Pelo direito à vida! Pelos direitos das mulheres! Contra a hipocrisia religiosa!

Pelo direito à vida! Pelos direitos das mulheres! Contra a hipocrisia religiosa!

Por SIGA-RJ

Presenciamos no domingo, dia 16 de agosto, uma manifestação de ódio e intolerância sendo hipocritamente justificada em nome de valores morais e religiosos. Estamos nos referindo ao ato contrário à interrupção da gestação de uma criança de apenas dez anos, estuprada por seu tio desde os seis anos, que estava sendo atendida no Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam), na cidade do Recife.

Os manifestantes reacionários foram liderados por políticos de extrema direita, cuja plataforma política é sustentada pelos currais eleitorais de igrejas cristãs, os deputados estaduais Clarissa Tércio (PSC), Joel da Harpa (PP) e Cleiton Collins (PP), e os vereadores Renato Antunes (PSC) e Michelle Collins (PP).

A ação da militância de extrema direita irresponsável e criminosa começou com a divulgação do destino da menina pela ativista já bolsonarista Sara Winter, que expôs  nas redes sociais o nome da vítima, a cidade onde vive, o hospital onde seria atendida e o nome do médico que realizaria o procedimento. Essas informações eram sigilosas, pois se trata e uma menor de idade. Youtube, Instagram e Twitter foram coniventes com a ação e, mais interessados em garantir acessos do que na proteção da criança, optaram, mais uma vez, por servir de palanque para os discursos fascistas.

Hipocritamente, o discurso de ódio não se voltou contra o estuprador, em nenhum momento os reacionários dirigiram seu fanatismo religioso ao agressor. Sob o discurso de “defesa da vida”, a que menos importa é a vida da vítima que foi exposta física e emocionalmente.

O caso da criança grávida vítima de estupro ficou conhecido quando um hospital de referência da cidade de Vitória se recusou a interromper a gravidez, mesmo com a legislação vigente amparando o aborto. O chamado aborto legal ocorre nos casos de estupro, de risco à vida da mãe e de anencefalia no bebê. Para garantir esse direito, a Promotoria da Infância e da Juventude de São Mateus e da Secretaria Estadual de Saúde foram obrigadas a transferir a menina em companhia da avó para o Cisam.
Em oposição aos reacionários e à hipocrisia religiosa, coletivos feministas e de defesa dos diretos reprodutivos manifestaram solidariedade à criança vítima do estupro e aos seus familiares. Denunciaram o ódio e a intolerância da militância de extrema direita, que ofenderam os profissionais de saúde do Cisam chamando-os de assassinos.

Naturalização da violência contra a mulher e a cultura do estupro

No ano passado, segundo informações do Governo Federal, 17 mil crianças e adolescentes foram vítimas de violência sexual, o que correspondeu a 11% dos 159 mil registros feitos pelos órgãos governamentais em 2019. Em 73% dos casos, o abuso sexual ocorre na casa da própria vítima ou do suspeito. Os pais ou padrastos aparecem como os abusadores em 40% das denúncias. Em 87% dos casos os suspeitos são do sexo masculino. Segundo dados do Fórum de Segurança Pública, entre 2017 e 2018, quatro meninas de até 13 anos foram estupradas a cada hora no país.

Mas nossa experiência na luta das mulheres contra a violência machista misógina, mostra que esses números, apesar de assustadores e revoltantes, são subnotificados. As vítimas ficam presas num ambiente de medo e vergonha, e os criminosos são protegidos por uma estrutura patriarcal permissiva que, pela cultura do estupro, culpa a vítima.

Em defesa da vida das mulheres e de seus direitos reprodutivos!       
Não nos calaremos!

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