Seu nome será mantido em sigilo para protegê-lo de possíveis perseguições.

RMC: Quais são as reivindicações do movimento grevista?

Trabalhador dos Correios: A nossa principal reivindicação é a defesa dos Correios como empresa pública, isto é, contra a privatização, e a manutenção do nosso acordo que tinha validade de dois anos. A empresa de forma arbitrária queria tirar 70 cláusulas o que traria enormes prejuízos aos trabalhadores.

RMC: A categoria está aderindo à greve?

Trabalhador dos Correios: O sindicato diz que 80% parou, a empresa diz que só 20% parou. Vou falar pelo que vejo, vi gente que nunca fez greve aderir a essa, onde trabalho cerca de 60% do efetivo parou e tem unidade que não tem ninguém trabalhando, só gerente e superiores. No máximo acontece de ter um motociclista ou um funcionário. A adesão está bem forte.

RMC: Como é a organização na base dos ecetistas?

Trabalhador dos Correios: Essa é a crítica que eu faço à direção do Sindicato dos Correios do Rio de Janeiro, controlada pelo PCdoB. Eles querem mobilizar a categoria, mas não aparecem na unidade, dialoga no cotidiano do trabalho. Porque o Sindicato tem direito a pegar uma hora para fazer uma reunião com os trabalhadores. Mas eles nunca aparecem. Na minha unidade de trabalho, a gente já falou várias vezes com a direção do Sindicato para usar esse tempo, fazer uma formação política, mas não aproveitam. Depois reclamam que tem trabalhadores dos Correios bolsonaristas. A direção do Sindicato não aparece nem para passar um informe.

A direção só aparece quando cobramos essa presença. Temos que ligar para a vice-presidência do Sindicato para aparecer alguém.

RMC: Quais as condições de trabalho nos Correios?

Trabalhador dos Correios: Como sempre muito precárias. Falta limpeza, material de trabalho, uniforme (se eu não comprar meias eu fico sem!), e principalmente, faltam trabalhadores e trabalhadoras. Não tem concursos. Quem está trabalhando fica muito sobrecarregado.

RMC: Como está sendo trabalhar durante a pandemia?

Trabalhador dos Correios: Muito ruim. As gerências ficam nos jogando de um lugar para outro tentando tapar o sol com a peneira! No fim das contas nada é resolvido e nós ficamos extremamente cansados de tentar fazer o trabalho que seria de 2 ou mais funcionários.

Ficamos muito expostos à contaminação pela Covid-19. Só na minha unidade dois companheiros de trabalho contraíram a doença.

E a revolta é essa: no momento que estamos colocando nossas vidas em risco, a empresa retira direitos nossos.

RMC: Como serviço essencial vocês não deveriam receber melhores salários e indenizações?

Trabalhador dos Correios: Acho que sim, mas nem o que é do nosso direito eles querem pagar. Querem inclusive tirar o adicional de risco que recebemos.

RMC: Como está o projeto de privatização dos Correios?

Trabalhador dos Correios: Nem o governo nem a presidência dos Correios são transparentes a respeito disso… O que sei é o seguinte, a muito tempo a empresa vem sendo sucateada com esse fim, desde 2011 não temos concurso os equipamentos são precários e ainda há muito assédio moral na empresa. Acho muita covardia o que fazem com os ecetistas pois os maiores interessados na privatização são políticos e os cargos mais altos da ECT são cargos políticos! Colocaram a raposa para tomar conta do galinheiro!

Contra os cortes dos direitos trabalhistas, por melhores condições de trabalho e contra a privatização dos Correios!

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