Comunicado da Secretaria Internacional da FOB, 08 de outubro de 2023
Essa semana o governo Lula contribuiu mais uma vez para silenciar o povo através da máquina de guerra do Estado burguês. Na segunda-feira, dia 2 de outubro, após o Brasil assumir a presidência do Conselho de Segurança da ONU, foi aprovada a nova intervenção militar internacional no Haiti, promovida pela agenda política do governo Lula, numa reeditando da MINUSTAH (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti, 2004-2017).
A MINUSTAH foi liderada por Lula no seu primeiro governo, atendendo, de um lado, aos interesses imperialistas estadunidenses, e, de outro lado, sendo parte da política subimperialista do programa petista. Porém, seus resultados foram as incontáveis mortes, estupros, entre eles centenas de crianças, violações institucionalizadas de direitos humanos, propagação de uma epidemia de cólera, abuso psicológico racista e torturas por parte das tropas enviadas pela ONU.
As tropas imperialistas da ONU contaram com quase 40 mil soldados das Forças Armadas brasileiras. Apesar da devastação promovida pelas operações, nunca houve um reconhecimento oficial por parte dos governos Lula, Dilma e Temer, dos graves crimes cometidos, e não só isso, como a impunidade total dos militares genocidas.
Agora, o projeto da nova intervenção aprovado será liderado pelo Quênia, quem teoricamente enviará mil militares, porém o treinamento da polícia genocida haitiana será comandado e executado por militares brasileiros, que como sabemos, tem um excelente treinamento em exterminar e violentar a população preta de forma institucionalizada e massiva.
“O genocídio é o Haiti! O genocídio é aqui!”
O genocídio promovido pelas tropas imperialistas lideradas pelos militares brasileiros não demorou para ter grandes repercussões. O governo Lula designou em 2004 o General Augusto Heleno, conhecido pela sua defesa da Ditadura de 1964 e que iria se notabilizar como um dos principais defensores do governo Bolsonaro como Ministro do Gabinete de Segurança Institucional.
O General Heleno foi o responsável pela Operação Punho de Ferro, em julho de 2005, no bairro Cité Soleil, localizado na capital haitiana, Porto Príncipe. Sob o comando do General Heleno, as tropas imperialistas dispararam mias de 20 mil tiros de fuzil contra uma população civil desarmada, mais de 70 pessoas foram executadas, entre as vítimas estavam incluindo mulheres e crianças. A operação foi denunciada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e, somente em setembro de 2005, depois de muita pressão internacional, o governo Lula resolveu afastá-lo.
Mesmo com esse histórico de violência genocida no Haiti, o governo Lula convocou, no final de 2007, tropas militares que haviam retornado da intervenção imperialista para fazer a segurança do Projeto Cimento Social, do então senador Marcelo Crivella, bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, no Morro da Providência, localizado no Centro do Rio de Janeiro, região da Pequena África, uma das primeiras favelas da cidade. Em junho de 2008, esses militares prenderam três jovens da Providência e os entregaram para uma facção rival do morro vizinho, Morro da Coroa, que os executaram.
As operações militares brasileiras no Haiti, foram essenciais para aplicar em larga escala o que já se estava fazendo no Brasil, porém serviram de grande experiência para que esses mesmos militares voltassem e se comprometessem em aplicar essa violência de Estado no Brasil.
A MINUSTAH serviu imensamente para apresentar o Brasil como uma potência militar internacional e legitimar sua estratégia política através da Internacionalização do seu projeto de Estado: o racismo sistematizado e organizado em políticas de violência, repressão e extermínio do povo preto. Depois da missão, o número de milícias e gangues aumentaram muito junto com a dor e a revolta, produzindo tenebrosos.
O colonialismo e o imperialismo contra o povo haitiano
O atual presidente do Haiti, Ariel Henry, pediu ajuda aos EUA e a ONU para contornar a complicada situação politica do país, mas ele mesmo não foi legitimamente eleito e é um dos principais suspeitos do assassinato do antigo presidente, que ocorreu 48 horas depois de ter sido proclamado primeiro ministro. Depois de um tempo desde o pedido inicial de ajuda, bastou o apoio do governo brasileiro para que pudesse ser aprovado.
O Governo Lula sabe a importância de contribuir para a manutenção do poder das grandes potências. Desde 2004, ele tem grande interesse em promover reformas no Conselho para que o Brasil pudesse fazer parte dos países fixos, que na prática, é quem tem poder de veto, que são 5 ( EUA, França, Inglaterra, China e Rússia). Ao contrário da Guerra na Ucrânia os 5 + os 10 países rotatórios parecem ser quase unânimes no uso da violência militar para reprimir o povo haitiano.
Desde a revolução haitiana em 1791, sua população é alvo de grandes esforços racistas, colonialistas e imperialistas para silenciá-los, impossibilitando a organização popular combativa e interferindo na política nacional com representantes aliados dos exploradores internacionais. O Haiti foi o primeiro país latino a se tornar independente, o primeiro a abolir a escravidão e o único a conquistar a independência através da organização revolucionária massiva de pessoas escravizadas.
Em 1915, o governo americano invadiu o país com o mesmo pretexto de promoção de paz e de quitação de uma dívida externa produzida pelas ditaduras, o que levou 19 anos de intensa exploração, até sua retirada em 1934. Nesse período, 40% da arrecadação interna era direcionada diretamente aos EUA, quem controlava as fronteiras e portos de todo o país, além dos bancos. Fora isso, a execução de obras públicas com objetivos bélicos e exploratórios foram, em sua maioria, feitas por haitianos escravizados pelos estadunidenses nesse tempo. Além da segregação racial, abuso psicológico, institucionalização do racismo e a eleição de representantes de governo vinculados aos militares estadunidenses. Esse contexto levou a um período intenso de revoltas que se prolongaram no país. Em 35 anos o Haiti teve 20 governos e estes depois de uma dinastia ditatorial.
A situação política do Haiti é consequência do esforço inicial organizado das potências mundiais de exterminar os ideais combativos fruto da Revolução.
O Governo Lula não está e nunca estará a serviço do povo, porque é a função do Estado nos silenciar para que ele possa existir. Mas para silenciar um povo é necessário nos desorganizar, impor guerra a nós e garantir paz entre os senhores, por isso a autodefesa popular e a organização revolucionária é a nossa única saída
One thought on “Não à intervenção imperialista no Haiti”