Organizar a luta dos estudantes pela base, vencer o imobilismo e se posicionar frente às necessidades do movimento estudantil e das lutas sociais
O Centro Acadêmico de Geografia, espaço de construção coletiva para a luta e organização estudantil, têm sofrido com o imobilismo e prevalecido a desorganização dos estudantes. Há alguns anos o problema tem sido percebido por alguns do nosso meio, e mesmo assim, poucas iniciativas foram tomadas para mudar essa realidade. Nossa situação de desorganização se aprofundou com a pandemia e as medidas de contenção à doença covid-19, como o regime de ensino remoto adotado. O isolamento social impossibilitou o encontro dos estudantes no Centro Acadêmico, lugar onde nossas trocas de experiência, lazer, conhecimento e luta tomam forma. Os meios virtuais tornaram-se a alternativa para essas atividades, que não podiam se realizar plenamente.
Em abril de 2021, ocorreu a última eleição para a gestão do CAGEA, com chapa única, formada em última hora por um grupo de estudantes pouco ou nada experientes na militância do movimento estudantil ou em outros movimentos sociais de massa. Essa característica se refletiu nas dificuldades de alinhamento político, e na falta de estratégia para a mobilização dos estudantes frente às lutas. Mesmo nas atividades básicas para a organização estudantil, como a realização das assembleias, e o cumprimento das funções de cada pasta, a gestão não conseguiu ser coesa e incentivar a participação dos estudantes. Mas o problema da organização e da mobilização está longe de ser uma exclusividade do CAGEA.
Desde o início do atual governo acompanhamos uma retração dos movimentos sociais na formação e ocupação dos espaços políticos e no enfrentamento aos ataques que o povo brasileiro tem sofrido. Seja por meio dos desmontes da política ambiental, nos ataques a educação através dos cortes, da militarização e das reformas; seja pelo genocídio da população negra, jovem, indígena e que há anos é financiada pelas elites econômicas e políticas do Brasil, e nem mesmo perante a descarada política contra a saúde da população, a qual ceifou as vidas de mais de 600 mil brasileiros, e desalentou uma porção ainda maior devido as suas perdas. Nem os partidos de esquerda, nem movimentos sociais conseguiram grandes resultados na oposição, respondendo a tantos desses e outros ataques.
As manifestações/atos/protestos de rua em 2020 foram protagonizadas principalmente por Torcidas Organizadas e organizações autônomas, que foram às ruas em protestos antirracistas e denunciando o genocídio da população negra no Brasil. Tais manifestações sofreram com a desmobilização protagonizada por partidos e os setores reformistas. Em 2021, os protestos que se seguiram pela articulação da esquerda institucional, organizada em partidos como PSOL, PCdoB, PSB, PT, PCO, REDE e UP e movimentos sociais vinculados a esses partidos, não passaram da prática comum de suas manifestações: uma marcha na Esplanada dos Ministérios com falas cansativas e repetitivas de parlamentares e algumas lideranças de seus movimentos, enquanto a massa dos participantes se dispersava e decretava o fim das manifestações. Outra característica dessas manifestações foram os acordos feitos entre organizadores e a Polícia Militar do Distrito Federal, negociando as revistas policiais aos manifestantes.
As dezenas de pedidos para o impedimento do governo Bolsonaro submetidos por esses partidos e associações também não lograram êxito. O que vimos foi a estratégia de publicizar as polêmicas e notícias das crises institucionais, ação que pouco surtiu efeito. O papel de oposição fadou-se. Com as ruas vazias, o “fora Bolsonaro” desde cedo serviu como meio para promover partidos e políticos que se candidatarão às eleições de 2022, usando todo cenário de morte, desmonte e ataques como trampolim eleitoral.
Devido a essas e outras causas, é urgente a nossa mobilização enquanto corpo estudantil, construindo o enfrentamento direto às políticas que intentam contra os direitos dos estudantes e do povo brasileiro. A nossa resposta a esses ataques que se constroem em todos os níveis das esferas governamentais, as quais estamos submetidos, deve ser construída desde a base, e cotidianamente. É ingenuidade acreditar que as eleições mudarão o quadro brasileiro, enquanto as elites se sustentam e os políticos fazem suas alianças com algozes do povo.
Convidamos as estudantes e os estudantes do Centro Acadêmico de Geografia e de toda a Universidade de Brasília a construir o coletivo Ação Direta Estudantil sob os princípios da democracia de base, a ação direta, o apoio mútuo, a antidiscriminação e combatividade, e a autonomia. Acreditamos que só a luta do povo pelo povo nos fará alcançar soluções concretas. Nossa solidariedade às lutas sociais dos trabalhadores do campo e da cidade, e dos estudantes do povo.
PARTICIPE DO DEBATE “15 ANOS DE ORGANIZAÇÃO ESTUDANTIL COMBATIVA NA UNB E AS LUTAS ATUAIS”, NO DIA DO ESTUDANTE COMBATIVO, 28 DE MARÇO, ÀS 10H, NO CAGEA (UnB, ALA NORTE DO ICC), SAIBA MAIS AQUI!